Março: Um mês surpreendente

O mês de março ficou marcado por um conjunto de acontecimentos que poderiam ter tido um impacto muito negativo nos mercados financeiros. A realidade é que, feitas as contas, a performance foi positiva, acompanhada por uma enorme volatilidade que caracterizou o mês.

Turbulência no setor financeiro

O setor financeiro esteve em evidência no mês que terminou. A queda de três bancos nos EUA, com destaque para o Silicon Valley Bank (SVB), colocou este setor no centro das preocupações dos agentes económicos e investidores. A forma rápida como o problema do SVB se propagou para outras duas instituições obrigou as entidades oficiais a uma tomada de posição firme e robusta. Os bancos não foram salvos, mas o Estado americano garantiu a salvaguarda de todos os depósitos que estavam sob a alçada destas três instituições.

Esta medida mais agressiva teve como objetivo impedir uma escalada na tensão e no receio em torno de um setor que “vive” de confiança. O receio de que pudéssemos estar na presença de um episódio similar a 2008 gerou muita apreensão e alguns momentos de tensão. É importante realçar que a génese da queda destes bancos nada teve a ver com o problema ocorrido em 2008. Para complementar o risco em torno do setor bancário, na Europa, tivemos a “queda” do gigante Credit Suisse, que não resistiu a anos de más políticas de gestão e ausência de procedimentos de controlo interno.

Mais uma vez, as entidades competentes (Banco Nacional da Suíça e governo) atuaram de uma forma célere, criando um plano em tempo recorde que, numa primeira fase, permitiu ao banco ter acesso a liquidez imediata. A segunda parte do plano consistiu na venda do Credit Suisse à UBS. Os grandes penalizados foram os obrigacionistas que detinham dívida convertível, e que num fim de semana, viram os seus títulos perderem todo o seu valor. Esta “fusão” foi a forma encontrada pelas autoridades suíças para acalmarem os mercados e recuperarem a confiança num setor fundamental para a economia do país. Todos estes casos ao longo do mês de março geraram, nos investidores, dúvidas e receios que ainda não estão totalmente dissipados.

Leia ainda: Silicon Valley Bank – A explicação

Bancos centrais

O mês fica ainda marcado pela subida generalizada das taxas de juro por parte da maior parte dos bancos centrais. Apesar do cenário de maior turbulência que o setor bancário atravessou, os bancos centrais mantiveram-se fiéis ao seu plano, com uma política ativa que tem o objetivo de fazer regressar a inflação a valores suportáveis. Como nota positiva para os mercados financeiros, depois de vários aumentos de taxas, alguns bancos centrais deram sinais de estarem próximos do fim do ciclo de subidas. 

A expectativa dos investidores de que efetivamente poderemos estar próximos do fim desta política monetária agressiva foi reforçada com alguns dados de inflação que demonstram algum abrandamento. Complementarmente, os focos de instabilidade que têm surgido na economia mundial “obrigam” as entidades monetárias a uma precaução adicional no que respeita à influência que podem ter na economia real, que está neste momento com taxas de juro/financiamento elevadas. Estes dois fatores, em conjunto, foram os responsáveis por termos tido uma performance positiva no mês de março, mesmo tendo em conta toda a turbulência ocorrida.

Leia ainda: BCE cumpre a promessa e volta a subir os juros

Carteiras de investimento

Conforme referido anteriormente, o mês foi positivo. O segmento de obrigações valorizou, beneficiando do receio em torno do setor bancário, que fez com que muitos investidores se tivessem refugiado em ativos com maior liquidez. O segmento acionista também teve um bom comportamento, com destaque para o setor tecnológico que será o mais beneficiado num fim de ciclo de subidas ou mesmo numa inversão da política monetária.

O dólar desvalorizou face ao euro acabando por penalizar algumas posições que estão investidos na moeda americana.

Em resumo, a carteira moderada valorizou 1,69% e a dinâmica 1,39%.

Para finalizar, importa referir que estas performances não são justificadas por fatores associados à economia real, mas sim a expectativas relativamente às atuações dos bancos centrais. Como tal, a prudência deverá sempre imperar, numa fase em que a inflação continua em valores muito elevados, as taxas de juro estão altas, o endividamento está em níveis máximos e existem receios em torno de alguns setores fundamentais nas diferentes economias mundiais.

Leia ainda: Como a crise na banca pode ajudar a controlar a inflação e travar os juros

Desempenho da carteira com perfil moderado

Composição da carteira com perfil moderado

Desempenho da carteira com perfil dinâmico

Composição da carteira com perfil dinâmico

Objetivo das nossas carteiras

Quando, em março de 2021, criámos estas duas carteiras virtuais, o nosso objetivo passou sempre por saber explicar os movimentos de mercado e a influência que tinham nas nossas carteiras. Temos tido sempre esta preocupação, até porque o investimento é um processo que se prolonga no tempo.

Como exemplo, em maio de 2021, reduzimos risco nas carteiras por entendermos que a performance dos mercados financeiros não tinha uma justificação lógica ou racional. Demorou algum tempo, mas a realidade é que o nosso posicionamento atual, apesar de apresentar uma performance negativa, está melhor do que a carteira inicial.

É importante também realçar que ao longo da viagem ou processo de investimento irão existir muitas oscilações e momentos de enorme volatilidade. O fundamental é perceber onde estamos investidos e porquê. Perceber que no meio do pânico existem sempre oportunidades, e ter a racionalidade para distinguir e encontrar ativos de qualidade. Porque esses, quando tudo acalmar, irão recuperar e gerar retorno…

Nota: As carteiras do Doutor Finanças não são nem devem ser entendidas como um conselho a investir neste ou naquele tipo de instrumento financeiro. As nossas carteiras foram criadas apenas para permitir ilustrar quais os riscos e os benefícios potenciais de investir, direta ou indiretamente, em instrumentos financeiros como ações e obrigações.