Será o crédito uma ilusão?

Os números mais recentes do Banco de Portugal dizem que os portugueses, só nos primeiros oito meses deste ano, já se endividaram em empréstimos com a finalidade de consumo no valor 2,45 mil milhões de euros (é um crescimento 22,5% face ao ano anterior). Este crescimento no consumo é desejável?

Leia ainda: As famílias portuguesas estão a fazer mais crédito – voltámos à euforia do consumo?

O que é um crédito?

Quando solicitamos um crédito estamos a comprar dinheiro a uma instituição que tem autorização para tal, por isso é regulada pelo Banco de Portugal. Vender dinheiro é mais complexo que vender uma caixa de chocolates, mas não deixa de obedecer a um mecanismo idêntico: quem vende teve de comprar (C) ao valor que pagou para ter o produto para vender terá de acrescentar uma margem (M), de forma a que no final saia um preço de venda (P.V.P.).

C + M = P.V.P.

Quando estamos a falar de um empréstimo o P.V.P. é a taxa de juro. A pergunta que devemos colocar será qual o preço que estamos dispostos a pagar para poder ter aquele dinheiro hoje? Estaremos dispostos a pagar 8%? 10%? 11%? 20%??

Leia ainda: Crédito Pessoal: que tipos de crédito existem?

Um crédito é um aumento do património?

Se uma pessoa não quer (ou não pode) aguardar um determinado período de tempo para ter aquele dinheiro em seu poder terá de ir comprar esse dinheiro. Esta é a lógica do crédito e não tem nada de errado.

Um crédito não é um aumento do nosso património. Embora tenhamos a possibilidade de aumentar nossa liquidez, de ter outro poder de compra, na realidade nada aumentou. Ou se quisermos ser mais certeiros, até diminuiu. Não podemos ignorar que um empréstimo é sempre mais caro que pagar a pronto. Desta forma, se hoje entrou na nossa conta 10.000€ e se este valor é referente a um empréstimo a 10 anos com taxa de 12%, nos próximos tempos irá sair da conta mais de 17.000€.

Ao fazer estes cálculos não estamos a dizer que o crédito é errado. Simplesmente temos de ter consciência de quanto estaremos a pagar por antecipar uma necessidade. Por isso, o facto de aumentarmos o consumo à custa do endividamento não é sinal de aumento do poder de compra e de geração de riqueza.

Como fazer para pagar menos no seu crédito?

No setor bancário como em todos os outros setores de atividade estamos perante um negócio. Como negócio que é, o devedor tem de fazer a sua parte na negociação. Terá de comprar alternativas e estabelecer objetivos para pagar o menos possível.

A negociação é uma arte e quando bem utilizada poderá trazer significativas poupanças. Uma das melhores formas de aproveitar as negociações é para criar liquidez que nos permita reduzir o endividamento nos créditos mais caros (com taxas de juro mais elevadas). Cada caso é um caso, mas o histórico que o Doutor Finanças vai tendo mostra que é possível reduzir as prestações em mais 30%!