A pandemia de Covid-19 e a necessidade de confinamento vieram trazer a palco uma realidade já conhecida por alguns: o trabalho remoto. Bastando as ferramentas digitais a que já nos habituámos (computador, telemóvel e ligação à Internet), é possível transformar a nossa casa em escritório e continuar a produzir. Agora que, a pouco e pouco, regressamos à normalidade, qual será o futuro do trabalho remoto?
Os grandes gigantes tecnológicos, como a Google e o Facebook, já anunciaram que o regresso aos escritórios será adiado para 2021. O Twitter admite mesmo manter o teletrabalho como prática para todos os funcionários que assim o desejem.
Em abril, a IBM desenvolveu um estudo para aferir perspetivas sobre vários tópicos, incluindo o teletrabalho. Dos 25.000 participantes, 75% responderam que pretendiam continuar a trabalhar a partir de casa, pelo menos de forma parcial.
Será este o futuro do mercado de trabalho?
Em 2018, apurou-se que mais de 18 milhões de cidadãos europeus estavam em regime de teletrabalho, com contrato direto com uma empresa.
Será, obviamente, uma alternativa não disponível para todas as funções e que nem todas as empresas querem adotar. No entanto, o número de trabalhadores remotos por todo o mundo é já suficientemente expressivo para podermos afirmar que este futuro já está no momento presente.
Com vários benefícios para os trabalhadores (maior produtividade, eliminação de custos e tempo despendido com transportes, maior flexibilidade e equilíbrio entre vida pessoal e profissional), também as empresas podem beneficiar com este regime de trabalho. O primeiro benefício (e mais óbvio) está relacionado com a redução de custos. A eliminação da obrigatoriedade de ter lugares permanentes traz consigo a redução de custos com arrendamento de espaço, água, luz, entre outros.
Para além da redução de custos, através do teletrabalho, as empresas conseguem aumentar a sua rede de talentos, não estando limitados àqueles que podem, ou querem, deslocar-se diariamente para a sede da empresa. Para as empresas que lidam diariamente com a dificuldade de recrutar perfis específicos de profissionais, esta é uma das maiores vantagens. O facto de a empresa estar localizada no Porto, por exemplo, não impede que um profissional da área de Lisboa concorra e seja selecionado para o cargo.
Se importa falar nos benefícios para empresas e trabalhadores, importa também referir o impacto que a flexibilização do trabalho remoto pode ter na sociedade e no meio ambiente: com a redução de pessoas a circular nas ruas, em hora de ponta, não só podemos reduzir os níveis de poluição, como diminuir consideravelmente o problema de mobilidade dos principais centros urbanos.
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O que implica o trabalho remoto?
O trabalho remoto implica, acima de tudo, um compromisso de ambas as partes. A empresa deve garantir que proporciona todas as ferramentas necessárias para que o funcionário consiga desempenhar as suas funções. Por seu lado, o profissional deve garantir que corresponde às expectativas da empresa. Investir na comunicação é o primeiro passo para uma relação de trabalho à distância bem sucedida.
É imprescindível que o funcionário que trabalha à distância tenha agilidade informática para trabalhar com diferentes plataformas de organização e gestão, na ótica do utilizador. Ferramentas como o Zoom, o Microsoft Teams, o Slack e o Trello (entre outras) permitem manter as equipas em permanente comunicação através de videoconferências e chats, sem constrangimentos devido à distância. Existem ainda os escritórios virtuais, que mimetizam a dinâmica de um escritório, proporcionando ferramentas específicas como um serviço de atendimento personalizado.
O que muda no trabalho em equipa?
Clareza, transparência e foco são também imprescindíveis na relação entre membros da equipa. Estar à distância não significa não nutrir as relações profissionais, muito pelo contrário. É importante estabelecer uma relação de confiança com colegas e chefias, trabalhando continuamente para que a equipa funcione como uma estrutura bem organizada.
Existem já algumas formações e workshops que abordam a questão do trabalho remoto, focando temas como produtividade, comunicação e gestão de equipas à distância. Um dos exemplos é o do LinkedIn, que disponibiliza um curso gratuito, de dez módulos, para ajudar as equipas a adaptar-se a esta realidade.
Quais as tendências para este regime de trabalho?
O futuro é, obviamente, dificil de prever. Mas tudo indica que o trabalho remoto ganhará força nos próximos anos, tornando-se uma prática normalizada em empresas nacionais e internacionais, mesmo quando a pandemia passar e já não nos parecer um perigo estar perto de outras pessoas - seja lá isso quando for.
Para já, podemos fazer algumas previsões com base nas opiniões de empresas e funcionários, nos estudos levados a cabo durante o período de confinamento e nas práticas de trabalho remoto, até à data. Com o trabalho remoto a ganhar espaço na mente e nas vidas dos gestores, é possível que estes venham a optar por contratar profissionais para necessidades específicas, em vez de manter equipas permanentes, resultando num maior número de profissionais freelancer que estabelecem vínculos de trabalho temporários, com diversas empresas ao mesmo tempo.
Em paralelo, o trabalho remoto irá dar mais relevância a competências específicas. Sabendo que nem todas as funções são passíveis de ser desempenhadas à distância, prevê-se que aquelas que podem ser feitas em teletrabalho tenham de ser incrementadas com competências específicas por parte do profissional. As chamadas soft skills mais valorizadas num trabalhador remoto serão, assim, a capacidade de gerir o tempo, o foco direcionado para a entrega de valor, a familiaridade com softwares e dispositivos tecnológicos e uma capacidade de comunicar de forma clara, por escrito ou por telefone.
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