Quando se pensa em máfia, geralmente, imagina-se logo ameaças de morte, vinganças sangrentas, ajustes de conta com metralhadoras e bombas, cabeças de cavalo enroladas em lençóis… Mas estes impérios criminosos são, também, gigantescos empreendimentos financeiros. E há dois jogos de tabuleiro que procuram simular estes mundos saídos tanto da ficção como da realidade.

Em Nova Iorque, a beijar a mão de Don Corleone

No jogo The Godfather: Corleone’s Empire (2017), os participantes assumem o controlo de uma das famílias que disputa o domínio das ruas de Nova Iorque, na década de 1950. Cada um tem ao seu dispor membros da família e bandidos que são enviados pela cidade, para baterem à porta dos vários negócios e extorquir-lhes dinheiro, mercadorias ilegais e outros benefícios. Tudo isto servirá para agradar a Don Corleone (o Padrinho), e cair nos seus favores. Ah, e de vez em quando, toca de lhe passar para a mão algum do dinheiro que tanto nos custou a… arrancar das mãos dos outros.

Como no final ganha quem tiver mais dinheiro, o melhor será encontrar formas criativas de lavar os dólares que se for arrecadando, de forma a guardá-los, com toda a segurança, numa pasta só nossa. Ali, ninguém mexe!

Jogado num mapa que divide Nova Iorque em sete territórios, The Godfather funciona como uma competição pelos negócios existentes, fonte de rendimento das famílias em competição. A extorsão dos proprietários é, claro está, a principal forma de ganhar dinheiro. Se enviarmos os nossos rufias, a promessa de violência será o meio de obter a colaboração dos lojistas. Se for preciso, parte-se uma vitrine, ou isso, para apelar ao “bom-senso” do comerciante.

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Um bom suborno faz maravilhas

Outra fonte de receitas passa por realizar pequenos golpes em benefício de Don Corleone. Há contratos que envolvem armas, bebidas, narcóticos ou dinheiro sujo. Pagam bem. Às vezes, requerem que se abata alguém a tiro. Felizmente que o rio Hudson fica à mão, para se poder deitar o corpo.

Nesta luta sem regras, será vantajoso se conseguirmos controlar, por umas rondas, figuras neutrais como o presidente da câmara municipal, o chefe da polícia ou o chefe do sindicato. Também aqui a competição será feroz. Para os convencer, será preciso ter aliados influentes. E esta influência, já se sabe, custa caro. Cada aliado está a leilão e, chegada a fase do suborno, é preciso fazer contas para decidir que parte do nosso pecúlio é que vamos investir para subornar aquele contabilista que nos vai ajudar a proteger os bens da família.

No final do quinto ato, recebe-se dinheiro por cada território controlado, bónus pelos golpes concretizados, soma-se tudo e vê-se, finalmente, quem caiu nas graças de Don Corleone. Foi a família Matarazzo, a Caccamo, a Marzullo, a Pizzino ou a Vitale?

Em Chicago, a seguir as pisadas de Al Capone

Em Scarface 1920 (2023), reconta-se em jogo a história de Alphonse Gabriel Capone, filho de um casal imigrante de italianos – ele, um barbeiro, ela, uma costureira –, que se tornou um dos principais gangsters do período da Lei Seca. A cidade de Chicago era o reino de Scarface (a alcunha por que também ficou conhecido), e o tabuleiro divide a cidade em 7 distritos. Cada jogador assume um gangue, com o seu respetivo chefe, membros, rufias, carros e carrinhas. Um dos bandos é o de Al Capone; os restantes são chefiados por outras figuras históricas, como o irlandês O’Banion, o cerebral Arnold Rothstein ou a chefe criminosa Stephanie St. Clair.

Nenhum terá tarefa fácil em querer conquistar a cidade. Felizmente, pode-se contar com a fidelidade dos guarda-costas, dos tenentes, dos braços-direitos, para vencer os inimigos. Os capangas do bando cumprem sem hesitação as ordens do chefe. Às vezes, ficam feridos. Ou morrem. Os golpes realizados podem resultar em ganhos imediatos ou permanentes. Mas, além da força bruta, será importante dar atenção à estratégia de recrutar parceiros; afinal, se estamos na época da Lei Seca, dá jeito uma amizade com um fabricante de álcool ilegal.

Os chefes dos gangues têm à disposição seis tipos de crimes, ligados às bebidas alcoólicas, à violência, ao jogo, à corrupção, ao vício e ao roubo. Aos polícias que rondam pelos distritos, será preciso pagar subornos, para que eles fechem os olhos ao crime que se vai cometer. Tal como em Nova Iorque, é crucial obter o controle dos distritos; quantos mais negócios o gangue controlar, maiores lucros. E maior mão-de-obra necessária para defender esses bares clandestinos, casinos, bordéis e clubes noturnos. E em Chicago, nos anos 1920, é preciso contar com raides da polícia, quando o nível de criminalidade sobe demasiado. Lá vem o chato do Eliot Ness, a liderar os agentes federais e a dar cabo do negócio aos criminosos.

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Pensar bem num plano, executá-lo ainda melhor

Na fase de ação, o jogador prepara o seu plano e escolhe o pessoal para o executar. Usamos desta vez a ladra de joias ou o assassino siciliano? Contratamos uns assaltantes de rua ou um veterano da I Guerra Mundial? Há ordens para dar ao nosso submundo, mas também se cumprem ações perante as autoridades, como vender-lhes mercadorias. Ou julgam que eles, por serem agentes da lei, não bebem, hum? O toque de realismo acresce com as cartas que representam acontecimentos e histórias verídicas da época e que afetam o desenrolar do jogo.

O jogo termina quando o governo determina o fim da Lei Seca. Então, adicionam-se bónus pelos parceiros, pelos negócios controlados, soma-se tudo e ganha quem… tiver mais dinheiro, claro. Nessa altura, esquecem-se os corpos enterrados ou atirados ao rio e abrem-se alas para o novo Rei de Chicago. Após um brinde à vitória, arrumam-se as peças e o tabuleiro, mete-se a tampa na caixa, despimos o fato de gangster e saímos para a rua, sem ter de olhar para trás, com receio de que o Capone tenha mandado uns rufias para nos tratar da saúde.

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A informação que consta no artigo não é vinculativa e não invalida a leitura integral de documentos que suportem a matéria em causa.

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