A minha prestação de crédito vai subir: Quando devem soar os alarmes?

Desde fevereiro passado que as taxas de Euribor estão a subir, em todos os prazos. Ainda que a maioria das taxas estejam ainda em valores negativos, é esperado que continuem a subir e isso terá implicações diretas para quem tem crédito associado à taxa Euribor.

O aumento da inflação levou a que os bancos centrais de quase todo o mundo se posicionassem. Nos EUA os juros já começaram a subir, enquanto na Zona Euro, o Banco Central Europeu (BCE) já indicou que vai atuar no mesmo sentido. Tudo com o objetivo de controlar a subida de preços e tentar controlar as suas consequências.

E o que é que isto significa para as famílias? Que provavelmente a sua prestação de crédito vai subir. Isto é válido para quem tem o seu empréstimo associado a uma taxa Euribor. Neste momento, a grande questão não é quando vai subir, porque é certo que vai, mas sim quando devem soar os alarmes para quem tem crédito.

Subida de juros será gradual

Um ponto que deve ter presente é que a subida de juros será gradual. O BCE tem como missão assegurar a estabilidade de preços, ou seja, manter a inflação controlada. Mas uma subida de juros repentina pode provocar desequilíbrios económicos, que o banco central vai evitar ao máximo.

Historicamente, sempre que o BCE subiu as taxas de juro fê-lo de forma progressiva, e, neste momento, é o que o mercado está a antecipar. O swap a 5 anos - que é a referência sobre o que o mercado de capitais está a prever que seja a realidade nos próximos anos - está a negociar nos 1,3%, o que reflete que está longe de se antecipar uma subida agressiva dos juros.

Ainda assim, estes valores podem oscilar, dependendo da evolução da economia e de outros eventos que podem ter influência nas decisões de política monetária. Dito isto, o momento não é para pânicos. Este é o momento certo para perceber com o que pode (e deve) contar, de forma a evitar que a sua situação financeira se complique. O contexto atual recomenda cautelas e preparação, para que possa perceber qual a sua margem de manobra e como deve atuar.

Qual o impacto no seu orçamento?

Num cenário de subida da taxa Euribor para 1,3%, é determinante perceber qual o impacto na prestação do crédito.

Imaginemos um crédito de 100 mil euros, em que faltam 300 prestações para o seu final, que está associado à Euribor a seis meses e tem um spread de 1,25%. Este contexto com a Euribor ainda negativa (-0,417%) representa uma prestação de 369,36 euros. Imaginemos que a média da Euribor sobe para 1,3%, o mesmo empréstimo vai sofrer um aumento da prestação para 451,14 euros, ou seja, mais 81,78 euros.

Mais uma vez, é importante salientar que este aumento será progressivo. O exemplo ilustra apenas o que pode acontecer a uma prestação de crédito.

Ainda assim, se tem crédito habitação indexado a uma taxa Euribor, a sua prestação de crédito vai ficar mais cara e tem de perceber o impacto que vai ter no seu orçamento familiar.

Antes de contratar um crédito habitação, o banco mediu a sua taxa de esforço. No caso do crédito habitação, este não pode representar mais de 30% dos seus rendimentos, aquando da sua contratação.

Se este é o caso, tem alguma margem de manobra. Contudo, se tem outros empréstimos ou cartão de crédito, o cenário pode ser distinto. Assim, antes de mais, é aconselhável que simule a sua taxa de esforço e perceba qual a sua situação efetiva e faça simulações que impliquem aumentos de encargos. Desta forma, pode simular a sua taxa de esforço com aumentos distintos na sua prestação de crédito.

Para o ajudar nestas contas, apresentamos alguns exemplos que podem ajudar a esclarecer as suas dúvidas. Saiba ainda o que pode fazer para prevenir que o seu orçamento familiar fique em risco caso a sua prestação de crédito sofra uma subida acentuada.

Leia ainda: Crédito habitação: prepare-se para a subida dos juros

Como fica o seu orçamento com uma taxa de esforço mais elevada?

