Recentemente, a evolução da Euribor ganhou destaque nos meios de comunicação, e o termo entrou definitivamente no léxico de grande parte das famílias portuguesas, que têm visto as prestações dos seus créditos aumentar de forma progressiva. Mas, afinal o que é a Euribor, e qual a sua influência no valor que pagamos ao banco, todos os meses, pelo empréstimo da casa?
Neste artigo, explicamos como se aplica a Euribor ao crédito habitação, como é feito o cálculo dos juros num crédito indexado à Euribor e o que deve considerar.
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O que é a Euribor?
A Euribor é uma taxa de referência baseada na média dos juros praticados por um conjunto de bancos da zona Euro nos empréstimos que fazem entre si. E é esta taxa que é usada como indexante da maioria dos contratos de crédito habitação em Portugal, pelo que a sua evolução tem um impacto direto no valor pago pelas famílias pelos seus empréstimos da casa.
Embora as taxas Euribor sejam calculadas e publicadas diariamente, num crédito habitação são tidas em conta as médias mensais das taxas Euribor na altura da revisão, de acordo com a maturidade prevista em cada contrato.
A evolução da Euribor tende a acompanhar, e até antecipar, os movimentos das taxas de juro diretoras que são determinadas pelo Banco Central Europeu. No entanto, isto não significa que o seu crédito habitação reflita, atualmente, o valor das taxas de referência determinadas pela autoridade monetária da Zona Euro. Ou seja, não é o BCE que determina o valor da Euribor, mas esta taxa seguem, normalmente, a evolução dos juros de referência, esses sim, fixados pelo BCE.
Além disso, o valor da taxa Euribor que está em vigor no seu contrato depende do prazo do indexante e do mês em que a sua prestação mensal é revista.
Como é que a Euribor (e o seu prazo) influencia a prestação de um crédito habitação?
Se comprou uma casa através de um crédito habitação com taxa variável, o mais provável é que, ao longo dos meses ou anos, tenha sentido a sua prestação mensal subir e descer. Nos últimos tempos, notou, certamente, um agravamento significativo. Isto acontece porque a Euribor (no prazo contratado), juntamente com o spread estipulado no seu contrato, compõem a taxa de juro do seu crédito, mais concretamente a sua TAN (Taxa Anual Nominal).
Logo, quando a Euribor sobe ou desce, estas subidas e descidas têm impacto na sua prestação de crédito, alterando o valor dos juros que paga e, consequentemente, o da sua prestação. No entanto, a sua prestação de crédito sofre alteração com base no valor médio do mês anterior ao que a sua prestação é revista.
O processo de revisão de acordo com a maturidade da Euribor
Mas como é que se processa esta revisão e a aplicação dos novos valores da Euribor? Em primeiro lugar, a sua prestação sofre alterações de acordo com o prazo da taxa Euribor associada ao seu empréstimo. Em Portugal, os prazos mais comuns da Euribor são a 3, 6 e a 12 meses.
Se contratou um empréstimo para comprar casa com a Euribor a 3 meses, isto significa que trimestralmente a sua prestação é revista. Ou seja, num espaço de um ano, a sua prestação é atualizada quatro vezes.
A taxa a 3 meses responde mais rápido aos valores atuais do mercado. Logo, se a Euribor estiver a subir, a sua prestação mensal irá aumentar mais rapidamente. E o mesmo se aplica quando desce. Esta taxa, por norma, tem um valor mais baixo comparativamente a taxas com prazos mais longos.
No caso da maturidade de 6 meses, a sua prestação é revista semestralmente (2 vezes por ano). Aqui estamos a falar de uma taxa com uma maturidade intermédia. O que significa que existe uma estabilidade ligeiramente mais elevada do que com a Euribor a 3 meses. No entanto, quando o valor da Euribor a 6 meses desce ou sobe, irá demorar mais tempo a sentir esta alteração, seja esta ascendente ou descendente.
Por fim, outro dos prazos mais comuns é ter um contrato de crédito habitação associado à taxa Euribor a 12 meses. Neste prazo, a sua prestação é revista apenas uma vez por ano. Tal como os outros prazos, a Euribor a 12 meses tem as suas vantagens e desvantagens.
