A história de um tesouro submerso, esquecido no fundo do mar, é sempre uma das mais cativantes.

Naufrágios da época das naus, dos galeões, das batalhas em alto mar, dos saques dos piratas, são inspiração para tantos e tantos livros ou filmes.

Mas agora pergunto: entre o naufrágio de um navio carregado com um tesouro em ouro ou em prata, qual escolheria resgatar?

Até agora, o tesouro em ouro, indiscutivelmente. Mas isso parece estar a mudar.

A prata, o metal precioso até agora com papel secundário, está a passar a ser protagonista de um regresso em força à ribalta dos mercados.

Durante muito tempo, a prata foi vista como um tesouro submerso, longe do olhar do público, ofuscada pelo ouro e outras riquezas mais visíveis.

O que causou este súbito brilho?

A prata é o melhor condutor elétrico e térmico entre todos os metais. Essa propriedade garante-lhe um lugar insubstituível nas tecnologias modernas: dos telemóveis e computadores aos carros elétricos e, sobretudo, aos painéis solares. Numa era em que o mundo acelera a transição energética, ela é o fio invisível que dá vida a circuitos, baterias e dispositivos de alto desempenho.

Além disso, tem qualidades únicas: é extremamente maleável, resistente à corrosão e possui a maior capacidade de refletir a luz entre todos os metais. Isso faz dela protagonista em setores tão diversos como a medicina, onde equipa sensores de alta precisão, ou a ótica, onde é usada em espelhos e câmaras.

Refúgio em tempos de incerteza

Tal como o ouro, a prata sempre foi vista como reserva de valor em momentos de crise. E num mundo marcado pela inflação, pela instabilidade económica e por turbulências financeiras, muitos investidores procuram refúgios seguros. E se durante muito tempo o ouro foi o porto de abrigo preferido, hoje é a prata que ganha força como alternativa: é mais acessível, mais versátil e tem um “bónus” que o ouro não oferece — a crescente procura industrial.

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Oferta apertada, preços em ebulição

Enquanto a procura dispara, a oferta mostra sinais de fragilidade. A produção mineira de prata não tem acompanhado o ritmo do consumo, e a escassez física do metal pressiona os preços. Ao mesmo tempo, os grandes investidores financeiros e especuladores reforçam a tendência: contratos futuros e apostas no mercado estão a acelerar a valorização.

E há ainda o fator cambial: cotada em dólares, a prata tende a subir sempre que o valor da moeda norte-americana desce. Assim, a desvalorização do dólar torna-se mais um fator a impulsionar o preço do metal branco.

O retorno do tesouro submerso

Durante séculos, a prata representou dinheiro. Foi moeda corrente de impérios inteiros e, em determinados períodos, chegou a rivalizar diretamente com o ouro como pilar dos sistemas monetários. No entanto, no último século foi passando para segundo plano, quase esquecida, um “tesouro esquecido e submerso”.

E se antes, entre o ouro e a prata, a escolha era imediata, agora já não é assim. Afinal, os tesouros também podem ter o brilho da prata.

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