Calcular a taxa de esforço não tem de ser "um bicho de sete cabeças" para quem tem apenas um crédito. Afinal, a taxa de esforço é a relação entre o rendimento mensal líquido do seu agregado familiar e as suas despesas. Se apenas tiver uma prestação de crédito, por exemplo, de 400€, e o rendimento do seu agregado for de 2.000€, a fórmula de cálculo é a seguinte:

Taxa de esforço = (400/2.000) x 100 = 20%

Ou seja, isto significa que a sua taxa de esforço é de 20%, e por isso está abaixo do limite máximo recomendável de 30%. Mas vamos complicar um pouco as contas recorrendo ao simulador da taxa de esforço. Imagine que o seu agregado familiar tem o rendimento mensal líquido de 2.000€, uma prestação de crédito habitação no valor de 400€, uma prestação de um crédito automóvel de 100€ e ainda está a pagar uma dívida do cartão de crédito de 80€ mensais.

Para apurar a sua taxa de esforço, através do simulador, basta inserir estes dados nos campos indicados do simulador. No caso acima descrito, a taxa de esforço está nos 29%. Mas e se a prestação do seu crédito habitação subir? Qual a sua margem?

De realçar que no atual contexto, não é aconselhável subscrever novos créditos, pois pode comprometer o seu orçamento. Além disso, mesmo que o aumento não seja significativo, é importante que olhe para as suas despesas e faça pequenos cortes (por exemplo, em serviços não essenciais) de forma a aumentar a sua folga financeira.

Contudo, vamos supor um cenário no qual as taxas Euribor continuam a subir durante um longo período e a sua prestação de crédito tem uma subida significativa de, por exemplo, 200 euros. Neste cenário, a sua taxa de esforço chegaria aos 39%.

Dado que ainda terá de suportar as restantes despesas do seu agregado familiar, com esta taxa de esforço é recomendável que tome medidas de redução de encargos para que o seu orçamento não fique em risco. Ou seja, o corte das despesas não essenciais poderá não ser suficiente para ter a liquidez de que necessita.

Se os empréstimos representarem 50% ou mais do seu rendimento, é recomendável que atue de forma imediata. Não espere mais, antecipe-se e evite problemas financeiros.

Numa altura em que se antecipa que as taxas Euribor subam é determinante acautelar a subida dos juros e poupar.

Caso venha a passar por uma situação semelhante e não saiba o que fazer, indicamos algumas soluções que deve ponderar.

Leia ainda: Prepare-se para a subida da Euribor

Renegoceie as condições do seu contrato

Embora muitos portugueses não tenham o hábito de renegociar os seus contratos, saiba que se o fizer poderá poupar um valor significativo mensalmente em vários serviços, mas também nas suas prestações de crédito.

No caso do crédito habitação, o valor da sua prestação de crédito é influenciado por diversos fatores estabelecidos no seu contrato. A subida da Euribor apenas afeta as prestações de crédito associadas a taxas variáveis. Assim, a prestação é revista periodicamente, consoante o prazo acordado da Euribor, que poderá ser de 3, 6 ou 12 meses.

Ou seja, se a sua Euribor tiver um prazo de 6 meses, a sua prestação mensal é revista de 6 em 6 meses. E se os juros subirem ao longo do ano, isto significa que a sua prestação pode sofrer dois aumentos num ano.

Dito isto, o que é que pode tentar renegociar no seu contrato de crédito? Em primeiro lugar o seu spread. O spread representa a margem que o banco tem com o seu financiamento. E caso o seu contrato de crédito habitação tenha sido celebrado há vários anos, poderá ter um spread elevado face ao que está a ser praticado pelo mercado e face às suas condições atuais enquanto cliente.

Contudo, na hora de renegociar o contrato não se foque só no spread. Isto porque além do spread, o seu crédito habitação é influenciado por outras taxas como é o caso da TAEG. Caso consiga baixar o valor destas taxas, conseguirá diminuir os encargos com o seu financiamento.

Além disso, analise o preço que paga pelos seus seguros associados ao crédito habitação (seguro de vida e seguro multirriscos) e de outros produtos contratados para obter uma bonificação no seu spread. Se conseguir renegociar estas despesas pode baixar consideravelmente os seus encargos mensais.

