A melhor poupança é acabar com as dívidas

Continuo a ser surpreendido por pessoas (infelizmente bastantes) que têm quantias muito razoáveis em contas à ordem ou a prazo a render zero ou quase. Que sentido faz ter 5 ou 10 mil euros na conta à ordem do dia a dia?

Não se indigne com o valor que mencionei. Bem sei que quem dera a muitas pessoas terem esse dinheiro fosse onde fosse. Mas, se não tem esse dinheiro, espero que ao saber que há pessoas que têm (e são pessoas com ordenados normais, por volta dos 1.000 euros), isso o motive a atingir este primeiro objetivo mesmo que demore tempo.

Mas não é disso que lhe quero falar hoje. O que ainda me surpreende mais é saber que algumas dessas pessoas têm dinheiro disponível e não o usam para acabar de vez com algumas dívidas que têm.

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Usar poupanças para acabar com dívidas

Vamos a um exemplo prático. O Manuel tem 5 mil euros na conta à ordem e uma dívida de 1.500 euros no cartão de crédito pela qual paga 30 euros por mês. Como consegue suportar a mensalidade dos 30 euros está descansado porque é uma dívida que vai pagando sem grande esforço financeiro. Ora, isso é uma ilusão.

Normalmente, as dívidas de cartão de crédito, crédito pessoal ou automóvel ou as mensalidades de um eletrodoméstico, computador ou telemóvel (a menos que tenham uma TAEG de 0%) rondam os 20% ou 10% nos casos mais simpáticos. Portanto, por aqui já vê que uma enorme parte da sua mensalidade são juros e só uma pequena parte é de facto valor amortizado. Por outras palavras, vai ficar a pagar algumas dessas dívidas quase por toda a eternidade. 

O que lhe sugiro é que faça as contas e avalie pegar em parte da poupança que tem e liquide imediatamente as suas dívidas que têm juros altos. Não lhe estou a dizer para ficar “descalço”, mas ao fazer esta simples operação vai na prática estar a aumentar-se no seu rendimento mensal líquido. Acabar com um crédito é ficar com mais dinheiro na carteira ao fim do mês (de todos os meses).

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Use o seu dinheiro para coisas importantes

Se deixar o seu dinheiro sem utilidade na conta à ordem não só vai estar a perder esse dinheiro para a inflação, como não o está a rentabilizar acabando com dívidas que o prendem financeiramente durante meses ou anos. Na prática está a alimentar os bancos e financeiras com dinheiro que poderia usar para outras coisas mais importantes para si.

O problema é a inércia, preguiça ou mesmo desconhecimento de que pode pagar os seus créditos e dívidas antes dos prazos contratualizados. Só tem de pedir primeiro uma simulação para saber se vai ter de pagar alguma penalização. Mesmo assim, na maior parte dos casos compensa pagar essa “multa” para se ver livre deles.

Pense nisto: se liquidar uma dívida de cartão de crédito que tem 16% de juros, está a aumentar-se em 16% na parte do seu salário que corresponde à prestação que está a pagar; ou veja no extrato qual é a parte de juros na mensalidade que está a pagar e será esse o valor exato líquido que está a aumentar-se sem ter de pedir ao patrão.

Assim, a minha dica é que - caso tenha alguma poupança reservada que não lhe faça falta nos próximos tempos - a use para abater nas dívidas que tem. Ao contrário do que possa parecer à primeira vista, pegar nesse dinheiro e pagar as suas dívidas mais cedo pode ser um excelente investimento nas suas finanças pessoais. Não ter dívidas é a melhor poupança.

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