Começar uma vida a dois: 5 questões financeiras que deve debater

Falar sobre dinheiro nada tem de romântico. Não há como negar. No entanto, sabia que o dinheiro é uma das causas mais comuns dos divórcios? Porém, muitas vezes, o grande problema está apenas na falta de comunicação. Assim, antes de começar uma vida a dois, procure debater algumas questões financeiras.

Esta pode ser uma "tarefa" difícil para muitas pessoas. Afinal, existem temas que podem nunca ter sido falados e ainda desconhece como pensa a outra pessoa sobre estas matérias.

Contudo, o melhor neste tipo de situação é encarar o tema com naturalidade. Não se esqueça: o dinheiro faz parte do nosso dia a dia e todos os dias tomamos decisões financeiras.

Se vai viver com a sua cara metade, é fundamental debater algumas das principais questões financeiras que os afetam, enquanto casal. Além de prevenir discussões futuras, esta conversa vai ajudar a melhorar a gestão financeira e a encontrar soluções para alcançarem os objetivos que ambicionam.

Assim, reunimos 5 questões centrais que deve debater antes de começar uma vida a dois.

1 - Contas bancárias: singulares ou coletivas?

Quando um casal passa a partilhar a vida, passam também a existir despesas que dizem respeito ao agregado familiar. Ou seja, a renda, as despesas mensais da casa (água, eletricidade, gás, telecomunicações), a alimentação, entre outras, são as novas despesas e dizem respeito ao casal.

Logo, coloca-se a questão: como vão ser pagas estas contas? Um dos elementos paga a renda através da sua conta bancária pessoal? O outro faz o mesmo com as restantes despesas? Ou criam uma conta bancária coletiva, que pode ser conjunta, solidária ou mista, para pagar a maioria das despesas?

Em termos de gestão, o mais simples é ter uma conta coletiva. Afinal, se for feito um orçamento familiar é mais simples apurar a totalidade dos rendimentos, e não falhar com os pagamentos de todas as despesas, uma vez que os dois têm acesso à totalidade do dinheiro.

Contudo, existem casais que preferem ter contas singulares. E não existe nada de errado com essa preferência. Tudo o que precisa ser feito é definir as responsabilidades financeiras de cada um.

Mas as soluções não terminam aqui. Há casais que preferem ter várias contas bancárias, e optam por cada um ter uma conta singular, ao mesmo tempo que têm uma conta coletiva para determinadas despesas. Neste ponto, a única coisa que deve estar a par é as comissões que terá que pagar, caso estas contas bancárias não estejam isentas de despesas de manutenção e anuidade.

Lembre-se que não existe uma opção certa pré-definida. E, por isso, a melhor solução passa sempre por aquilo que for mais conveniente para ambos, de acordo com os objetivos e ideais de cada um.

Leia ainda: Cabeça de casal: quais as suas responsabilidades e direitos?

2 - Objetivos financeiros pessoais e do casal

Conversar sobre objetivos é extremamente importante para um casal, quer sejam pessoais, profissionais ou financeiros. Mas, em termos de finanças, traçar objetivos conjuntos sem colocar de parte as metas pessoais, é algo que não deve mesmo ser posto de parte.

Afinal, é normal os casais terem objetivos financeiros convergentes e outros que não. Por exemplo, a compra de uma casa, viajar, casar, investir num negócio, criar uma conta poupança no caso de quererem ter filhos, etc., podem ser objetivos que coincidem ou não.

E quanto mais cedo o casal perceber quais os objetivos em comum e os individuais, mais fácil será estabelecer prioridades e estratégias para alcançá-los. Ou seja, se ambos quiserem comprar uma casa brevemente, será necessário direcionar uma boa parte dos vencimentos para esta poupança.

No entanto, isso não significa que outros objetivos fiquem esquecidos. Nestas situações, pode ser feita uma lista de prioridades e definir um montante para cada poupança.

3 - Dívidas e créditos contratados

Falar sobre dívidas, por norma, é um dos temas mais complicados para um recém casal. Em primeiro lugar, porque é um assunto que gera algum desconforto e pode despertar alguma relutância no parceiro.

Em segundo, porque enquanto casal, será necessário fazer um esforço financeiro para saldar esse montante, principalmente se pretenderem baixar a taxa de esforço.

Contudo, se o objetivo é começar uma vida a dois, o mais importante é arranjar soluções para colocar as finanças de ambos saudáveis. Mas para tal, ambos precisam de saber o atual estado financeiro de cada um. Ou seja, o objetivo é perceber se existem dividas referentes de créditos contratados, se o parceiro está ou não em incumprimento, etc.

Outro ponto importante é falar do uso de cartões de crédito e a sua gestão. Nunca é demais realçar que o uso recorrente de cartões de crédito, com divisão da fatura por vários meses, aumenta consideravelmente o risco de endividamento.