Por um lado, esta oferece-lhe uma maior estabilidade, pois a sua prestação mantém-se igual durante um ano. Mas esta estabilidade vem com um preço associado, uma vez que, comparativamente às outras duas opções, esta taxa costuma ter um valor mais elevado. Além disso, se o valor começar a descer, terá de esperar mais tempo até sentir a descida da sua prestação de crédito, e quando sobe muito num ano, o impacto pode ser muito elevado nas suas finanças pessoais.
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Quando a Euribor sobe ou desce, como é que se reflete na sua prestação?
Olhando para o cenário atual, as taxas Euribor têm vindo a subir, mais significativamente, desde o início de 2022 face à escalada da inflação e à guerra entre a Rússia e a Ucrânia. Assim, são muitos os titulares de créditos habitação que têm visto a sua prestação aumentar, uma, duas ou mais vezes até agora.
Se tem o seu contrato indexado à Euribor a 3 meses e vai pagar uma nova prestação em maio, isto significa que a sua prestação é revista no mês de abril. Neste caso concreto, as prestações de maio, junho e julho vão ser influenciadas pelo valor médio da Euribor no mês anterior ao da revisão. Ou seja, o de março, que corresponde a 2,911% (março de 2023).
No caso dos contratos associados a taxas de 6 meses e 12 meses a lógica é a mesma. O que acontece é que, no caso de ir pagar uma nova prestação em maio, será aplicada a média de março da Euribor a 6 meses (3,267%) ou a 12 meses (3,647%).
Exemplos com um crédito habitação de 100.000 euros
Assim, se tiver um crédito habitação com um capital em dívida de 100.000 euros, com 300 prestações por liquidar e um spread de 1,2%, a sua nova prestação em maio será a seguinte:
Com a Euribor a 3 meses: A sua prestação passa de 488,16 euros (média de dezembro de 2022, de 2,066%) para 533,99 euros (média de março 2023, de 2,911%).
Euribor a 6 meses: Neste mesmo cenário, a última vez que a sua prestação de crédito sofreu alterações foi em novembro de 2022, tendo sida aplicada a taxa média da Euribor de setembro de 2022, de 1,596%. Logo, a sua prestação muda de 463,67 euros para 553,96 euros (aplicada a média da Euribor de março de 2023, de 3,267%). Na prática, esta alteração deve-se a uma subida da Euribor de 1,671%, que representa um aumento de 90,29 euros.
Por fim, com a Euribor a 12 meses, a última vez que a sua prestação de crédito mudou foi em maio de 2022. Nessa altura, o valor médio de março de 2022 estava negativo, mais precisamente -0,237%. Com esta nova revisão, a sua prestação passa de 375,20 euros para 575,71 euros.
Pode recorrer ao Simulador da variação da Euribor no Crédito Habitação para ensaiar o seu caso, em concreto.
Quais os créditos influenciados pela Euribor?
Só os créditos que têm uma taxa de juro variável ou mista é que são influenciados pelas variações da Euribor. No caso de um crédito habitação com uma taxa variável, do início ao fim do seu contrato, a sua prestação fica sujeita às oscilações desta taxa, tendo em conta o prazo escolhido.
Já se tem um crédito habitação com uma taxa mista, a sua taxa de juro muda a determinada altura do contrato. Numa fase inicial, o seu contrato está associado a uma taxa fixa. Logo, a sua prestação será a mesma durante o período fixo contratado. Este pode ter um prazo reduzido, com 1, 2 ou 4 anos, mas também ter um período fixo de 10, 15 ou 20 anos, por exemplo. Contudo, após o período fixo terminar, o seu crédito fica associada à taxa Euribor estipulada no seu contrato. E a partir daí, fica sujeito às subidas e descidas da Euribor.
O único regime de juros que não é afetado por este indexante, é o de taxa fixa. Nestes contratos, a sua prestação permanece igual do início ao fim do seu empréstimo. No entanto, saiba que um crédito habitação com uma taxa fixa é tendencialmente mais caro em comparação a uma taxa variável, uma vez que a taxa aplicada é mais elevada (swap+spread), pelo menos no início do contrato.
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