Compensa optar uma taxa mista ou taxa fixa?

Não há respostas certas. Tudo depende da sua situação e da dimensão da subida dos juros. Ou seja, no momento em que contrata a taxa fixa, o contrato a taxa variável tem um valor de prestação mais baixo do que a taxa fixa. Mas isto não significa que se os juros continuarem a subir este cenário não se altere.

Por exemplo, se neste momento renegociar as condições do seu contrato de crédito habitação, ao optar por uma taxa mista (fixa nos primeiros anos do contrato e variável nos restantes) ou fixa (taxa inalterável durante todo o contrato), a sua prestação mensal ficará mais cara.

No entanto, ao mudar para uma taxa fixa a sua prestação de crédito deixa de ser afetada pela flutuação da Euribor. Na prática, isto pode trazer uma maior tranquilidade durante o prazo total do seu crédito, pois a sua prestação será a mesma até ao fim do contrato. E se a Euribor subir substancialmente, a taxa fixa contratada aos dias de hoje, poderá ser mais baixa que uma taxa variável daqui a uns anos.

Porém, estes são meros cenários hipotéticos e não existem certezas se esse dia chegará. Por isso, o mais importante é que faça contas, e veja se o aumento na prestação mensal compensa a tranquilidade de pagar o mesmo valor até ao fim do contrato.

Outra questão que deve ter em consideração é que se contratar um crédito a taxa fixa, se quiser vender a sua casa, para amortizar o crédito terá de pagar uma comissão de 2% sobre o valor em dívida. Já se o crédito estiver indexado a uma taxa variável a comissão é de 0,5%.

Caso não pretenda tomar já essa decisão, acompanhe a evolução das taxas de juro, e se achar que vale a pena mudar daqui a uns meses ou uns anos, poderá nessa altura pedir uma alteração contratual.

Leia ainda: Taxa fixa, variável ou mista. O que escolher no crédito habitação?

O banco não lhe dá melhores condições? Avalie alternativas

Idealmente, os processos de negociação devem ter início junto da entidade onde contratou o seu crédito habitação. Afinal, se o seu banco não estiver disposto a perdê-lo enquanto cliente, tentará encontrar uma solução benéfica para ambas as partes. Mas a verdade é que a proposta final do seu banco pode ficar aquém das condições que outras entidades bancárias têm para lhe oferecer.

Por isso, se está decidido a obter melhores condições no seu crédito habitação, o ideal é ter várias propostas em cima da mesa e comparar o que cada banco oferece. No entanto, nesta fase, olhe bem para as taxas, prazos de financiamento e para os produtos associados ao contrato.

Se identificar que existe uma proposta mais vantajosa para si, então a transferência do seu crédito habitação para esse banco pode ser bastante benéfica, e traduzir-se numa poupança mensal de dezenas ou centenas de euros.

Contudo, tenha atenção a alguns fatores antes de tomar essa decisão. E isto porquê? Porque poderá haver custos envolvidos. Hoje em dia, muitos bancos cobrem os custos da transferência do seu crédito habitação. Mas caso isso não aconteça, precisa de fazer contas para perceber se compensa transferir o seu crédito para outra entidade.

Afinal, a transferência de um crédito habitação implica o pagamento de uma comissão de reembolso antecipado. Esta comissão varia de 0,5% a 2% consoante a sua taxa de juro. Além disso, terá de suportar os custos de uma nova escritura, a avaliação do imóvel, comissões de serviços e outras despesas que, por norma, variam de banco para banco.

Nota: Se estiver com dificuldades em perceber a poupança que poderá obter, a calculadora de transferência de crédito habitação pode ajudá-lo com esta análise.

Leia ainda: Quantos bancos devo consultar antes de avançar com um crédito?

O caso real da Inês e do Diogo

A Inês e o Diogo (nomes fictícios) entraram em contacto com o Doutor Finanças, porque queriam reduzir os custos com o seu crédito habitação. Embora estivessem reticentes por ter contratado o seu crédito habitação há pouco tempo, foi possível conseguir obter uma poupança bastante significativa.

