BCE anuncia nova subida ‘jumbo’ dos juros. Qual o impacto?

O Banco Central Europeu (BCE) voltou a subir as taxas de juro na reunião de outubro, o que se traduzirá num aumento dos encargos das famílias e empresas com os seus financiamentos junto dos bancos. Para as famílias, em particular, um novo agravamento dos juros que pagam todos os meses pelo empréstimo da casa.

Assim, o BCE anunciou um novo aumento “jumbo” de 75 pontos base das taxas de referência, que é o segundo consecutivo desta dimensão, e o terceiro desde julho. Nesse mês, recorde-se, a autoridade monetária decidiu subir os juros diretores em 50 pontos base, naquele que foi o primeiro aumento em 11 anos.

Assim, a taxa aplicável à facilidade permanente de cedência de liquidez passa para 2,25%, a taxa dos depósitos para 1,5% e a taxa de juro aplicável às principais operações de refinanciamento sobe para 2%, o nível mais alto desde julho de 2008.

"Com este terceiro grande aumento consecutivo das taxas diretoras, o Conselho do BCE avançou consideravelmente com a eliminação da acomodação da política monetária", refere a autoridade monetária liderada por Christine Lagarde, no comunicado emitido após a reunião.

Novos aumentos à vista

Com estes aumentos consecutivos dos juros, que representam uma reversão da política monetária expansionista do banco central, o BCE está a tentar controlar a forte subida da inflação, dando cumprimento ao seu mandato primordial, que é a manutenção da estabilidade dos preços na Zona Euro.  

No entanto, o crescimento generalizado dos preços não tem dado sinais de abrandamento, obrigando a autoridade monetária a colocar mais um travão à procura. Em setembro, a taxa de inflação na região da moeda única fixou-se nos 9,9%, muito acima do objetivo do banco central, que é de uma inflação próxima dos 2%.

Perante este cenário, o BCE admite que será necessário continuar a subir os juros, ainda que a trajetória futura esteja sempre dependente da evolução da economia e das perspetivas para a evolução dos preços. O BCE “espera continuar a aumentar as taxas de juro” com o objetivo de “assegurar o retorno atempado da inflação ao seu objetivo de 2% a médio prazo”, sublinha o comunicado, acrescentando, porém, que baseará a “trajetória futura das taxas de juro diretoras na evolução das perspetivas de inflação e económicas, seguindo a sua abordagem reunião a reunião”.

Significa isto que o BCE vai acompanhar de perto a evolução da economia, mas que o cenário mais provável é que sejam necessárias mais subidas nas próximas reuniões. No último encontro, Christine Lagarde já havia admitido que poderiam anunciar mais três ou quatro aumentos nas próximas reuniões.

A confirmar-se esta perspetiva, os juros ficarão acima dos 3% no início do próximo ano.

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Qual o impacto da subida dos juros?

A subida dos juros de referência por parte do BCE tem um impacto direto nos custos de financiamento das famílias e empresas, impondo um aumento dos encargos com os empréstimos aos bancos.

Para as famílias com crédito habitação, vai significar mais uma subida das prestações que pagam pela casa, e assim, mais uma “machadada” no orçamental mensal.

Mas porquê? Ainda que não seja o BCE a fixar o valor das Euribor – a que estão indexados a maioria dos contratos de crédito habitação em Portugal – estas taxas seguem (e muitas vezes antecipam) a evolução dos juros diretores, que são definidos pelo banco central. Assim, qualquer variação dos juros tem impacto nas Euribor e, consequentemente, nas taxas de juro que definem o “preço” a pagar aos bancos pelo crédito habitação.

Sinal dessa antecipação das Euribor é que a taxa a 6 meses – a mais utilizada nos contratos de crédito habitação no país – já está acima dos 2,1%.

Assim, podemos esperar que as taxas Euribor continuem a aumentar nos próximos meses, antecipando a própria subida dos juros diretores na região, ditando novos acréscimos nos custos do crédito.

Considerando o cenário mais provável de as Euribor estarem em torno de 3% no início do próximo ano, isso significará uma subida de cerca de 144 euros da prestação mensal de um crédito habitação de 200 mil euros a 20 anos, indexado à Euribor a 6 meses e com um spread de 1,2%. Nesse crédito, a prestação mensal é hoje de 1.088,88 euros, e passará para 1.233,14 euros com um aumento da Euribor a 6 meses para os 3%.

No caso de a Euribor a 6 meses passar para os 5%, a prestação mensal aumenta para 1.456 euros, mais 368 euros do que hoje.

Para facilitar as suas contas, recorra ao simulador da variação da Euribor no crédito habitação, onde pode ensaiar possíveis aumentos da Euribor e perceber que impacto vão ter no seu crédito.

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