Ouviu dizer que os juros estão a subir, mas não sabe como é que a sua prestação do crédito habitação será afetada? Gostava de simular o impacto que a subida da Euribor terá no seu crédito? Está preocupado, pois não sabe qual é o valor máximo que a sua prestação mensal pode atingir? De seguida, vamos responder a estas e outras questões relacionadas com a subida da Euribor e o impacto do seu aumento nas prestações do crédito habitação.
Porque é que a minha prestação de crédito vai aumentar?
Se ouviu falar da subida das taxas Euribor, mas não sabe a que se deve este aumento, saiba que esta alteração está associada à subida da inflação na zona euro. Desde o dia 4 de fevereiro, as taxas Euribor começaram a ter uma subida mais significativa, principalmente nos prazos a 6 e 12 meses. Esta subida tornou-se expressiva após o Banco Central Europeu (BCE) admitir publicamente que os juros este ano poderiam subir devido aos valores da inflação em vários países da Europa.
Caso não saiba, a Euribor é um dos principais indicadores do crédito habitação em Portugal. Ou seja, estamos a falar de uma taxa de referência, que reflete a taxa média cobrada pelos bancos da União Europeia (UE) entre si sem garantias.
Se tem um crédito habitação contratado, provavelmente sabe que não existe uma taxa Euribor, mas sim várias. Isto significa que antes de avançar com um crédito, pode escolher o prazo da Euribor. Ou seja, pode escolher de quanto em quanto tempo a sua taxa de juro é revista.
Na prática, existem diversos prazos: uma semana, um mês, três meses, seis meses e um ano. Contudo, no crédito habitação as taxas Euribor mais comuns são a 3, 6 e 12 meses. Por exemplo, se optou por uma Euribor a 6 meses, a taxa de juro aplicável é revista semestralmente.
E na prática, se os juros estiverem a subir, de 6 em 6 meses terá um aumento na sua prestação mensal de crédito. Isto só acontece porque tem uma taxa variável associada ao seu contrato de crédito habitação. Com uma taxa de juro fixa pagaria o mesmo valor até ao fim do prazo do seu contrato, independentemente da Euribor subir ou não.
Dado que neste momento a inflação continua a subir, prevê-se que o BCE atue e vá subindo os juros de referência na Zona Euro. Ou seja, a subida dos juros é uma forma do Banco Central Europeu controlar a inflação. E por sua vez, este controlo afeta o valor da Euribor e a sua prestação de crédito.
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Com os juros a subir, qual será o aumento da minha prestação de crédito?
Para perceber qual será o impacto na sua prestação de crédito com a subida da Euribor, precisa de ter em conta qual é o valor médio da Euribor no prazo contratado. Por exemplo, em abril, a média da Euribor a 6 meses foi de -0,3109%. No entanto, ao valor da Euribor precisa de somar a percentagem do seu spread. A soma destes dois valores representa a sua TAN. Se tiver um spread de 1,4%, em abril, a sua TAN seria de 1,0891%.
Vamos a exemplos práticos para perceber melhor. Para simplificar as contas, vamos prossupor que a sua TAN já se encontra a 1.1%. Num crédito com um capital em dívida de 150.000 euros com um prazo a 360 meses (30 anos), terá aproximadamente uma prestação de 489,38 euros.
Se a Euribor subir para 1% e com um spread de 1,4%, a sua TAN ficará com o valor de 2,4%. E qual é o impacto que esta subida dos juros tem na sua prestação de crédito? Um aumento significativo na sua prestação mensal. Ou seja, a sua prestação mensal passaria a 584,91 euros. Isto significa um aumento 95,53€.
Mas e se os juros continuarem a subir?
Pegando no mesmo exemplo, vamos criar três cenários para perceber o impacto de uma subida dos juros um pouco alarmante. O primeiro com uma subida da Euribor para 2%. O segundo para 3%. E o terceiro cenário com o aumento da Euribor para 4%. Se tivermos em conta os mesmos valores que referimos anteriormente, ou seja, um spread de 1,4%, um capital em dívida de 150.000 euros com um prazo a 30 anos, o impacto seria o seguinte:
No primeiro cenário, com uma TAN de 3,4%, a sua prestação mensal atual de 489,38 euros (TAN de 1.1%) passaria para 665,22 euros. Ou seja, num cenário com os juros a subir progressivamente a longo prazo, a sua prestação mensal sofreria um aumento de 175,84€.
Caso a TAN alcançasse o valor de 4,4%, a prestação mensal do seu crédito ficaria com o valor de 751,14 euros. Isto significa que em relação à sua prestação atual pagaria mais 261,76 euros.
