Imagem de uma bolsa com notas e moedas de euro

Há muitos provérbios populares que, independentemente do tema, podemos associar a uma gestão equilibrada dos nossos meios financeiros. E, claro, os dicionários de adágios também estão repletos de avisos para quem não o faça. Mas vejamos, primeiro, os bons exemplos. «Com peso e medida, governa-se a vida» é um apelo à sensatez, a que se gaste com moderação, com juízo. E, de certa forma, também uma tendência para o bom senso, a proporção harmoniosa, pois importa encontrar o justo meio: «Nem tanto ao mar, nem tanto à terra». Ou seja, nem gastador, nem forreta, esses extremos que, muitas vezes, talvez se toquem. «Ou forca ou trono», já se sentenciava no século XIX, para aqueles que viviam numa espécie de “tudo ou nada”.

Às vezes, é preciso lembrar ao dissipador a existência do dia de amanhã. É o chamado «deitar água na fervura a alguém», que significa “acalmar, moderar o ímpeto, o furor”, segundo Paulo Perestrello da Câmara, autor da Coleção de Provérbios, Adágios, Rifãos, Anexins, Sentenças Morais e Idiotismos da Lingoa Portugueza (1848). Por outras palavras, não gastes tudo, ou não gastes tanto, que pode vir a fazer falta. E se recuarmos mais um par de séculos, então ouviremos António Delicado dizer-nos, através do seu Adágios Portugueses reduzidos a Lugares Comuns (1651) que «Pera prospera vida, arte, ordem e medida», sendo que esta medida pode ser lida como precaução ou contenção nos gastos.

Dia ou noite, cara ou coroa, assim ou assado…

Quando tudo corre pelo melhor, então «É ouro sobre azul», que Perestrello da Câmara traduz por “realça, condiz bem”. É o mesmo caso de «juntar-se o útil ao agradável». Mas, segundo a sabedoria popular, talvez escasseiem as ocasiões da vida em que tudo se conjuga pelo melhor. O mais frequente é termos na mão uma moeda com duas faces distintas, como se constata por estes provérbios tão diferentes no tema e, ao mesmo tempo, tão semelhantes na lição:

«Chorar com um olho e rir com o outro.»

«Não há carne sem osso, nem fruta sem caroço.»

«Não há casamento sem choro, nem funeral sem riso.»

«Não há gosto sem desgosto.»

«Não há madeira sem nós.»

«Não há prazer sem amargura.»

«Quem não sabe do mal não sabe do bem.»

Bem podíamos trazer a brasa à nossa sardinha e dizer que, assim sendo, não há poupança sem cabeça, ou não há equilíbrio sem esforço. Sobre este tema, é impossível não se consultar a Coleção de Pensamentos, Máximas e Provérbios (1847), de José Joaquim Rodrigues de Bastos. Para o conselheiro, a palavra-chave parece ser “temperança”, que pode assumir sinónimos como parcimónia ou economia. E, se o pensamento «A temperança, moderando os gozos, prolonga-lhes a duração: a intemperança dá curtos gozos, e longos desprazeres», parece principalmente associada à saúde do corpo, nada nos impede de o aplicarmos às nossas finanças.

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A dificuldade da justa medida

Chegados aqui, talvez seja a altura certa de nos refrearmos, para evitar desequilíbrios de tempo e paciência nas leitoras e leitores deste texto. A despedida faz-se na expetativa de que esta viagem pelos nossos ditos populares tenha sido «Sem tirar nem pôr», que Perestrello da Câmara define como “justo, sem exageração”. Mesmo assim, sabemos que uns hão de achar pouco, e outros demasiado. Talvez quem muito tente, pouco acerte e, no final, se fique «Preso por ter cão, e preso por não ter cão», que traduzido significa “ser-se castigado por ter razão, e por não ter razão”.

Mau, isto será o som de um chicote a atravessar o ar?! Ai, ai. E pensarmos que tudo isto começou porque queríamos falar de equilíbrio, fosse nos gastos, fosse na poupança…

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