“Panamax” (2014), mais um jogo desenhado por portugueses – Gil d’Orey, Nuno Bizarro Sentieiro e Paulo Soledade – transporta-nos para o canal do Panamá, que, mais de cem anos após a sua construção (em 1914), continua a ser «uma das mais significativas e impressionantes conquistas de engenharia». Mas, se o uso inicial do canal esteve bastante ligado aos navios de guerra, agora são as rotas comerciais que dominam a circulação. Na introdução ao jogo, até ficamos a saber que a importância desta ligação entre os oceanos Pacífico e Atlântico foi tão crucial que acabou por fomentar um novo standard de cascos de barcos, chamados Panamax, apropriados para a travessia do canal. E eis que assim também se explica o nome dado ao jogo.
Pois bem, exposto o tabuleiro na mesa, cada participante assume o papel de gestor de uma companhia de transportes marítimos. Estas empresas, sedeadas na área de comércio livre de Colón, serão contratadas por entidades das duas costas dos Estados Unidos, bem como da China e da União Europeia; depois, terão de entregar a carga nos devidos destinos, para assim receberem o pagamento acordado, mas também para atraírem investimentos e poderem pagar dividendos aos seus acionistas.
Taxas, resgates financeiros e investimentos na bolsa
Durante as três rondas, cada gestor terá de escolher criteriosamente as suas ações, através de dados, que passam por aceitar cartas de contratos (que indicam o requerente do serviço e o número de contentores), carregar o frete, construir navios de vários portes e movimentar a sua frota ao longo do canal. Mas atenção: no final da ronda, as empresas terão de pagar ao banco taxas pelas cargas que estiverem paradas nas zonas de carga ou em navios estacionados ao longo do canal. Os contratos que estejam por completar, bem como as mercadorias no armazém, também têm custos associados. E se não houver dinheiro em caixa? Aqui não há abébias, e o jogador terá de contrair tokens de resgate até conseguir pagar os custos de operação. E, já se sabe, estes empréstimos serão depois pagos com juros elevados…

A fortuna pessoal amealhada por cada jogador, essa passará pelos investimentos feitos na bolsa de valores. É possível comprar ações das várias companhias (com o dinheiro pessoal e não o da empresa) e receber dividendos no final das rondas. Isto se a companhia em causa tiver meios para os pagar… Há prémios intercalares para o melhor gestor de cada ronda e cartas de bónus de Estivadores, Capitães e Consultores Financeiros. Tudo contará para se sagrar o gestor mais rico no final do jogo.
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A arte de leiloar contentores
Os jogadores que consigam dominar os segredos do comércio no canal do Panamá estarão plenamente habilitados para passar ao tabuleiro de “Container” (2007). Neste jogo em redor do tema dos navios porta-contentores, que nos relembra a frase inicial de uma canção dos Xutos e Pontapés, cada participante terá de gerir duas áreas no seu tabuleiro individual: a portuária, com os seus espaços de atracagem e os seus armazéns, e a fabril, com os seus espaços de maquinaria e de loja. E será depois de pagar juros dos empréstimos que tenha contraído que poderá comprar e construir contentores, bem como fazer navegar os navios da companhia.

Se tudo correr bem, os navios percorrerão os mares até chegarem à casa da Ilha Estrangeira. Então, imediatamente, Container propõe uma fase de leilão. Os jogadores fazem as suas ofertas, secretamente, pelos contentores acabados de chegar; e, como é obrigatório fazer um lance por cada carga, existem cartas de bluff. A arte do leilão passa, assim, por comprar o mais barato possível e obrigar os outros a comprarem pelo mais caro possível. Ao jogador que fez o transporte é dada a hipótese de, no final do despique, recusar a oferta mais alta e ser ele a pagar ao banco para ficar com a mercadoria. Esses contentores, afinal, podem vir a ser preciosos para as contas finais. Mas é preciso cautela nesta decisão. Prescindir de dinheiro fresco, e gastar quantia igual do nosso capital, pode bem esvaziar a conta da empresa. E, se não houver dinheiro para investir…
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A vida de um banco de investimento nos tabuleiros
Um dos mecanismos mais interessantes do jogo passa precisamente pelos empréstimos, limitados a dois por jogador. Ter mais dinheiro disponível pode ser crucial perante um leilão importante na Ilha Estrangeira. Mas, tratando-se de um jogo de cariz económico, aqui as contas são para serem honradas. Que acontece se alguém não conseguir pagar os juros dos empréstimos contraídos? Informação dramática: o banco confisca contentores aos incumpridores!
Por falar em banco, o módulo adicional Banco de Investimento permite incorporar um jogador de inteligência artificial, cujo intuito é obter lucro através dos jogadores, enquanto lhes proporciona a oportunidade de escalarem o seu negócio. Será, portanto, a economia criada pelos jogadores a fazer com que este banco, gerido por três corretores (cada qual com o seu portefólio de investimentos), acabe por prosperar ou sofrer. «A saúde do Banco de Investimento é determinada pelas condições económicas», salienta-se no livro de regras. «Tal como na vida real».
E eis como os jogos de tabuleiro, de repente, vão um pouco além da mera diversão.
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