Silicon Valley Bank – A explicação

A falência do SVB gerou um clima de incerteza e acordou o fantasma da crise financeira global. O que motivou, afinal, a queda do banco?

A turbulência no setor financeiro tem vindo a aumentar nas últimas semanas. A falência do Silicon Valley Bank (SVB), nos EUA, gerou um clima de incerteza e receio nos investidores e depositantes americanos, temendo-se um novo efeito Lehman Brothers.

Enquadramento

O SVB era um banco regional sediado em Silicon Valley, que é o berço do setor tech americano. Fazendo um enquadramento global, os anos de covid (2020, 2021 e 2022) foram fantásticos para este setor, já que os confinamentos permitiram um boost das empresas tecnológicas que encontraram o espaço perfeito para se projetarem. O SVB, pela sua presença regional, e por ter sido sempre um banco que apoiou estas empresas, acabou por beneficiar desta evolução, com o aumento substancial de depósitos por parte destas, que conseguiram gerar enormes cash flows.

Gestão de risco

Por norma, os bancos não costumam ter nos seus balanços enormes montantes de cash. O que fazem é aplicar o dinheiro dos depósitos que são efetuados pelos clientes, tentando garantir a sua cobertura e, em simultâneo, maximizá-los através de investimentos nos mercados financeiros, com uma política de risco bem definida. No caso do SVB, a estratégia foi simples: com o dinheiro que ia sendo depositado pelos seus clientes, o banco comprava obrigações do Estado americano, que são as mais seguras do mundo.

A questão é que, depois de anos e anos de uma política monetária acomodatícia, os bancos centrais foram “obrigados” a subir as taxas de juro para combater a inflação. Esta medida fez com que o preço das obrigações caísse, uma vez que o preço das obrigações é inversamente proporcional às taxas de juro. Desta forma, o balanço do SVB foi perdendo valor e a sua carteira começou a desvalorizar.

Percebendo o problema que começava a ter em mãos, a gestão do SVB decidiu vender uma parte da carteira de obrigações e assumir uma perda considerável (aproximadamente 1,8 mil milhões de dólares). Esta medida de gestão interna foi anunciada nos mercados financeiros, gerando desconforto nos investidores e nos depositantes. Isto fez com que o rumor de que o SVB não tinha liquidez para suportar todos os depósitos que existiam na instituição depressa se espalhasse. Como consequência, tivemos uma corrida a levantamento de depósitos por parte dos depositantes do SVB. Este pânico deixou a nu a fragilidade do SVB, que não tinha capacidade para devolver o valor total dos depósitos aos seus clientes. A falência foi o passo seguinte.

Má gestão interna

De uma forma simples, o problema do SVB foi uma má gestão de risco na política implementada internamente. Se, numa primeira fase, o investimento em obrigações do Estado americano parecia um passo seguro, num momento posterior, a perceção de que o preço destas obrigações iria cair com a subida das taxas de juro deveria ter originado uma alteração do portefólio do banco, que era o suporte da garantia dos depósitos dos clientes.

Contágio

O sistema bancário funciona com base em confiança. A queda do SVB acabou por fazer com que os investidores/depositantes ficassem com receio sobre o que realmente estava a suceder. Muito mais do que perceber a origem do problema, numa primeira fase, os depositantes reagem retirando o cash de um banco onde se sentem inseguros e passando para um de maior dimensão. O SVB era o 16º em dimensão nos EUA. A sua falência teve um contágio imediato: o Signture Bank, que tem um grande envolvimento em criptomoedas, num espaço de 48 horas também entrou em falência.

Leia ainda: Porque o colapso do SVB é diferente da crise financeira de 2008

Reação por parte das autoridades

O fundo de garantia dos depósitos nos EUA situa-se nos 250.000 dólares. No caso do SVB, a maior parte dos seus depositantes tinham depósitos superiores a este valor. Numa primeira intervenção, a Secretária de Estado do Tesouro referiu que não iria salvar o SVB, não esclarecendo a questão da salvaguarda dos depósitos. Passadas algumas horas, depois da falência do Signature Bank, e percebendo que o que estava em causa era a confiança do setor financeiro, as autoridades tomaram uma decisão firme que foi anunciada por Joe Biden, presidente dos EUA. Este afirmou que todos os depósitos daquelas duas instituições estavam salvaguardados pelo Estado americano, tentando evitar que o contágio se alastrasse a mais bancos, de forma a garantir a estabilidade de um setor vital para o normal funcionamento da economia real.  

Um novo Lehman Brothers?

A falência do SVB teve um motivo diferente do Lehman Brothers. Contudo, o receio em termos globais fez-se sentir por vários motivos. O primeiro porque a conjuntura atual é, no mínimo, desafiante. Vivemos um contexto de inflação elevada, com a subida de taxas de juro generalizada por parte dos diferentes bancos centrais. A probabilidade de uma recessão global vai aumentando, fazendo com que a sensibilidade dos investidores seja maior. Apesar de a falência do SVB se dever a uma má política de gestão de risco do banco em causa, a realidade é que o susto e o receio de contágio a outras instituições fizeram disparar os alarmes. A pronta reação das entidades competentes acabou por ser importante para estancar um possível contágio.

Neste momento, o mais importante é percebermos que os investidores e depositantes estão muito mais atentos e sensíveis a estas notícias, porque no passado tivemos um caso (Lehman Brothers ) que ninguém quer repetir.

Por fim, volto a reforçar a importância de uma boa fiscalização das entidades financeiras, de forma a garantir a estabilidade que todos nós pretendemos que exista no sistema financeiro regional e global.

Leia ainda: Investir de uma forma consciente

Apaixonado pelo desporto e economia, foi jogador profissional de Futebol, tendo atuado em clubes como S.L. Benfica, Estoril, entre outros. Conciliou a carreira desportiva com a académica, terminando a licenciatura em Economia pela Faculdade de Economia da Universidade Nova de Lisboa (NOVA SBE). Continua ligado às suas duas paixões profissionais, desempenhando a função de Financial Advisor e colaborando como analista desportivo na CNN Portugal. Foi comentador residente no programa Jogo Económico do JE e Presidente do Conselho Fiscal da Federação Portuguesa de Footgolf. (FPFG). Participa com regularidade em eventos sobre Literacia Financeira.

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