Entrevistas

Dr. João Ramos do “Diga Doutor”: “Hoje em dia ter um seguro de saúde é para mim considerado um bem fundamental”

Estivemos à conversa com Dr. João Ramos, apresentador do programa "Diga Doutor" da RTP1, para falar sobre o stress financeiro e outros temas.

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Dr. João Ramos do “Diga Doutor”: “Hoje em dia ter um seguro de saúde é para mim considerado um bem fundamental”

Estivemos à conversa com Dr. João Ramos, apresentador do programa "Diga Doutor" da RTP1, para falar sobre o stress financeiro e outros temas.

O Dr. João Ramos é Médico de Família e apresentador do programa da RTP1, "Diga Doutor". Estivemos à conversa com ele sobre o stress financeiro e como este afecta a saúde das famílias portuguesas. 

O Dr. João Ramos é uma cara que certamente reconhecerá. Formado em Medicina, com especialidade em Medicina Geral e Familiar, o Dr. João Ramos apresenta o programa “Diga Doutor”, na RTP1. Desde 2007 que tem trabalhado em centros de saúde e hospitais e para além do seu próprio programa, participa ainda na rubrica “Médico de Família” do programa "Agora Nós".

O Doutor Finanças falou com o Dr. João Ramos e, entre outras coisas, procurou saber o impacto das finanças na saúde física das famílias, os sintomas escondidos da doença financeira, bem como os cuidados que uma pessoa deve ter com a saúde quando está numa situação de vulnerabilidade económica.

dr joao ramos medico de familia

O que acontece é que as pessoas trazem já várias queixas ao mesmo tempo e misturadas, mas sim já recebi casos em que as pessoas tiveram de mudar o estilo de vida porque não tinham dinheiro para tudo. Têm de fazer concessões, em vez de irem ao ginásio, em vez de pagar uma mensalidade vão fazer caminhadas ao ar livre ou andar de bicicleta.

A crise financeira que se fez sentir nos últimos anos deixou marca na saúde dos portugueses? Sentiu isso enquanto médico?

Para ser sincero não. Senti alguma preocupação das pessoas em relação à crise, mas na minha prática diária isso não se manifestou, porque as consultas mantiveram-se num padrão habitual.

Por vários motivos, ou porque as pessoas têm seguro de saúde e continuaram a ter e porque há pessoas que têm benefícios que tornam as consultas mais baratas, como por exemplo a ADSE. Como na maior parte dos sítios onde eu trabalho as instituições têm essas convenções, isso faz com que as pessoas continuem a vir com a tal regularidade que é suposta ao médico de família.

Mas o stress financeiro pode manifestar-se na saúde das famílias?

Completamente. Eu sou médico de família, por isso tenho uma visão mais familiar. Há outros médicos que se calhar têm uma perspectiva mais pessoal. Nós como médicos de família sabemos que a estrutura familiar às vezes é muito pesada e qualquer stress obviamente pode potenciar o stress financeiro.

Pessoas que já tenham tendência para ser muito ansiosas, que tenham até doenças psiquiátricas como doença bipolar, depressão e por aí fora, pioram, descompensam ou até coisas bem mais simples como as pessoas começarem com insónias, começarem com sintomas gástricos, que às vezes não associam logo ao que é o motivo.

A pessoa que vai para a cama todos os dias a pensar que as contas são mensais e que basta haver um desvio no padrão e naquilo que as pessoas têm como rendimento e isso é uma fonte adicional de stress e essa fonte adicional de stress contribui para doença ou para sintomas.

Recebeu algum caso em que as finanças estivessem a afectar a saúde geral da família?

Sim. O que acontece é que as pessoas trazem já várias queixas ao mesmo tempo e misturadas, mas sim já recebi casos em que as pessoas tiveram de mudar o estilo de vida porque não tinham dinheiro para tudo. Têm de fazer concessões, em vez de irem ao ginásio, em vez de pagar uma mensalidade vão fazer caminhadas ao ar livre ou andar de bicicleta.

Portanto, isso é uma alteração e um exemplo que me estou a lembrar, há outros. Por exemplo, deixarem de ir comer tantas vezes fora que é o clássico, deixaram de ir ao cinema tantas vezes por ano e essas coisas as pessoas partilham com o seu médico de família muitas vezes.

Para quem não esteja em situação de vulnerabilidade económica recomenda que se mantenha o seguro de saúde tendo em conta o panorama económico atual?

Sim, hoje em dia eu recomendo a todas as pessoas, mesmo os jovens, a fazerem um seguro de saúde, ainda que seja o mais básico. Às vezes espanta-me como é que as pessoas até de classe média alta ainda não têm.

Só quando acontece uma desgraça ou quando se vêm na perspectiva de precisarem de um exame mais caro, como uma ressonância magnética ou até uma eventual cirurgia é que as as pessoas se apercebem que não têm seguro de saúde.

