O que são as SPAC?

O termo Special Purpose Acquisition Company (SPAC) surgiu em 1993. No entanto, só nos anos mais recentes ganhou maior notoriedade.

Nos anos 2020 e 2021, assistiu-se a um largo crescimento do número de SPAC que entraram na bolsa norte-americana. Em 2020, entraram em bolsa 274 empresas deste tipo, representando um valor total de cerca de 80 mil milhões de dólares. Em 2021, foram batidos todos os recordes com 613 a chegarem à bolsa dos Estados Unidos.

Para ter uma noção do crescimento que as SPAC tiveram nos últimos anos, tenha em consideração que, no ano de 2019, apenas 59 entraram em bolsa, o que representou um valor total de apenas 13 mil milhões de dólares.

Tendo em conta o crescimento deste tipo de empresas em bolsa nos últimos anos, explora-se abaixo o conceito de SPAC, bem como as suas vantagens e desvantagens.

O que são empresas SPAC?

As SPAC são também conhecidas por empresas cheque em branco: não têm operações comerciais e entram em bolsa apenas com o objetivo de comprarem ou se fusionarem com uma empresa privada existente, ou seja, que não se encontre cotada em bolsa.

Ao efetuarem esta aquisição ou fusão, fazem com que a empresa adquirida ou fusionada fique cotada em bolsa, sem passar por todo o habitual processo exigente de entrada em bolsa.

Muitas vezes, a própria SPAC não anuncia aos investidores, numa fase inicial, o tipo de empresa ou de negócio que pretende adquirir.

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Como funciona uma SPAC?

O seu modo de funcionamento pode resumir-se de acordo com as seguintes etapas:

Para além disso, uma SPAC tem cerca de dois anos para fechar um negócio. Caso não o faça durante esse período é liquidada, e o dinheiro que obteve é devolvido aos investidores.

Porque é que empresas privadas entram em bolsa via SPAC?

A entrada em bolsa via SPAC, em vez da tradicional Oferta Pública Inicial, tem vantagens. Destacam-se as seguintes:

Quais as vantagens de investir? E desvantagens?

A principal vantagem de investir numa SPAC tem a ver com a sua filosofia de investimento. No caso, muitas das SPACs procuram oportunidades em setores com um elevado potencial de longo prazo, nomeadamente o tecnológico.

Caso a SPAC adquira, por exemplo, uma empresa com muito potencial, e numa fase ainda inicial de negócio, ganha exposição desde cedo a uma empresa com um grande potencial de valorização.

No entanto, também existem algumas desvantagens no investimento em SPAC e que fazem com que o risco possa ser muito elevado:

Assim, ao investir numa SPAC, ao contrário de uma "empresa normal", não existe informação financeira relevante para analisar. Neste caso, para analisar a possibilidade de investimento, deve verificar o prospeto da mesma.

No prospeto pode encontrar algumas informações relevantes sobre a SPAC, nomeadamente os setores onde a mesma pretende investir, bem como informação sobre os seus fundadores.

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Como pode investir em SPAC?

Relativamente ao investimento em SPAC, pode investir de forma individual, através de uma corretora.

No entanto, existem também ETF ligados a SPAC que permitem um certo nível de diversificação. Como estas empresas apresentam um grande risco, optar por um ETF diversificado pode ser uma opção a considerar.

Alguns exemplos de ETF com exposição a SPAC são o CrossingBridge Pre-Merger SPAC ETF e o The SPAC and New Issue ETF. De notar, contudo, que se tratam de ETF criados em 2020 e 2021, portanto ainda sem grande histórico.

Em termos de rentabilidade, até agora, as SPAC têm apresentado um fraco desempenho, de acordo com algumas estatísticas de bancos de investimento, como o Goldman Sachs.

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O caso português

Apesar do grande crescimento que este tipo de sociedades veículo têm tido no mercado norte-americano, mas também em alguns mercados europeus, a verdade é que, até agora, em Portugal não há histórico de entrada de empresas em bolsa através deste mecanismo.

Sobre este tipo de entidades, é de notar que já este ano, mais concretamente em abril de 2022, a Comissão de Mercado de Valores Mobiliários (CMVM) emitiu um comunicado a clarificar que a legislação nacional permite a entrada em bolsa a este tipo de empresas.

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Alguns exemplos do mercado americano

Apresentam-se, de seguida, dois exemplos de SPAC cotadas no mercado norte-americano.

Churchill Capital Corp IV - Lucid Group

Trata-se de uma SPAC lançada na bolsa americana em julho de 2020, com um IPO no valor de 1,8 mil milhões de dólares.

Cerca de um ano depois, anunciou uma fusão com a empresa Lucid Group. Trata-se de uma companhia ligada à área dos veículos elétricos de luxo, sendo uma empresa que pretende ser uma forte concorrente da Tesla. No momento desta fusão, a SPAC passou a transacionar em bolsa com o nome Lucid Group. Adicionalmente, com esta fusão, os investidores na SPAC passaram a ter uma posição de cerca de 16% na Lucid Group.

Pershing Square Tontine Holdings

Esta SPAC foi criada por Bill Ackman, um conhecido multimilionário norte-americano que, em novembro de 2020, obteve cerca de 4 mil milhões de dólares através da sua criação.

Inicialmente, esta SPAC tinha planeado adquirir uma posição na empresa Universal Music Group. No entanto, já durante o mês de julho 2022, a SPAC anunciou que iria devolver o dinheiro aos acionistas, uma vez que não vai fechar qualquer aquisição. A SPAC justificou esta decisão com as condições desfavoráveis dos mercados financeiros.