Portugueses passaram ao lado dos fundos mais rentáveis de 2023

Os portugueses fugiram os fundos de investimento de maior risco em 2023, mas foram estes que alcançaram as rendibilidades mais elevadas.

O ano de 2023 foi positivo para a indústria dos fundos de investimento em Portugal, pois captaram mais dinheiro dos clientes, aumentaram os ativos sob gestão e a esmagadora maioria dos produtos gerou retornos positivos

Para os portugueses que têm as suas poupanças aplicadas no mercado de capitais através de fundos, o ano passado também foi positivo. Mas as escolhas efetuadas não foram as mais certeiras, pois os investidores deslocaram o dinheiro sobretudo para fundos de baixo risco, uma estratégia que impediu retornos bem mais elevados.

Este conservadorismo fica bem patente na evolução das subscrições líquidas de fundos de investimento mobiliário (FIM). Atingiram um valor positivo de 141,3 milhões de euros em 2023, sobretudo à custa dos produtos de risco mais reduzido: Fundos de Obrigações Euro, Fundos de Curto Prazo Euro e Fundos de Mercado Monetário Euro.

Os montantes sob gestão subiram 8,7% para 18.616 milhões de euros, um aumento bem mais acentuado do que as entradas de dinheiro, o que reflete a valorização das carteiras dos fundos num ano em que as ações conseguiram um desempenho muito positivo e as obrigações colocaram fim a uma série negra de perdas pouco habituais.  

Todas as 19 categorias de FIM alcançaram retornos médios positivos em 2023, sendo que entre perto de 300 fundos da indústria em Portugal, 260 registaram rendibilidades efetivas (já líquidas de impostos e comissões) positivas e apenas nove ficaram em terreno negativo.  

A melhor forma de avaliar o desempenho dos fundos passa pela análise da relação entre o risco e o retorno numa lógica de longo prazo, pelo que é redutor concluir que a estratégia dos investidores portugueses na escolha dos fundos foi errada em 2023. Contudo, também fica evidente que este maior conservadorismo afastou os portugueses de ganhos mais acentuados em 2023, como é possível constatar no gráfico em baixo.

Leia ainda: Estão os investidores demasiado otimistas para 2024?

Investidores correm para dívida de curto prazo …

Os fundos das três categorias mais subscritas captaram 1.167 milhões de euros em conjunto, num movimento que reflete claramente a aversão a produtos de maior risco depois das quedas violentas de 2022. Uma estratégia que até faz sentido, uma vez que as carteiras destes fundos são constituídas sobretudo por títulos de dívida de curto prazo, que beneficiaram o ano passado (e continuam a beneficiar) com as subidas das taxas de juro dos bancos centrais.

Os retornos registados por estes FIM de baixo risco até foram positivos e em linha com as expectativas, mas ficaram muito aquém das rendibilidades geradas por outras categorias de fundos mais arriscados. Os Fundos de Obrigações do Mercado Monetário geraram uma rendibilidade efetiva de 2,5% em 2023, a mais baixa entre as 19 categorias de FIM divulgadas pela APFIPP. Os Fundos de Curto Prazo Euro são os segundos piores da lista (3,1%) e também abaixo da inflação, pelo que o retorno real é negativo.

Mesmo com uma rendibilidade média de 5,3% no ano passado, os Fundos de Obrigações Euro (captaram quase 500 milhões de euros em 2023) surgem no fundo da lista das categorias mais rentáveis. Os Fundos de Obrigações Internacionais (também conseguiram subscrições líquidas positivas em 2023) atingiram um retorno ligeiramente mais elevado (5,7%).   

… e fogem dos fundos de ações

No topo do ranking dos FIM mais rentáveis em 2023 estão os produtos que aplicam as carteiras sobretudo em ações. Os Fundos de Ações da América do Norte e os Fundos de Ações Ibéricas alcançaram rendibilidades acima de 20% no ano passado, sendo que todas as outras categorias de fundos de ações conseguiram retornos acima de 10%. Nos fundos que equilibram as carteiras entre ações e obrigações as rendibilidades médias oscilaram entre 5% e 10%.

Apesar destes desempenhos positivos no último ano, os investidores portugueses fugiram dos fundos de ações em 2023, num movimento de clara aversão ao risco que terá sido motivado pelos retornos negativo de 2022 e também castigou os fundos mistos.

