Quero começar a investir: qual o caminho que devo seguir?

O primeiro fator que devemos analisar quando pretendemos concretizar um investimento é saber identificar qual o objetivo que pretendemos atingir. A nossa abordagem será sempre diferente em função do propósito pretendido. Como exemplo, se pretendermos comprar uma casa para a viver ou para investimento, as características procuradas no imóvel serão diferentes. Quanto mais esclarecidos estivermos melhor!

A mesma regra se aplica aos investimentos mobiliários. Se soubermos à partida qual o objetivo que o investimento que vamos concretizar pretende alcançar, iremos conseguir posicionarmo-nos de uma forma mais eficaz.

O caso do João

Para ser mais fácil de perceber o que ter em consideração antes de investir, vamos analisar um caso prático. Neste caso, vamos explorar o caso do João, que tem 30 anos e quer poupar para a reforma. O João não é um investidor ativo, nem tem tempo para acompanhar diariamente uma carteira de títulos. O João não vai necessitar de movimentar este investimento e pretende reforçá-lo todos os anos. O que pode fazer?

Primeiro passo

O João tem características em que muitos portugueses se reveem. O primeiro passo é explicar ao João quais as formas em que pode iniciar o seu investimento e quais as vantagens associadas a cada uma delas.

Como o João pretende investir e não tem intenções de movimentar o dinheiro no curto prazo, devemos procurar soluções que lhe permitam tirar partido de um prazo alargado de investimento. E aqui deparamo-nos com o primeiro caminho a selecionar: Qual a forma sob a qual vou investir? Vou criar uma carteira de investimento num banco ou numa corretora? Opto por uma carteira já constituída, subscrevendo um perfil? Complemento o investimento de um perfil sob a forma de um PPR?

Nesta primeira fase o objetivo não passa por analisar a carteira ou o perfil de risco em que se pretende investir, mas sim a forma como fazê-lo, “olhando” sempre para o longo prazo. Desta forma, temos três soluções possíveis:

Nas três soluções, podemos ter uma exposição ou uma carteira de investimento semelhante, conforme explicaremos mais à frente. A grande diferença que devemos percecionar é qual a vantagem de cada uma delas no longo prazo.

A tributação das mais-valias ajuda a selecionar o caminho.

Começando pela primeira, ao criarmos uma carteira de investimento simples, título a título, não iremos conseguir beneficiar de nenhuma característica especifica de longo prazo. A vantagem é que a carteira poderá ser mais personalizada, embora no caso concreto do João, este não seja um ponto preponderante, uma vez que não tem tempo para acompanhar o seu investimento diariamente. Comparativamente com as restantes soluções, o investimento numa carteira personalizada não acresce nenhuma comissão de gestão. Como tal, esta é uma vantagem face às restantes opções.

Ao investir numa carteira sob a forma de Unit Linked , temos a vantagem de ter uma tributação das mais-valias que se vai reduzindo ao longo do tempo. Até cinco anos a tributação é de 28%, entre cinco e oito anos passa a 22,4% e após oito anos a tributação das mais valias é de 11,2%. Normalmente, este tipo de carteira apresenta uma comissão de gestão associada e que deverá ser tida em conta.

A terceira opção – investir num PPR – é aquela que traz mais vantagens fiscais a longo prazo.

Assim, se optarmos por investir num PPR sem utilizar o benefício fiscal, a taxa de tributação até cinco anos é de 21,5%. Entre cinco e oito anos é de 17,2% e após oito anos é de 8,6%. Nestes casos, o PPR pode ser resgatado a qualquer altura sem quaisquer penalizações.

Contudo, se optar por investir num PPR e o resgatar dentro das condições previstas, terá uma tributação de 8%:

Esta é claramente uma vantagem que pode e deve ser potenciada. Como podemos observar, caso o João opte por esta solução irá obter uma taxa de tributação sobre as mais-valias consideravelmente mais baixa, uma vez que o seu objetivo de investimento é de longo prazo.

Assim como os investimentos sob a forma de Unit Linked, os PPR também têm comissões de gestão associadas, que deverão ser alvo de análise e de comparação.

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Segundo passo

De forma a poder potenciar as poupanças no longo prazo e as vantagens associadas a cada uma das opções anteriores, é necessário que o João se foque na exposição que vai ter. Numa primeira fase, é fundamental definir o seu perfil de risco, sendo que como o João é novo (30 anos), e como pretende investir no longo prazo, poderá fazer sentido assumir uma carteira com maior risco.

Após a definição do perfil, é muito importante que o João consiga analisar a carteira de títulos em que vai investir. Poderá, e deverá, solicitar essa informação às entidades gestoras, de forma a poder avaliar e analisar o comportamento da mesma no passado (de preferência num horizonte temporal mais alargado – 5 ou 10 anos) e para ter uma noção clara se está a investir numa carteira diversificada, equilibrada e sem conflitos de interesse, garantindo que o gestor ou equipa de gestão escolhem os ativos que fazem mais sentido a cada momento.

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A carteira de investimento faz toda a diferença e deve ser um dos pontos onde se “perde” mais tempo. Porque se o João investir num ativo que no longo prazo não tem retorno, então as vantagens associadas à redução da tributação das mais-valias acabam por desaparecer. Por este motivo, a definição do caminho a seguir é muito importante, mas o conteúdo que esse caminho terá ainda se torna mais importante.

Terceiro passo

Esta etapa já foi abordada no primeiro passo. É fundamental conhecer as comissões de entrada, saída e de gestão de cada uma das soluções pretendidas, para poder avaliar qual aquela que possibilita a obtenção de uma mais-valia superior no final do período. Todos os pontos contam. Tudo deve ser analisado e percecionado.

Em resumo, numa primeira análise deveremos percecionar que existem vários caminhos por onde podemos seguir. Perceber cada um deles e quais as vantagens/desvantagens associadas é fundamental. Posteriormente, devemos ter em atenção em que é que vamos investir, perceber a qualidade da carteira que iremos escolher, de forma a enquadrá-la nos nossos objetivos de investimento. Por fim, analisar os custos associados a cada uma das opções, de forma a que em conjunto com os dois passos anteriores, possamos ter uma visão clara da forma como podemos potenciar as nossas poupanças.