Analisado tudo o que pode contribuir para a satisfação de uma pessoa com a vida que leva, chegou a altura de vermos como se tem comportado Portugal neste ranking. No relatório de 2024, ocupámos o sexagésimo lugar. Mesmo à nossa frente ficaram o Bahrein, a Coreia do Sul e as Filipinas. Alguns lugares acima, encontramos o Uzbequistão (53.º), a Nicarágua (47.º), o Vietname (46.º) ou o Panamá (41.º). A Itália está no lugar 40. A Espanha em 38.º, o Brasil em 36.º, a França em 33.º, os Estados Unidos em 24.º, o Reino unido em 23.º, a Irlanda em 15.º, a Suíça em 13.º. Colados um ao outro, a Nova Zelândia (12.º) e a Austrália (11.º). E quanto aos dez mais? Assim estávamos em 2024:
1. Finlândia
2. Dinamarca
3. Islândia
4. Suécia
5. Países Baixos
6. Costa Rica
7. Noruega
8. Israel
9. Luxemburgo
10. México
Nos países atrás de Portugal, portanto, menos felizes, está a China em 68.º, a Grécia em 81.º, Moçambique em 96.º, a Ucrânia em 111.º ou a Índia em 118.º. No último lugar dos 147 países listados, o Afeganistão.
O ano horrível de Portugal? 2012, pois claro
Voltemos a Portugal para constatar que a nossa posição mais alta foi o 55.º posto. O pior lugar em que estivemos foi o 94.º, mas o valor mais baixo de avaliação média da vida, esse ocorreu em 2012. Numa escala de 0 a 10, os portugueses acharam-se apenas um 5,101, no ano que se viveu o auge da austeridade imposta pela troika.
Vale a pena avaliar as posições relativas de Portugal no índice de 2024. No PIB per capita vemo-nos subir até ao posto 32. Na Esperança de Vida com Saúde subimos mais dez lugares, até ao 22; segundo o ranking, que para este item recorre a dados da Organização Mundial de Saúde, podemos esperar ter uma vida saudável até aos 69,5 anos.
Quanto à sensação de liberdade para fazermos aquilo que queremos com a nossa vida, o grau de satisfação dos portugueses é elevado (88,5%), o que coloca o país no lugar 40 desta escala de sermos livres de comandar o nosso destino. Mas tudo muda na questão da generosidade, em que apenas 17,7% respondeu positivamente à pergunta se doou dinheiro para alguma entidade durante o último mês. Nesta área, afundamo-nos no lugar 111 da tabela. Pior mesmo só na perceção de corrupção, que faz o somatório de duas perguntas: «A corrupção no governo é generalizada ou não?» e «A corrupção nas empresas é generalizada ou não?». Pois saiba-se que 88,1% dos portugueses tem a sensação de que o país é corrupto. Lugar na tabela? O 122.º, bem perto do fundo.

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Voluntariado, pelos vistos, não é connosco
O relatório de 2024 atribui a Portugal uma média de avaliação da vida na ordem dos 6,013, quase um ponto acima do terrível ano de 2012. Estamos na metade superior da escala, o que pode ser corroborado pela avaliação das emoções positivas e negativas, que se fundamentam nos acontecimentos do dia-a-dia. Em 2024, registou-se um valor de 66,3% para as emoções positivas, mas que não chegou para ultrapassar o recorde de 2010, no qual registámos 68,1%. Se passarmos para as emoções negativas, 2020 foi um ano mau, com um valor de 38,3%, percentagem ainda mais alta do que em 2012, em que se registou um nível de 37%. Não será de estranhar este pico em 2020, se nos lembrarmos que o confinamento por causa da Covid começou em março desse ano. Em 2024, as emoções negativas atingiram uma percentagem de 29,7%, baixando um pouco dos 31,6 e 30,9 assinalados nos dois anos anteriores. Ou seja, aparentemente, estamos menos negativos do que há uns anos.
Na desconstrução dos atos que formam o campo da benevolência, constata-se que em Portugal a linha do voluntariado está quase sempre abaixo da linha dos donativos e da linha da ajuda a pessoas desconhecidas. Em 2024, o valor de 12,3% punha o país no 112.º posto da tabela do voluntariado. Em relação aos donativos, com uma percentagem de 17,7%, o ranking também não é famoso: 111.º lugar. Entre estes dois indicadores, apenas em 2016 a percentagem de voluntariado foi maior do que a dos donativos. Bem acima, com valores que têm oscilado entre os trinta, quarenta e cinquenta por cento, está a categoria de ajudar pessoas desconhecidas. Ainda assim, o valor de 54,9% registado em 2023, o maior de sempre para o nosso país, punha Portugal no lugar 101.º dos países em que as pessoas mais vezes prestam auxílio a estranhos.
Na análise dos resultados, temos de regressar a 2012 para encontrarmos nos portugueses o ano em que sentiram maior desigualdade em termos de felicidade. Foi um ano de extremos: uns quantos muito felizes, bastantes muito infelizes. O relatório com os resultados de 2024 colocou Portugal no lugar 57 deste ranking. Quais são os três países com menos desigualdade em termos de felicidade? Países Baixos, Finlândia e Suíça. E os nossos vizinhos espanhóis, esses ocuparam o nono posto.
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E, no meio disto tudo, não é que temos evoluído?
No meio de todos estes números, conseguimos encontrar alguma boa notícia? Sim. A de Portugal ser um dos países que mais tem subido na média da avaliação da vida, desde que foi publicado o primeiro estudo. Subimos 0,912 na escala, o que corresponde ao posto 21 dos que mais subiram. Neste ranking específico, palmas para a Roménia (3.º), a Bulgária (2.º) e a Sérvia (1.º). Mas talvez se possa dizer que nestes países havia larga margem para progressão. Na outra face da moeda, a sensação de felicidade decresceu assustadoramente em países como a Venezuela, a Jordânia, o Afeganistão e em meia dúzia de países africanos.
Se pensarmos nas tragédias desses países não mitiga as nossas infelicidades, talvez as relativize. Ainda não somos tão felizes como os espanhóis, é certo. Mas temos o mesmo sol e estamos mais próximo dos sorrisos e do contentamento deles com a vida do que aquilo que sentem os habitantes da Zâmbia, da República do Congo, da Serra Leoa ou do Líbano. E só isso já pode ser um tanto para nos dar vontade de agradecer à vida.