Já com uma TAN de 5,4%, a subida dos juros teria um impacto ainda mais alarmante nas suas finanças, tendo em conta a sua prestação inicial de 489,38 euros. E isto porquê? Porque com uma TAN de 5,4% a sua prestação mensal subiria para 842,30 euros. Ou seja, haveria um aumento de 352,92 euros.
Até onde pode aumentar a prestação do meu crédito habitação?
Embora seja impossível dizer um valor máximo que a Euribor alcançará nos próximos tempos, se tiver em conta os valores registados no passado, o mais provável é que a Euribor a 6 meses não ultrapasse significativamente os 5%. E isto porquê? Porque se fizer uma análise aos valores dos últimos 23 anos, entre o ano de 1999 e 2022, a Euribor só ultrapassou os 5% em dois anos.
Em agosto de 2000, a Euribor chegou aos 5%, subindo até dia 31 de outubro desse ano para os 5.202%. Mas antes do final do ano de 2000 esta taxa começou a descer. Depois de um período de decréscimo significativo, em 2006 a Euribor começou a subir novamente. Em 2008 esta taxa alcançou novamente valores máximos, sendo que em outubro desse ano alcançou o valor de 5,448%. Desde esse mês, a Euribor foi descendo progressivamente, e no final de 2015 entrou em valores negativos, e assim se manteve até ao final de abril de 2022.
Nota: Análise feita à Euribor a 6 meses através do site Euribor Rates.
Assim, se basear a sua análise nos últimos 23 anos, é provável que a Euribor não ultrapasse significativamente os 5%. Se atualmente a sua TAN for de 1,1% como no exemplo aqui usado, com a subida da Euribor para 5%, ficaria com uma TAN de 6,4%.
Isto quer dizer que no pior cenário, a sua prestação mensal subiria até aos 938,26€, ou seja, poderia pagar mais 448,88 euros comparativamente à sua prestação atual de 489,38 euros.
Com os juros a subir, a minha prestação vai aumentar para esses valores máximos de forma repentina?
Não. A taxa Euribor não irá passar de valores negativos para 5% repentinamente. Aliás, se analisarmos a última subida histórica da Euribor entre 2005 e 2008, foram 3 anos de uma subida progressiva. Por exemplo, em junho de 2005 a Euribor estava noa 2.085%. A 23 de junho de 2006 chegou aos 3.182%. Em 22 de junho de 2007 aos 4.298%. E em 25 de junho de 2008 alcançou os 5.125%. Aproximadamente, houve uma subida de 1% todos os anos.
Logo, tendo em conta que neste momento a Euribor a 6 meses ainda se encontra em valores negativos, mas perto de chegar a valores positivos, se o mesmo cenário se repetisse, só entre 2027/2028 é que a Euribor chegaria aos 5%. Claro que todos estes exemplos são cenários hipotéticos. No entanto, servem para perceber que o Banco Central Europeu atua de forma progressiva e não passará a Euribor de 0% a, por exemplo, 4% nos próximos 6 meses ou 1 ano.
Prepare o seu orçamento para a subida da Euribor
Para muitas famílias, as prestações do crédito habitação têm um peso bastante significativo no seu orçamento familiar. E por isso, com os juros a subir, é necessário ponderar bem o que fazer caso, para que a subida da Euribor não comprometa as suas finanças pessoais.
Em primeiro lugar, com os juros a subir progressivamente, este não é um momento para contratar novos créditos, mas sim otimizar a gestão do orçamento familiar. Se tem vários créditos contratados, este é o momento ideal para informar-se sobre a possibilidade de consolidar os seus créditos.
Afinal, se tiver um crédito habitação, um crédito automóvel e cartões de crédito, obter um crédito consolidado pode ser uma solução para ganhar uma folga no seu orçamento. Isto porque quando consolida todos os créditos num só, fica com uma única prestação, com uma taxa de juro menor a nível global, o que permite uma poupança mensal expressiva.
Se o seu crédito habitação tem condições desatualizadas face às atualmente oferecidas pelas entidades bancárias, é aconselhável renegociar as condições junto do banco que concedeu o seu empréstimo. Mas se a proposta não for de acordo com as suas expetativas, informe-se sobre a possibilidade de transferir o seu crédito habitação para outro banco.
Por fim, esta também é uma boa altura para rever a sua carteira de seguros, uma vez que pode ter coberturas que já não são úteis ou até podem estar duplicadas. Não se esqueça de olhar para o seu orçamento familiar, identificar despesas que não são essenciais e fazer os ajustes que achar necessários.
Lembre-se que quanto maior for a sua folga financeira, menor será o impacto de um aumento considerável na sua prestação do crédito habitação.
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