Logo, é fundamental que seja revista a gestão destes cartões, de forma a não colocarem as finanças pessoais em risco.

4 - Bens e regimes de casamento são questões financeiras a debater

Para os casais que pretendem casar e têm bens ou ativos em nome individual, conversar sobre o regime de casamento é muito importante para evitar problemas no futuro.

Em Portugal, existem três regimes de casamento: a comunhão de adquiridos, separação de bens e a comunhão geral de bens. Embora o regime de comunhão de adquiridos seja o mais comum em Portugal, existem casais que olham com bons olhos para os outros dois regimes. No entanto, é essencial estar a par do que implica cada um deles:

Comunhão de adquiridos

Na comunhão de adquiridos, cada um dos cônjuges tem direito aos bens que detinha antes do casamento. Além destes bens, os de sucessão, por doação ou bens adquiridos por direito próprio, também lhe pertencem. Todos os bens que não se enquadram nestas definições, passam a ser de ambos os cônjuges.

Separação de bens

Já na separação de bens, onde é exigido uma convenção nupcial, existe a possibilidade de não haver bens comuns do casal. Ou seja, este regime garante que cada cônjuge fique como proprietário dos seus bens antes do matrimónio. Ao mesmo tempo, também permite que os bens adquiridos ao longo do casamento por apenas um cônjuge, pertençam apenas a este.

Regime de comunhão geral

Por fim, o regime de comunhão geral permite que todos os bens possam ser de ambos os cônjuges. Ou seja, passam a ser de ambos os bens antes do casamento, os adquiridos ao longo do matrimónio e até heranças e doações. Contudo, caso um dos cônjuges tenham filhos fora do matrimónio, este regime não é possível.

Para tomar este tipo de decisão, o casal deve conversar abertamente sobre as suas intenções, para chegarem a um acordo satisfatório para ambos.

Não se esqueça que caso não optem por o regime de bens adquiridos, será necessário fazer uma convenção nupcial. Além disso, o processo de casamento deve ser tratado com alguma antecedência, é fundamental que se informe sobre todos os procedimentos.

Pode consultar o processo de casamento no site justica.gov.pt.

Ler mais: Os diferentes regimes de casamento e a compra de casa através de crédito

5 - A gestão mensal do dinheiro

Para um casal ter controlo sobre as suas finanças, é necessário que implemente uma estratégia de gestão eficaz. Uma das formas mais simples de gerir mensalmente o dinheiro é através de um orçamento familiar. Um orçamento familiar requer o levantamento de todos os rendimentos do casal e das despesas mensais.

Desta forma, é possível identificar se o dinheiro que entra é suficiente para pagar todas as despesas. Além disso, o orçamento familiar deve conter o valor a aplicar num fundo de emergência ou nas poupanças.

Recordamos que o fundo de emergência permite fazer face a todas as suas despesas, no caso de algum dos membros do casal ficar desempregado, existir uma despesa inesperada elevada ou uma quebra de rendimentos. Contudo, o fundo de emergência deve cobrir todas as suas despesas pelo menos durante 6 meses.

Como pode imaginar, este é um valor total que pode demorar algum tempo a poupar. Por isso, enquanto casal é necessário conversar sobre o montante que ambos estão dispostos a colocar de parte.

Se um dos membros do casal for mais gastador do que o outro, podem ocorrer alguns entraves na gestão do orçamento. Logo, existem outras questões financeiras que devem ser abordadas, como o que são os gastos essenciais.

6 - Questões financeiras para debater a pensar no futuro

Além das questões financeiras já referidas, é importante que o casal aborde as formas de rentabilizar o dinheiro, a longo prazo. Por exemplo, para além das metas que foram traçadas para as poupanças, talvez seja interessante abordar formas de investimento, seja a pensar na reforma ou para obterem um rendimento passivo.

No caso da reforma, a criação de uma PPR pode ser uma solução a estudar por parte do casal. Já a nível de investimentos, as opções são vastas. Contudo, é aconselhável que em conjunto, encontrem produtos financeiros que se enquadrem no perfil de ambos.

Abordar questões financeiras sem discussões

Como referimos, falar de dinheiro nem sempre é uma tarefa fácil entre casais. Afinal, existem assuntos mais complexos do que outros. No entanto, a forma como os temas são falados pode evitar discussões e melhorar o resultado final de uma conversa.

Caso não saiba como abordar algumas destas questões financeiras com a sua cara metade, deixamos algumas dicas que o podem ajudar:

Concluindo, o mais importante é criar o hábito de falar sobre dinheiro com a sua cara metade. Se o fizerem com alguma regularidade, é possível ir fazendo ajustes ao que não está a correr tão bem e encontrar soluções para ultrapassar os obstáculos. Assim, com o tempo, este tema não causará desconforto e será visto com naturalidade.

Ler mais: Casamento e poupança: a aliança perfeita