Fast food de conteúdos digitais

Quando comecei a escrever este artigo, curiosamente o meu iPhone enviou-me uma mensagem que me informou do tempo médio semanal que gastei com o uso de cada aplicação.

O Facebook encontrava-se em primeiro lugar, seguido do Instagram, LinkedIn, Safari, Google e WhatsApp. As aplicações são cada vez mais, e o tempo que “temos” é cada vez menos, mas a boa noticia é que, em relação à semana anterior, tinha gastado menos 83% do meu tempo a consultá-las.

Considero que é uma boa notícia porque, apesar de estar online ser uma necessidade imprescindível para alimentar a minha comunidade e o meu networking, acaba por se tornar num hábito que, se não for controlado, pode tornar-se avassalador pela quantidade de informação e conteúdos que achamos que temos de ter acesso, mas que consomem muito tempo a digerir, sendo que na generalidade esta “digestão” de “fast food de conteúdos” está a tornar-se cada vez mais lenta, menos interessante e até de fraca qualidade.

As redes sociais

Este consumo de “fast food de conteúdos” torna-se mais evidente nas redes sociais por serem os meios preferenciais para a comunicação digital onde tudo é comunicado como conteúdo “exclusivo” e “especializado, refletindo facilidade e prometendo resultados em troca claro, de tempo ou dinheiro.

A não ser que já tenha uma lista de perfis ou blogues de referência e preferência, tem normalmente de fazer scrolls demasiado longos para conseguir encontrar conteúdos que sejam de facto “nutritivos”, credíveis e de qualidade no meio de um caos de excesso de informação onde qualquer um pode ser expert em qualquer coisa.

Saber consumir o conteúdo digital é fundamental para evitar perder tempo, ou pior, evitar decisões ou aconselhamentos errados com base em informação pouco verificada.

Leia ainda: Adeus boomers, olá millennials

“Conteúdos caçadores”

Possivelmente já lhe aconteceu ser captado e acreditar em algo que foi comunicado em rede social através de técnicas de persuasão que, em muitos casos, são pouco éticas e até fora de contexto, para mais tarde verificar que a promessa não cumpria. Mas isto não acontece só nas redes sociais, aliás, isto já acontecia no passado com a diferença de que o nível de exposição hoje é substancialmente maior e mais invasivo. Quem se lembra por exemplo quando se ia às páginas amarelas para encontrar o primeiro “profissional” da lista para resolver o nosso problema? O que prometiam e entregavam era muitas vezes, e infelizmente, diferente.

Sejam quais forem os meios, existirão sempre os “conteúdos caçadores” com aspeto delicioso e de fácil acesso e as “presas da mensagem” que procuram soluções fáceis e rápidas para se saciar.

E como a mecânica parece funcionar, talvez falte alguma ética para quem não está frente a frente com o seu target e cria conteúdos para vender ou promover, em que tudo vale: cópia; promessas exageradas; omissão; contrainformação e até mentira…

Na minha área, ou seja, no imobiliário, e em específico na mediação imobiliária, nem sempre as melhores oportunidades de compra de imóveis estão online, nem sempre os melhores agentes são os que melhor se promovem nas redes sociais e nem sempre os melhores conselhos são os que lemos nos scrolls do nosso feed.

Leia ainda: Amanhã é sempre dia 1

A importância de acrescentar valor

Ver e ser visto online é hoje uma parte da nossa vida, é inegável para a maioria, mas podemos fazê-lo de forma equilibrada para melhorar a nossa dieta e aquilo com que alimentamos a nossa comunidade.

Primeiro, pense na ética da sua promessa. Pode cumpri-la?

Depois, pense no seu conteúdo e nas pessoas a quem vai servi-lo. Não precisa de postar a toda a hora para ser visto, contudo vai precisar de ser consistente. Que tal começar com 1 post por dia? Mais vale um post nutritivo por dia do que muitos com uma enorme quantidade de cópias ou banalidades. Gaste o seu tempo a criar e não a copiar.

Pense. Se a frequência e o conteúdo são importantes, muito mais importante será a sua conexão com as pessoas a quem se destinam. Alimente uma comunidade autêntica, não caia na tentação de comprar likes e followers para o consumirem de forma rápida. Faça com que eles o sigam por aquilo que você é e pelo conteúdo de qualidade que “cozinha” especialmente para eles. A conexão vai ser comprovada pela venda, fidelização ou recomendação.

Os algoritmos vão cada vez mais dar maior atenção a conteúdo original e de qualidade, conteúdo saudável que ajude verdadeiramente alguém em alguma coisa.

Pode utilizar técnicas de persuasão. No fundo, a persuasão é humana. Contudo, opte sempre pelo princípio da livre escolha, evite a manipulação, evite o impingir e o manipular, pense em alimentar com propósito, com relevância e com “sabor” que será nutritivo a longo prazo.

Leia ainda: O mercado imobiliário vai mesmo mudar, não fique para trás