Dos fundos multi-ativos (defensivos, equilibrados, moderados e agressivos) saíram 440 milhões de euros em 2023, mostrando a diminuição do interesse dos portugueses nestes produtos que ganharam bastante popularidade nos últimos anos por oferecerem uma opção diversificada e adequada ao perfil do investidor.  

Nas várias categorias de fundos de ações, as subscrições líquidas foram negativas em 153 milhões de euros, apesar do fluxo positivo dos Fundos de Ações Nacionais, que em 2022 tinham sido dos poucos a escapar à razia dos FIM. Esta saída de dinheiro dos fundos de maior risco serviu para baixar a exposição ao risco dos investidores, mas atenuou de forma substancial o potencial de ganhos com a aposta em fundos de investimento.

Se analisar o desempenho dos fundos apenas pelas rendibilidades é um erro crasso, olhar apenas para o prazo a um ano é um equívoco ainda maior. Contudo, os dados na análise a cinco anos são muito semelhantes. Os FIM onde as ações têm um peso mais elevado são os que apresentam um retorno mais atrativo, sendo que no polo oposto estão os que apostam sobretudo em obrigações.

Os Fundos de Ações Globais são os únicos que apresentam uma rendibilidade anualizada a cinco anos acima de 10%, sendo que grande parte dos outros fundos de ações marcam retornos médios acima de 5%. Entre as 19 categorias de FIM, apenas duas (Obrigações Euro e Obrigações Internacionais) registam rendibilidades negativas no prazo a cinco anos.

Estas estatísticas espelham o período negro registado pelas obrigações até meados do ano passado e validam que as ações são claramente o ativo mais atrativo numa estratégia de investimento de longo prazo. Apesar das quedas muito violentas sofridas em 2022, quem investiu num fundo de ações há cinco anos arriscou uma rendibilidade média anual próxima de 10%.

Leia ainda: Fundos de investimento em ações dominam rendibilidades em todos os prazos

PPR perdem popularidade

Além de analisar os fluxos de entradas e saídas de capital em 2023, também é relevante olhar para os montantes sob gestão, que captam as preferências dos portugueses nos fundos de investimento numa perspetiva de mais longo prazo.

Os fundos PPR, desenhados para captar as poupanças orientadas para o complemento de reforma, continuam a ser a categoria com quota mais elevada (20,3%), mas têm vindo a perder popularidade nos últimos anos, o que não será alheio ao histórico de retornos magros, sobretudo comparado com outras opções.

Os fundos PPR tinham 3.771,2 milhões de euros em ativos sob gestão no final de 2023, um aumento de 4,2% face ao final do ano anterior que reflete a valorização das carteiras, uma vez que as subscrições líquidas foram negativas no ano passado (-113,3 milhões de euros). Estes fundos geraram uma rendibilidade efetiva interessante em 2023 (7,7%), mas na análise a cinco anos o retorno médio é de apenas 1,5%. Quer isto dizer que quem investiu num fundo PPR há cinco anos não conseguiu um retorno suficiente para compensar a inflação.

Esta constatação tem em conta os retornos médios, mas o desempenho é muito díspar. Todos os 85  Fundos PPR alcançaram rendibilidades positivas em 2023, com os retornos a oscilarem entre 0,73% e 30,2%. No prazo a cinco anos, o desempenho oscila entre -1,45% e 5,99% de rendibilidade anualizada.

Depois dos PPR, são os Multi-Ativos Moderados que têm os montantes sob gestão mais elevados, seguindo-se as categorias Ações Globais e Obrigações Euro, todas acima de 2 mil milhões de euros cada. Um equilíbrio que denota um nível de conservadorismo histórico bem mais reduzido do que o registado em 2023.  

Leia ainda: Que tipos de PPR existem e como posso distingui-los?

Nasceu em 1977, sendo jornalista desde 1999. Iniciou a carreira no Jornal de Negócios, onde esteve mais de 20 anos, ocupando várias funções, sempre com foco no online. Atualmente é jornalista independente, assina a newsletter diária de mercados Morning Call e colabora de forma regular com o ECO. Formado em Gestão no ISEG, tem especial interesse por tudo o que está relacionado com os mercados financeiros.

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