A subida das taxas Euribor tem levantado muitas dúvidas e receios, principalmente a quem tem empréstimos associados a este tipo de taxas. Uma das grandes dúvidas é até onde podem subir as taxas e a prestação de crédito.
Ninguém poderá dizer ao certo até onde podem chegar os juros nos próximos tempos, mas ao analisar o historial da Euribor nas duas últimas décadas, consegue perceber-se até onde já chegaram: 5%. Contudo, para que consiga entender o que aí vem e que tipos de valores a sua prestação de crédito habitação pode alcançar, segue-se um resumo da história da Euribor desde a sua criação em 1999 até aos dias de hoje.
Saiba ainda o que fazer para equilibrar as suas finanças de forma a suportar um aumento da prestação de crédito.
E se está a pensar contratar um crédito habitação, descubra como analisar vários cenários antes de assinar um contrato. Assim, caso não seja capaz de suportar um aumento das taxas de juro daqui a uns meses ou anos, analise primeiro como pode melhorar as suas finanças antes de dar este passo.
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Afinal, o que é a Euribor?
Dada a subida da taxa Euribor, são cada vez mais as notícias que surgem à volta desta taxa. No entanto, mesmo não sendo desconhecida, existem muitas pessoas que não sabem o que é realmente a Euribor e o que faz esta taxa subir e descer.
As taxas Euribor não são definidas pelo Banco de Portugal, nem pelos bancos portugueses. Na prática, esta é uma taxa de referência que reflete o que os bancos da União Europeia cobram para emprestarem dinheiro entre si sem garantias, através de um painel composto por bancos específicos.
Para perceber melhor, este painel é composto por bancos com uma solvabilidade extremamente boa, a quem são solicitados dados para determinar a Euribor. Esta ação é controlada pela Federação de Bancos Europeus. Em Portugal, o único banco que integra este painel é a Caixa Geral de Depósitos.
Quanto ao seu cálculo, este é feito com base em múltiplos exemplos reais, reportados por diversos bancos que realizam operações regulares nos mercados europeus. Para determinar o valor da Euribor excluem-se 15% das taxas mais altas e 15% das mais baixas.
Mas afinal, o que causa as flutuações da Euribor? Essencialmente é a previsão da subida de juros por parte do Banco Central Europeu (BCE). As taxas Euribor costumam acompanhar os movimentos das chamadas taxas de referência, que são determinadas pelo banco central. E, nesta altura, com a subida da inflação na Zona Euro, o BCE deve agir, subindo os juros.
Isto porque a missão do BCE dita que a inflação deve estar controlada, em torno dos 2%. Em maio, a taxa de inflação na Zona Euro superou os 8%. Num contexto oposto, de crise, como a que vivemos a partir de 2008, as taxas de juro costumam sofrer cortes.
Porque é que analisar a Euribor é tão importante?
Desde o dia 1 de janeiro de 1999, data da criação da Euribor (em simultâneo com o euro), que esta taxa é usada como referência em vários produtos financeiros. O caso mais conhecido é o crédito habitação, sendo um dos principais indexantes neste tipo de financiamento. Isto porque todos os contratos de crédito habitação com uma taxa variável, estão sujeitos à flutuação da Euribor no prazo escolhido.
Ou seja, a Euribor é calculada por referência a diferentes prazos. E por isso, não se trata de uma taxa e sim de várias. Existe a Euribor com os seguintes prazos: uma semana, um mês, três meses, seis meses e doze meses. E todos os dias são anunciados os valores das taxas Euribor em cada um destes prazos.
No entanto, no caso do crédito habitação, os prazos mais comuns são a três meses, seis meses e doze meses. Isto significa que se contratou um crédito com uma taxa Euribor a seis meses, o valor da sua prestação de crédito será revisto semestralmente. Quando a Euribor sobe, inevitavelmente a sua prestação de crédito também irá subir, o mesmo se aplica quando desce.
Por isso, é fundamental estar a par dos valores da Euribor, pois ela terá um impacto na sua prestação de crédito, e consequentemente no seu orçamento familiar.
Contudo, a Euribor não afeta apenas o crédito habitação. Esta taxa também serve como referência em outros instrumentos financeiros e produtos de poupança, como é o caso dos certificados do tesouro ou contas poupança.
A história da Euribor de 1999 a 2008
A história da Euribor é marcada por vários "twists" ao longo destas últimas décadas. Mas existem dois marcos históricos que tiveram um impacto na vida de inúmeras pessoas.
Como referimos, a Euribor nasceu no mesmo dia em que foi criado o Euro, em 1999. No dia da sua criação, a Euribor a 6 meses tinha o valor de 3,233% e a Euribor a 12 meses o valor de 3,213%, sendo que nos primeiros meses estas taxas registaram quedas acentuadas. A 19 de maio de 1999, a Euribor a 6 meses encontrava-se a 2,597% e no prazo de 12 meses a 2,688%.
