Energia

Um conto sobre guerra, crise energética e o inverno que está a chegar…

Nunca foi tão urgente eliminar o uso destas fontes energéticas e adotarmos energias mais amigas do ambiente, defende especialista da Zero.

Islene Façanha
Islene Façanha
Doutora em Alterações climáticas e políticas de Desenvolvimento Sustentável, e Ativista Climática. Na ZERO-Associação Sistema Terrestre Sustentável, é analista de Políticas Públicas e coordenadora de projetos na área do Clima-Energia. 

Todos nós, cidadãs e cidadãos, sofremos com a nova realidade pós-pandémica de uma guerra que pensamos que não aconteceria tão próximo da nossa casa. E os impactos dessa guerra, esses são nas dimensões da nossa globalização e com uma dose de crise energética e inflações que já não vivenciávamos há muito tempo. Neste cenário, e com o inverno a aproximar-se, assistimos também à dependência das nações com os combustíveis fósseis.

O preço da energia está cada vez mais elevado, e os resultados no mercado energético são garantidos e terão implicações globais significativas. O grande motivo? A Rússia lidera nas exportações de gás natural e é, de momento, o segundo maior exportador de petróleo mundial. Esta guerra é financiada com os combustíveis fósseis e também põe em causa o fornecimento de combustíveis fósseis, nomeadamente o gás para a Europa.  

Os combustíveis fósseis são um dos grandes responsáveis pela crise climática. A maior parte da eletricidade ainda é produzida através do carvão, petróleo ou gás, com emissão de dióxido de carbono e óxido nitroso, poderosos gases com efeito de estufa e que retêm o calor do sol. Como estamos a passar por este momento de transição energética, nunca foi tão urgente eliminar o uso destas fontes energéticas e adotarmos energias mais amigas do ambiente.  

União Europeia e as medidas para uma transição verde 

Em resposta à agressão militar da Rússia à Ucrânia, os líderes europeus finalmente decidiram avançar com a transição energética através do pacote REPowerEU. O plano para afastar a União Europeia (UE) da dependência dos combustíveis fósseis russos estabeleceu uma agenda promissora para as energias renováveis, com foco em três estratégias: aumentar as energias renováveis, mobilizar a economia de energia e diversificar as fontes de energia.  

O plano inclui um aumento nas metas de eficiência energética e energia renovável da UE do pacote Objetivo 55 (FitFor55). No entanto, essas metas ainda estão aquém da ambição necessária para manter vivo o objetivo climático do Acordo de Paris: um aumento de 50% nas energias renováveis e 45% na eficiência energética até 2030. A revisão das várias diretivas é um momento essencial para aumentar as ambições em prol de um futuro sustentável e livre de combustíveis fósseis. 

Enquanto isso, como vamos sobreviver ao inverno?  

Sabemos que 450 milhões de pessoas vivem, estudam e trabalham em edifícios em toda a União Europeia, mas 75% dos nossos edifícios são ineficientes. São vários os motivos que afetam o desempenho energético, desde o envelhecimento natural dos materiais, ausência de manutenção, além de características físicas dos edifícios, principalmente ao nível do baixo desempenho térmico da sua envolvente e a ineficiência dos sistemas energéticos instalados.  

Neste sentido, muitas são as famílias que sofrem de pobreza energética, ou seja, a incapacidade de manter a habitação com nível adequado de serviços energéticos essenciais, devido a uma combinação de baixos rendimentos, baixo desempenho energético da habitação e custos com energia. 

Num contexto de crise energética, muitas famílias perguntam como vão passar este inverno e o que pode ser feito para amenizar os impactos da crise. Poupança energética com ajustes primários na casa pode ser a solução para as famílias.  

Para os consumidores e no curto prazo, as prioridades devem ser: 

Calafetagem de portas e janelas que estejam a conduzir a uma entrada significativa de ar frio na habitação; 

Uso cuidadoso dos aquecedores a óleo e termoventiladores, desligando-os durante a noite e regulando adequadamente a temperatura de funcionamento evitando colocá-los no máximo (em que os equipamentos permanecem quase de certeza sempre ligados); 

Recorrer à biomassa através da queima de lenha em lareiras, evitando as lareiras abertas, e usando recuperadores de calor ou sistemas a pellets; a sua utilização deve ser no entanto moderada, porque a queima de biomassa, de acordo com o tipo de instalação, pode causar uma poluição do ar significativa por partículas e pode também prejudicar a qualidade do ar interior, podendo em algumas situações, tal como aquando do uso de braseiras, provocar intoxicações por monóxido de carbono que podem levar à morte. 

Não esquecer de usar roupas mais quentes e confortáveis

Já a longo prazo, as prioridades dos consumidores devem passar por: 

Investir em isolamento térmico com ecomateriais ou materiais reciclados, em coberturas e pavimentos interiores ou exteriores, em paredes exteriores ou interiores; 

Substituir envidraçados, aplicando melhores janelas nas habitações, que reduzem significativamente as perdas de calor para o exterior, beneficiando-se também de uma redução do ruído exterior; este material tem já também uma etiqueta energética, para ajudar o consumidor a fazer uma escolha mais eficiente aquando deste investimento; 

Investir em equipamentos como ar condicionado/bomba de calor que, embora apresentem um custo elevado e impliquem algum ruído, têm uma eficiência na produção de calor quatro a cinco vezes superior à de um irradiador a óleo. 

A partir destas dicas, vamos estar preparados para o inverno, investir na nossa casa e proteger o planeta ao mesmo tempo. Sem contar que a carteira irá agradecer no final do mês.

Islene Façanha
Islene Façanha
Doutora em Alterações climáticas e políticas de Desenvolvimento Sustentável, e Ativista Climática. Na ZERO-Associação Sistema Terrestre Sustentável, é analista de Políticas Públicas e coordenadora de projetos na área do Clima-Energia. 

A informação que consta no artigo não é vinculativa e não invalida a leitura integral de documentos que suportem a matéria em causa.

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