Subida da dívida das famílias abranda pela primeira vez desde novembro

O crescimento acelerado dos preços e a ameaça de uma nova recessão global não travaram a dívida das famílias portuguesas, mas o ritmo de subida do endividamento desacelerou pela primeira vez em oito meses.

Os mais recentes dados do Banco de Portugal revelam que, em julho, os particulares aumentaram o endividamento - maioritariamente junto do setor financeiro - em quase 400 milhões de euros, o que traduz um acréscimo de 4,2% face ao mesmo mês do ano passado. Esta subida homóloga foi inferior à do mês anterior (4,42% em junho), o que acontece pela primeira vez desde novembro de 2021.

No mesmo mês, as empresas privadas, pelo contrário, reduziram as suas dívidas junto do setor financeiro e do exterior em 1.400 milhões de euros, enquanto o setor público diminuiu o endividamento em 1.200 milhões de euros.

Este “travão” no ritmo de endividamento das famílias portuguesas aconteceu numa altura em que a taxa de inflação no país escalou para 9,1% e em que o Banco Central Europeu (BCE) aumentou os juros pela primeira vez em 11 anos, confirmando a perspetiva de que estaríamos perante o início do fim da era do dinheiro barato.

Nesse mesmo mês, os portugueses aumentaram os seus depósitos nos bancos, reforçando as suas poupanças num momento de incerteza e instabilidade. De acordo com os números do Banco de Portugal, o montante de novos depósitos de particulares aumentou em 147 milhões de euros, passando de 3.707 milhões de euros, em junho, para 3.854 milhões de euros no mês seguinte.

Fatura aumenta com subida dos juros da casa

Grande parte das dívidas dos particulares está relacionada com o crédito habitação, cuja “fatura” tem um grande peso no orçamento mensal das famílias portuguesas. Basta olhar para os números: no período em análise, o mês de julho, cerca de 68,5% dos novos empréstimos dos bancos a particulares, correspondentes a 1.345 milhões de euros, foram crédito habitação. Este valor representa, porém, uma descida face em junho quando os bancos emprestaram 1.402 milhões de euros para a compra de casa.

Esta evolução acontece numa altura em que as famílias já se confrontam com uma subida do custo do crédito, devido ao aumento das taxas Euribor. A Euribor a seis meses, a mais utilizada em Portugal nos contratos de crédito habitação, atingiu já os 1,766%, o valor mais alto em mais de dez anos. Esta taxa esteve negativa durante seis anos e sete meses (entre 6 de novembro de 2015 e 3 de junho de 2022).

Sendo as Euribor determinantes – juntamente com o spread – para a definição da taxa de juro do crédito habitação, as famílias já estão a sentir a subida na prestação mensal que pagam ao banco. E a perspetiva é que os aumentos acelerem nos próximos tempos, uma vez que o banco central vai continuar a subir os juros de referência para tentar controlar a inflação.

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O que fazer para reduzir as prestações?

Se tiver condições financeiras para amortizar o crédito habitação, este é o momento certo para avançar, já que a sua fatura mensal com juros vai certamente aumentar nos próximos meses.

Se optar por esta solução, avalie se é mais vantajoso reduzir a sua prestação mensal ou encurtar o prazo do empréstimo: com ambas irá poupar significativamente na fatura de juros ao longo do contrato.

Para ter uma ideia do valor mensal que vai pagar ao banco após amortizar o crédito, recorra ao simulador da prestação de crédito após amortização antecipada e analise as vantagens que poderá ter esta solução.

Se não tem capitais próprios para pagar antecipadamente o crédito, procure renegociar o seu contrato, tendo em conta todos os elementos como spread, produtos associados e outros encargos. Se o seu banco não lhe oferece alternativas, olhe para as ofertas do mercado e procure soluções mais vantajosas na concorrência.

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Consolidar créditos pode aliviar fatura das dívidas

Saiba ainda que, se tem outros créditos além do empréstimo da casa, pode conseguir um alívio significativo nas suas despesas mensais optando pelo crédito consolidado. Esta solução consiste na junção de todos os seus créditos, convertendo-os num único crédito com melhores condições, com uma taxa menor e um prazo de pagamento fixo.

Os custos mensais podem ter uma redução até 60%, concentrando-se os pagamentos numa prestação única.

Esta solução destina-se a quem tem, pelo menos, dois financiamentos, além do crédito da casa, não esteja em incumprimento com nenhuma instituição financeira nem tenha o nome na lista negra do Banco de Portugal, e tenha uma situação profissional e pessoal estável.

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