Contudo, esta descida duraria pouco tempo. A partir de junho de 1999 a Euribor começou a subir e superou os 5,3% no prazo a 12 meses, a 17 de agosto de 2000. Já em novembro de 2000, o mesmo aconteceu com o prazo a 6 meses, quando a Euribor superou os 5,1%.
No entanto, ainda antes do final de dezembro do ano 2000 as taxas Euribor começaram a descer, deixando assim os 5%. Esta descida foi progressiva até 2004. A partir do final de 2005, as taxas Euribor retomaram a tendência de subida, culminando em valores históricos em 2008, próximas do 5,5%.
Estas oscilações, de subidas e descidas, estiveram, na maior parte dos casos, relacionadas com a perspetiva de atuação do BCE. Quando se antecipa que o banco central vai subir juros, as taxas Euribor sobem, antecipando-se a esse movimento, e quando se prevê que desça a taxa de referência para a Zona Euro, as taxas Euribor descem.
Desde a sua criação que as taxas Euribor atingiram, por duas vezes, picos superiores a 5% (segundo semestre de 2000 e verão de 2008). Desde 2016 que recuaram para valores negativos, devido à política monetária implementada pelo BCE depois da crise financeira que assolou o mundo, tendo apenas voltado a valores positivos este ano. Esta inversão está relacionada, precisamente, com a perspetiva de aumentos de juros por parte do banco central devido à elevada taxa de inflação.
Na história da Euribor, depois da tempestade vem a bonança
Os dois períodos em que a Euribor alcançou valores superiores a 5% representaram custos acrescidos para quem tinha crédito indexado a estas taxas. 2008 foi o ano marcado pela crise do subprime nos EUA, que provocou a falência de instituições financeiras de grande dimensão e que acabou por contagiar o resto do mundo.
Os anos seguintes foram marcados por uma crise financeira à escala mundial, que exigiu a intervenção dos bancos centrais. O BCE, è semelhança da Fed (Reserva Federal Americana) e de outros bancos centrais mundiais, reduziu a taxa de juro de forma abrupta, provocando a descida, igualmente abrupta das taxas Euribor.
Se em outubro de 2008 as taxas Euribor atingiram o seu pico mais elevado de sempre, perto dos 5,5%, um ano depois negociavam em torno de 1%.
Os anos seguintes foram marcados por subidas ligeiras até que, em 2011, a crise de dívida assolou a Europa, tendo implicado o pedido de ajuda financeira por parte de países como a Grécia, Irlanda e Portugal. Neste período, o BCE voltou a atuar e a reduzir os juros de referência para a Zona Euro, bem como a implementar outras medidas de estímulo económico. O que culminou com as taxas Euribor em valores negativos em 2015.
Nota: Todos os dados referidos neste artigo têm como referência o site Euribor Rates.
Prepare-se para a subida da Euribor mas mantenha a calma
A história ajuda-nos a perceber o comportamento das taxas Euribor. E a perceber também que as subidas das taxas de juro não são abruptas. Se recuarmos a 2008, quando a Euribor superou pela última vez os 5%, conseguimos perceber que o movimento de subida foi gradual e começou em 2005, altura em que as taxas se situavam em torno dos 2,5%.
Ou seja, é importante perceber que o Banco Central Europeu atua de forma progressiva, e, consequentemente, as taxas Euribor também sobem de forma progressiva. Ainda assim, é importante perceber que estamos a atravessar um período de subida de juros. Ninguém poderá dizer até onde pode aumentar a prestação do crédito devido à subida das taxas de juro, mas deve preparar-se e perceber qual o impacto que pode ter na sua carteira.
Para facilitar esta análise, o Doutor Finanças desenvolveu o Simulador da Variação da Euribor no Crédito Habitação, através do qual pode simular várias situações e perceber se pode (e deve) atuar para se proteger da subida das taxas Euribor.
Antes de avançar com um crédito habitação, olhe bem para a FINE
Contratar um crédito, sabendo exatamente todas as condições que este implica, nem sempre é uma tarefa fácil. Afinal, há informações mais complexas, e várias taxas associadas que dificultam a perceção do que está realmente a pagar e a comprometer-se. E, por isso mesmo, é que existe a FINE, a Ficha de Informação Normalizada Europeia.
Este é um documento onde constam todas as informações que devem ser prestadas aos contratantes, mas também aos fiadores. Além de facilitar a comparação de propostas de crédito devido à apresentação padrão das condições do crédito nas várias entidades bancárias, a FINE facilita a leitura das condições e até de cenários hipotéticos.
