O que significa “bear market” na bolsa de valores?

No contexto económico mundial atual, a palavra bear market regressou ao vocabulário dos investidores.

O ano de 2022 tem sido muito negativo nas principais bolsas mundiais. Assim, desde o início do ano, o S&P 500 (índice de referência nos Estados Unidos) teve uma queda de cerca de 20%, segundo análise do jornal ECO. Na Europa, a situação tem sido semelhante com o principal índice de referência (Stoxx 600) a ter uma queda superior a 15% desde o início do ano.

Este comportamento negativo nas principais bolsas mundiais, segundo os especialistas, explica-se pelos seguintes motivos:

De seguida, saiba em que consiste um bear market, bem como os principais bear markets que ocorreram ao longo da história dos mercados.

O que é um bear market?

O bear market na bolsa de valores, consiste num período de queda continuada no mercado acionista como um todo. Assim, para se considerar que estamos na presença de um bear market, os índices acionistas devem ter uma queda superior a 20% face aos seus máximos registados.

Para verificar se o mercado norte-americano está numa situação de bear market deve ser analisada a evolução do principal índice acionista (S&P 500), que agrega as 500 maiores empresas cotadas na bolsa americana. A título de exemplo, se no dia 2 janeiro 2022 o S&P 500 estivesse nos 5.000 pontos, para se considerar que o mesmo entrou em território de bear market, o mesmo deveria cair para baixo dos 4.000 pontos.

Historicamente, os bear markets podem ter origem em diversos fatores, no entanto os mais comuns são os seguintes:

Principais bear markets ao longo da história

Tal como referimos, os bear markets têm sido comuns ao longo da história. No entanto, a sua ocorrência não tem sido uniforme.

No período entre 1928 e 1945, ou seja até ao fim da Segunda Guerra Mundial, ocorreram um total de 12 bear markets, o que para um total de 17 anos, é um número bastante elevado. Contudo, no pós Segunda Guerra Mundial, ocorreram um total de 14 bear markets, o que significa a existência de um bear market de 5 em 5 anos.

Para além da ocorrência de bear markets ter variado ao longo do tempo, em termos de dimensão das quedas, as mesmas foram distintas em cada um dos bear markets.

Em termos médios, a queda das ações durante um bear market tem sido de cerca de 36%. No entanto, a dimensão das quedas em média é superior, quando o bear market precede uma recessão económica. É precisamente por este motivo que vários analistas têm referido que a dimensão da possível queda nos mercados depende da existência ou não de uma recessão económica já no ano de 2023.

Dos 26 bear markets que ocorreram desde 1928, apenas 15 precederam uma recessão económica. No entanto, em 11 dos 14 bear markets desde 1945 ocorreram, posteriormente, recessões.

Principais bear markets da história

Apesar de ao longo da história terem existido muitos bear markets, de seguida, destacamos alguns dos principais.

Crash de 1929

O crash de 1929 foi, sem dúvida, o maior bear market registado na história moderna dos mercados financeiros. Durante um período de três anos, o índice de referência industrial Dow Jones teve uma queda acumulada de 89%.

Crise de 1973

O bear market de 1973, em termos de duração, foi o segundo maior da história, a seguir à grande depressão de 1929. Durante este período verificou-se uma queda acumulada de cerca de 48%. Os mercados estiveram em território bear, ou seja, queda acumulada face aos máximos anteriores de 20%, durante 21 meses. No entanto, apenas atingiram os máximos pré-crise de 1973, após 69 meses.

Este bear market ocorreu devido à forte inflação que se registava no período, bem como à estagnação económica.

Bolha dotcom em 2000

O bear market que se sucedeu na bolsa americana após o estourar na bolha tecnológica, foi um dos mais significativos na história moderna dos mercados. Este bear market sucedeu a grande bolha que se criou nas ações do setor. tecnológico entre 1994 e 2000.

Durante este período, o S&P 500 teve uma queda acumulada de cerca de 49%, tendo-se mantido em território bear durante 31 meses. Adicionalmente, apenas recuperou dos máximos pré-crise após 56 meses.

Crise financeira de 2008

A crise financeira de 2008 marcou também um dos períodos mais negros na bolsa de valores. Este período de crise deveu-se à crise no setor bancário e imobiliário, que criou uma grande desconfiança nos mercados financeiros. Durante esta crise, o S&P 500 manteve-se em território de bear market durante 17 meses, tendo recuperado dos máximos pré-crise após 49 meses.

Apesar da duração relevante dos bear markets referidos acima, ocorreram igualmente outros, muito menos longos em termos de duração. Assim, destaca-se por exemplo, o bear market de 2020, após o início da pandemia da Covid-19, no qual os mercados estiveram em território bear durante um mês, tendo recuperado dos máximos pré-crise ao fim de cinco meses.

Investir durante um bear market

Um bear market, por norma, é um período de grande pânico nos mercados financeiros, o que leva muitas vezes os pequenos investidores, a desfazerem-se das suas posições, vendendo-as com perda. Muitas vezes, estes períodos levam estes investidores a abandonar o investimento em ações.

No entanto, historicamente, estes períodos têm sido bons momentos para investir. Na verdade, se olhar para os vários bear markets da história, os períodos seguintes a estes têm sido de grande recuperação nos mercados.

Aliás, a rentabilidade média anual do S&P 500 desde 1957 até ao fim de 2021 foi superior a 10%. Ou seja, os bear markets na verdade, são entendidos como uma oportunidade para reforçar posições em empresas sólidas e que devido ao sentimento de pânico nos mercados ficam bastante baratas.

Para que possa sobreviver a um bear market e aproveitar da melhor forma a posterior recuperação deve ter em conta os seguintes pontos na hora de investir:

Assim, antes de tomar uma decisão em tempos de bear market, e em função da sua disponibilidade financeira, bem como do risco que está disposto a tomar, pondere se deve mesmo avançar e quais os valores que pode aplicar.