Hoje em dia ter um seguro de saúde para os filhos e para a pessoa é para mim considerado um bem fundamental, porque infelizmente o Serviço Nacional de Saúde tem muitas limitações. Mesmo na Grande Lisboa, infelizmente há muita falta de médicos e não há o seguimento que nós queríamos que fosse o ideal, porque muitas vezes a pessoa faz exames e faz análises, que daqui a um mês, vão ser visto por outro médico e não há uma perspectiva de continuidade. Também há centros de saúde e há pessoas que conseguem ter durante muitos anos o mesmo médico de família, mas isso cada vez é mais utópico.

Não é a maioria...

E estamos a falar do que nós conhecemos. Se formos para os meios mais interiores e onde as pessoas têm menos acesso à saúde, é bem mais complicado. Há regiões de Portugal que não têm psiquiatra ou que não têm oftalmologista. As pessoas têm que andar quilómetros e quilómetros para irem ao hospital e isso não se passa aqui em Lisboa.

entrevista do diga o doutor na televisão

Do ponto de vista pessoal, como faz o seu orçamento? Tem alguma preocupação em especial?

Sim, tenho. Tenho porque tenho três filhos e quem tem três filhos tem que inevitavelmente ter preocupação com os custos mensais. Eu não gosto muito de finanças nem de burocracia, tento manter-me o mais afastado disso possível, então delego. Delego a quem? À minha mulher e à minha contabilista, que me ajudam nesta gestão.

Essa ajuda é fundamental…

É, porque eu sou muito “despassarado”, muito aéreo e os médicos, por norma, não gostam de papelada, não gostam de burocracia.

Se encontrasse uma nota de 500 euros o que faria com esse valor?

Guardava. Esta resposta foi a minha mulher que disse para responder.

E porque é que ela guardava?

Ela guardava porque ela é inteligente e guardava porque há coisas que acontecem. Amanhã acontece um acidente no carro, a eventualidade de precisarmos de uma ressonância magnética que em portugal são, penso eu, 370 euros, no particular. Basta termos um gasto extra que não estava previsto, imaginem nem que seja uma multa de trânsito.

Às vezes, há coisas assim que caem fora  do orçamento mensal. Se de repente quem nos paga também se atrasa (e eu sei que há várias empresas que são más pagadoras e não pagam a tempo), basta um atraso de duas semanas para as pessoas terem o seu orçamento estragado.

Essa nota de 500 euros poderia fazer a diferença no pagamento de uma prestação que fosse obrigatória pagar, então o guardar seria inteligente. Se a pessoa encontrou não estava a contar com isso. Eu ia responder de outra forma, mas em tom de brincadeira, que era “se eu encontrasse uma nota de 500 acrescentava-lhe um zero à frente”, mas acho que guardar seria uma atitude inteligente.

Que extravagância faria se lhe saísse o euromilhões?

Compraria o relógio dos meus sonhos, compraria o carro dos meus sonhos, depois permitia à minha família mais chegada cumprirem alguns sonhos melhorava a qualidade de vida no geral da família mais chegada. Viajava mais e teria mais tempo, porque iria trabalhar menos, de qualidade com a minha família e com os meus filhos.

Que conselhos pode dar a quem está em situação de vulnerabilidade económica, para que isso possa minimizar o impacto na saúde das pessoas?

Consultassem o Doutor Finanças. (risos) É muito importante essas pessoas terem ou fazerem por ter um apoio familiar, ou seja, partilharem essa situação de preocupação com quem está mais à mão.

Idealmente será sempre a família mais chegada, depende das idades das pessoas, mas temos sempre um pai, um tio, um irmão ou irmã, pelo menos para partilhar essa preocupação.

Depois temos sempre os cuidados de saúde, se a pessoa tiver um médico de família que já conhece há algum tempo, e voltamos ao tema central que é a minha paixão, a Medicina Geral e Familiar , estas questões são todas para o médico de família. Como eu costumo dizer a brincar, quando morre o cãozinho ou gato, para nós é importante enquanto médicos de família. Tudo o que diz respeito à saúde, e se essa preocupação e essa vulnerabilidade for tema de saúde, para nós é importante.

Somos sempre psicólogos também e somos bons ouvintes. E depois há meios legais para as pessoa accionarem, como é o exemplo da segurança social, mas eu acho que é muito bom partilharem com quem está mais perto.

Em conclusão...

Aproveitamos para lhe sugerir a leitura do nosso artigo "Como poupar sem saúde sem poupar em cuidados", para que fique a conhecer algumas estratégias para poupar nos gastos em saúde sem abdicar de todos os cuidados a que tem direito. 

O Dr. João Ramos termina sempre os seus programas dizendo “Cuide de si, Cuide da sua saúde”, no Doutor Finanças acrescentaríamos "sem esquecer as suas finanças".

A informação que consta no artigo não é vinculativa e não invalida a leitura integral de documentos que suportem a matéria em causa.

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