Por exemplo, se for contratar um crédito habitação com taxa variável, na secção "quadro de reembolso" irá encontrar alguns dados essenciais que o ajudam a perceber o impacto que a subida dos juros terá na sua prestação de crédito. Nos dados do plano financeiro do empréstimo, consta uma simulação do aumento da TAN (Taxa Anual Nominal) para o valor mais elevado da Euribor. Assim, pode analisar se conseguiria suportar a sua prestação de crédito no pior cenário da história da Euribor.
Nunca se esqueça que ao contratar um crédito habitação com uma taxa variável está sujeito às flutuações da Euribor. Por isso, faça simulações para vários cenários, como por exemplo com uma TAN de 3%, 4%, 5%, 6% ou 7%.
A TAN é no fundo a soma do seu spread com a Euribor. Assim, se tiver um spread de 1,4% e a Euribor subir para 1%, a sua TAN será de 2,4%. Caso a história volte a repetir-se nos próximos anos, com um spread de 1,4%, e a Euribor a 5%, a sua TAN seria de 6,4%.
E qual o impacto que esta evolução teria para o seu crédito? Vamos imaginar que tem um crédito de 100 mil euros, a 30 anos. Uma TAN de 2,4% corresponde a uma prestação de 389,94 euros. Se a TAN aumentasse para 6,4% a prestação subia para 750,61 euros. Mas atenção, isto são cenários extremos, não se antecipando neste momento subidas tão acentuadas. Ainda assim, é importante que tenha noção do que pode acontecer ao seu orçamento, mesmo em caso extremos.
Como é que a história da Euribor pode ajudar as suas finanças?
Ao olhar para a história da Euribor consegue prever que a sua prestação de crédito poderá sofrer um aumento nos próximos tempos. Ou seja, tendo noção do que aconteceu no passado, poderá precaver-se para não ser apanhado desprevenido com estes eventuais aumentos.
Mas como é que pode proteger as suas finanças pessoais do aumento progressivo da Euribor? Controlando as suas finanças, mas também tentando ganhar uma folga no seu orçamento familiar. E como é que poderá obter essa folga? Começando por renegociar o seu crédito habitação.
Afinal, se contratou um crédito habitação há alguns anos, provavelmente poderá obter melhores condições contratuais nos dias de hoje. Ou seja, se renegociar as condições junto do banco que concedeu o seu crédito habitação, poderá obter um spread mais baixo e baixar o valor de produtos associados ao seu contrato, como seguro de vida do crédito habitação e seguro multirriscos.
No entanto, não se esqueça que poderá transferir o seu crédito habitação para outro banco e obter condições mais vantajosas. Muitas vezes, com a transferência do seu crédito habitação consegue poupar dezenas ou centenas de euros, diminuir o prazo do seu contrato e, em algumas situações, ainda é possível eliminar outros custos, como os seguros associados ou outros produtos contratados, bem como retirar fiadores do contrato.
Claro que tudo irá depender das garantias que consegue fornecer à entidade bancária. Contudo, informe-se sobre os potenciais custos que pode ter antes de avançar, como a comissão por reembolso antecipado do crédito, sendo que há bancos que para atraírem novos clientes suportam estes encargos com a transferência.
Outras formas de aumentar a sua folga financeira
Além de renegociar o seu crédito, caso pretenda aumentar a sua folga financeira, reveja a sua carteira de seguros. Analise bem as coberturas que constam em todos os seus seguros, pense na utilidade que estas têm para si (se pode ou não excluir algumas coberturas da sua apólice) e garanta que não tem coberturas duplicadas em diferentes seguros.
Caso tenha vários créditos, como um crédito habitação, crédito automóvel, cartões de crédito ou outros, informe-se sobre a possibilidade de consolidar todos os seus créditos num só. E isto porquê? Porque o crédito consolidado permite-lhe baixar a taxa de juros de alguns créditos, o que diminui consequentemente os encargos com os seus empréstimos. Além disso, ficará mais simples não falhar com as suas obrigações, pois terá apenas uma fatura para pagar todos os meses.
Por fim, olhe para o seu orçamento familiar e identifique se existem despesas não essenciais que poderá cortar. Por exemplo, analise se tem subscrições de serviços que não utiliza frequentemente. Não se esqueça ainda que tem a hipótese de poupar através de algumas mudanças de hábitos mais saudáveis, como deslocar-se menos de carro ou até preparar as suas refeições em casa.
Assim, quanto maior for a folga financeira que criar, maior será a estabilidade na sua vida financeira. Afinal, se após pagar todas as suas despesas ainda sobrar um valor considerável, provavelmente conseguirá suportar o impacto da subida da Euribor na sua prestação de crédito.
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