Em termos de condições iniciais, a Inês e o Diogo tinham:

Após o Doutor Finanças ter negociado as condições contratuais da Inês e do Diogo, fui possível melhorar o crédito habitação deste casal, que ficaram com as seguintes condições finais:

Ou seja, com a transferência do crédito habitação para outro banco, a Inês e o Diogo ficaram a poupar mensalmente 60,04€. Além disso, com a transferência do crédito habitação foi possível reduzir 2 anos do prazo do contrato. E na prática, isso significa uma poupança no final do contrato de 26.570€.

Reveja a sua carteira de seguros e não tenha medo de negociar ou mudar

Quando falamos em reduzir encargos mensais, hoje em dia, é essencial rever a nossa carteira de seguros. Afinal, a maioria dos portugueses têm no mínimo um seguro contratado. Mas o mais provável é que tenha mais de um seguro na sua carteira.

Ou seja, se tiver um automóvel (seguro automóvel) e um crédito habitação (seguro de vida e multirriscos), a sua carteira já é composta por três seguros. Se juntar o seguro de saúde a esta lista, no mínimo terá quatro seguros contratados. E ao somar os encargos com estes quatro produtos, irá descobrir que eles têm um peso significativo no seu orçamento familiar.

Assim, se pretende reduzir os seus encargos para conseguir gerir melhor o aumento da sua prestação de crédito, precisa de conhecer bem a sua carteira de seguros. O primeiro passo é analisar todas as coberturas para ver se estas não estão duplicadas em seguros distintos. Caso tenha coberturas repetidas, identifique a mais vantajosa e peça a exclusão das outras.

Posteriormente, tente negociar as condições dos seus seguros junto das seguradoras. Esta é uma fase que também requer investigação do mercado de forma a garantir que beneficia das melhores condições praticadas atualmente. Tal como acontece com os créditos, é importante que peça simulações e compare as propostas que tem em cima da mesa. Lembre-se que pequenas mudanças contratuais podem traduzir-se numa poupança anual muito significativa.

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Tem vários créditos? Informe-se sobre o crédito consolidado

O crédito consolidado pode ser a solução que procura para reduzir os custos com créditos. Ou seja, se para além do seu crédito habitação, tem outros créditos contratados, como um crédito automóvel, cartões de crédito ou outro tipo de crédito pessoal, poderá ser possível reduzir o valor total das mensalidades com os seus empréstimos.

E porque é que isto é possível? Porque ao consolidar os seus créditos num só, passa a ter uma única prestação de crédito com uma taxa de juro mais baixa em comparação à maioria dos créditos contratados. Isto porque existem financiamentos com taxas mais elevadas, como é o caso dos cartões de crédito. Ao ser aplicada a mesma taxa de juro a todos os seus créditos, há uma tendência para diminuir esta despesa.

Aliás, em muitos casos, o crédito consolidado não só facilita o cumprimento das suas obrigações, pois apenas tem uma fatura para pagar, como também permite uma poupança anual que pode chegar às centenas ou até aos milhares de euros.

Contudo, tenha atenção que o prazo do financiamento costuma ficar mais elevado. E na prática isto significa uma poupança imediata, que é vantajosa para quem pretende ganhar uma folga financeira no seu orçamento. No entanto, terá de fazer contas devido à possibilidade de um aumento de juros com o alargamento do prazo do contrato.

Além disso, não se esqueça de analisar as condições do crédito consolidado e certifique-se que esta é a melhor solução para si, de acordo com os seus objetivos de poupança.

Leia ainda: Como poupar com o crédito habitação?

Caso real da Carmo e do João

Para perceber como funciona o crédito consolidado, apresentamos o caso real da Carmo e do João (nomes fictícios). Este casal decidiu pedir ajuda ao Doutor Finanças, pois gostariam de reduzir os seus encargos com os quatro créditos que tinham contratados.

Após analisarmos as condições dos quatros créditos foi possível consolidar os quatro créditos da Carmo e do João, ficando o casal com as seguintes condições:

Resumindo, mesmo que a sua prestação de crédito suba tem várias soluções através das quais pode obter uma poupança relevante e, desta forma, atenuar o valor do aumento da sua prestação devido à subida da Euribor.