Comprar casa. Será o preço o mais importante?

Os preços das casas nunca estiveram tão altos. Naturalmente, isso pode assustar muitos portugueses e fazer com que adiem ou mesmo cancelem a decisão de comprar casa.

De facto, a aquisição de habitação própria e permanente é um processo que deve ser muito bem ponderado, sendo tipicamente longo. Desde a pesquisa em portais de imobiliário na internet, passando pelos contactos com agentes imobiliários, às dezenas de telefonemas recebidos com ofertas que não interessam, visitas… sem falar da longa e por vezes infinita papelada que é necessário tratar.

Adicionalmente, os tempos que correm, com receios de instabilidade no emprego e perda de rendimentos poderão afastar ainda mais muitos portugueses desta difícil decisão.

Dúvidas e receios naturais se colocam a muitos. Desde logo, como se referiu, a questão do preço. Estarei a comprar a casa pelo preço correto? Qual será o preço justo do mercado? E será que os preços vão cair?

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A questão do preço de compra

De facto, os preços de venda das casas em Portugal estão muito elevados, em máximos históricos. Segundo dados do INE, os preços medianos das casas na cidade de Lisboa subiram 74% entre junho de 2016 e junho de 2020. No Porto, a situação não é diferente: 73%!

Muitos outros exemplos temos de valorizações superiores a 50% no mesmo espaço de tempo: Faro, Odivelas, Barreiro, Montijo, Mação, Sardoal, Covilhã…

Isto assusta qualquer um!

Na minha atividade de professor, formador e analista, muitas são as pessoas que me fazem perguntas sobre os preços de venda das casas. Irão cair? Afinal de contas, vivemos um período económico muito difícil e desafiante. Os receios com o aumento do desemprego e a diminuição do poder de compra levam qualquer um a assumir, desde logo, que os preços irão cair. E irão cair muito!

Mas será que o preço, per si, é a variável mais importante e deve afastar alguém da decisão de comprar casa? O facto de alguém esperar que os preços de venda das casas em Portugal venham a cair no curto prazo deve, desde logo, afastar alguém da compra de habitação própria e permanente?

Pessoalmente, entendo a questão. E o receio. Percebo que assim seja, mas na realidade não deveria ser. Atenção, não me interpretem mal: é claro que o preço é importante mas o que não deveria ser preponderante é a questão dos preços das casas estarem em máximos históricos e os receios que daí possam advir quanto a eventuais quedas no futuro próximo.

Porquê?

Comprar casa é uma decisão de longo prazo

Quando alguém decide comprar uma casa deve ter bem presente que essa sua decisão deverá ser ponderada e pensada para um prazo longo. Pouco sentido fará adquirir uma habitação para uso próprio se perspetivamos vir a necessitar da mesma durante um curto espaço de tempo.

A compra de casa própria deve estar – ou pelo menos deveria estar – intimamente relacionada com alterações na vida de cada um: um casamento, a vinda de um filho, um emprego estável e com perspetivas de futuro.

Sempre que alguém perspetiva uma menor mobilidade na sua vida, a opção de comprar uma casa torna-se mais premente e aceitável.

Ora se a compra de uma casa deve estar intimamente relacionada com o prazo de utilização – longo, entenda-se – a questão do preço torna-se algo secundária. O receio relativamente a eventuais quedas de preços no curto prazo torna-se menos importante.

Aquilo que a história nos mostra é que no longo prazo os preços no imobiliário tendem a aumentar. É certo que o mercado vive de ciclos e que neste momento estamos claramente num ciclo de alta e o risco de correção em baixa existe. Mas outro ciclo virá mais tarde, como sempre vem.

Ora se no longo prazo os preços tendem a voltar a subir depois de eventuais quebras, a compra de casa para uso próprio, sendo uma decisão de longo prazo, torna-se menos dependente desses mesmos ciclos de mercado.

Olhar além do preço

Há realmente outros fatores, além do preço que deverão importar na decisão de comprar casa. Localização, tipologia, áreas, acessibilidades, serviços e equipamentos nas proximidades, distância ao local de emprego e às escolas dos filhos, distância de familiares mais próximos, vizinhança, transportes públicos. E todos estes fatores deverão naturalmente estar alinhados com as necessidades da família, não só presentes mas sobretudo futuras.

É certo que as circunstâncias mudam. Mas qualquer um de nós não pode, nem consegue, prever o imponderável.

Se vou comprar, é boa altura para pedir um crédito? A maior parte dos portugueses compra casa própria com recurso a crédito. Com taxas de juro em mínimos históricos, a tentação é grande. Mas deixo este assunto para um próximo artigo.

Bons negócios (imobiliários)!