Raquel Nogueira, da Fintech House: “É imperativo que as fintechs se provem essenciais aos incumbentes”

A Fintech House é um Hub de inovação tecnológica, ligado ao setor financeiro, e que tem como objetivo ajudar a desenvolver o ecossistema onde startups e incumbentes (banca) possam colaborar e integrar soluções. A missão da Fintech House é, assim, criar pontes entre os vários players: startups, reguladores, legisladores, bancos, investidores, entre outros.

No final de outubro, a Fintech House divulgou o  Portugal Fintech Report 2020, onde é possível perceber qual a evolução deste ecossistema, como é composto, a capacidade de financiamento, entre outras questões.

A propósito da divulgação deste relatório, o Doutor Finanças colocou questões a vários responsáveis ligados a este universo. Raquel Nogueira, operations manager da The Fintech House, partilhou a sua perspetiva do setor e dos seus desafios.

Raquel Nogueira, operations manager da Fintech House

Quais são os principais desafios de uma fintech em Portugal?

As fintechs mostraram estar a debater-se com o ciclo de vendas. Em relação às áreas que necessitam de ser melhoradas, à semelhança do ano anterior, a regulação é a primeira prioridade, seguida do acesso para entrar no mercado. 

Que impacto estimam que a pandemia possa ter no universo das fintechs?

Apesar das restrições que resultaram da pandemia, as fintechs portuguesas mantiveram a tendência de crescimento do ano passado. Não só as já existentes consolidaram vendas, alcançaram expansão internacional e aumentaram o financiamento, como também surgiram novas empresas.  Mesmo após o surto da pandemia de Covid-19, vimos o ecossistema fintech unir forças para trazer valor à sociedade com as suas soluções, numa altura em que a digitalização e a tecnologia se tornaram um investimento chave para o sucesso das empresas.

A regulamentação é desajustada em Portugal? O que consideram ser necessário nesta área?

A regulamentação está aberta à inovação. A segunda edição do Finlab manteve a dinâmica com forte participação das startups e, este ano, dos incumbentes. Os reguladores trabalharam para construir uma ponte entre a regulamentação, a legislação e o ecossistema fintech, lançando a Finlab Portugal com uma segunda edição e dando passos no sentido da implementação de uma caixa de areia regulamentar. De acordo com o Portugal Fintech Report, 53% dos entrevistados concorda que houve uma melhoria na disponibilidade dos reguladores portugueses. Mas há sempre espaço a melhorar.

É mais difícil ser uma fintech em Portugal do que noutros países, nomeadamente europeus?

Assistimos a uma tendência crescente de mudança das fintechs internacionais para Portugal. Não apenas comercialmente, mas também como um segundo escritório ou mesmo como o local para iniciar a expansão para a Europa. A Fintech House tem sido a representação física desta realidade acolhendo startups de diversas nacionalidades que escolheram Lisboa como local para estabelecerem funções, exemplo disso são a Lovys e a Apiax. 

Quais serão os três principais desafios para os próximos cinco anos para as fintech?

Será determinante que as fintech mantenham o caráter diferenciador e inovador, apenas dessa forma conseguirão estabelecer-se no mercado e competir com os incumbentes. 

Estes, no que puderem, irão imitar as fintechs nos seus processos inovadores, como observámos com o digital onboarding. Para o que não puderem fazer bem sozinhos, os bancos irão desenvolver uma estratégia de parceria, é a resposta mais eficiente que assegura uma solução mantida pela startup. As empresas oferecem um nível de escala a que não poderiam aceder de outra forma, pelo que é imperativo que as fintechs se provem essenciais aos incumbentes, tentando ao máximo impedir a imitação do seu trabalho. 

Três conselhos para quem está a pensar em lançar uma fintech

Para quem estiver a pensar em lançar uma fintech, é preciso ser muito focado no que faz; Manter um caráter inovador, mas sempre focado nas necessidades do cliente; Pensar global, ter simplesmente o produto e a tecnologia certos não é suficiente, é o poder da visão global de uma empresa que faz a diferença.