Porque perdem os especuladores nos câmbios?

John Maynard Keynes é um dos mais afamados economistas de sempre. Há, aliás, uma corrente de pensamento económico com o seu nome: a escola keynesiana ou o keynesianismo. O britânico é, injustamente, menos conhecido como investidor.

Keynes era um fenomenal investidor em ações. Entre 1921 e 1946, a carteira acionista do King’s College, da Universidade de Cambridge, que estava à sua responsabilidade, rendeu 16% por ano, mais 6 pontos percentuais do que o desempenho médio da bolsa londrina. Ao nível pessoal, embora tenha perdido quase tudo na grande derrapagem de 1929, o seu património cresceu até quase 500 mil libras esterlinas à data da sua morte, 17 anos depois, o equivalente a 20 milhões de euros a preços de hoje.

Apesar de todo o seu conhecimento económico e de toda a sua inteligência, Keynes não conseguiu domar o mercado cambial como investidor. Em 1920, por exemplo, perdeu o equivalente a 10 vezes o seu rendimento anual ao apostar na fraqueza das divisas da Europa continental. Nem abusando de informação privilegiada — soube antecipadamente que o Banco de Inglaterra iria mudar a sua política de taxas de juro, por exemplo — conseguiu bons retornos cambiais. Não há provas que os seus poucos resultados positivos se deveram a outra coisa que não a sorte.

Sei de vários exemplos de investidores que não vingaram no mercado cambial, entre gestores profissionais e figuras públicas, como Keynes e Winston Churchill. Não conheço ninguém que tenha registado comprovadamente bons lucros no longo prazo a transacionar unicamente divisas.

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Não é investimento

Comprar e vender divisas não é investir; é especular que um câmbio se mova a seu favor. Ao contrário das ações, das obrigações e do imobiliário, os câmbios não geram rendimentos nem fornecem a expectativa de alguma vez gerarem.

O mercado cambial — conhecido por forex, de foreign exchange — é o maior do mundo: são negociados 5,8 biliões de euros por dia, segundo as estatísticas mais recentes do Banco de Pagamentos Internacionais. A sua dimensão torna o mercado cambial extremamente eficiente. Toda a informação é rapidamente absorvida. É possível traçar uma estratégia de aplicação cambial, como fez Keynes com as suas táticas macroeconómicas, mas haverá quase sempre outros a tentar explorá-la, o que anula os potenciais ganhos.

Pior: o forex é o que se chama de jogo de soma nula. Quando um jogador ganha, outro perde. A soma de todos os resultados dos negócios cambiais resultam obrigatoriamente num saldo de zero. Se se subtrair os encargos da transação de câmbios (que incluem comissões e taxas de juro), a expectativa mais racional de resultado é um prejuízo. Os verdadeiros investidores não buscam prováveis prejuízos.

Pontualmente, é possível ganhar muito dinheiro em divisas. George Soros é conhecido por ter quebrado o Banco de Inglaterra: em 1992, apostou na queda da libra esterlina e ganhou mil milhões de dólares. Sem uma carteira gigantesca — aplicou 10 mil milhões de dólares —, Soros não teria tido esse sucesso.

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