Ouro vai voltar a brilhar? Saiba como investir

Conheça os fatores mais relevantes que condicionam a cotação do ouro e como pode investir neste metal precioso.

O ouro deve ter lugar garantido numa carteira de investimentos diversificada. É um ativo de características únicas, habitualmente com volatilidade reduzida, forte perceção de valor, elevada liquidez e sempre uma alternativa muito procurada em momentos de turbulência nos mercados, economia e geopolítica mundial.

Conhecido nos mercados por metal amarelo, esta matéria-prima tem brilhado pouco nos meses mais recentes. Contudo, parecem estar reunidas as condições para uma tendência positiva na cotação desta matéria-prima, como detalharemos mais à frente neste artigo.

O ouro tem também a vantagem de ser um ativo que é influenciado de forma decisiva por um conjunto muito diminuto de fatores, pelo que é fácil entender e antecipar as suas movimentações.

Fatores que influenciam a cotação do ouro

Estes são os principais fatores que influenciam a evolução do ouro, e que têm de ser seguidos de perto por quem investe neste ativo:

  • Dólar. O câmbio da moeda norte-americana é determinante para definir o rumo da cotação. O dólar é a principal divisa de reserva de valor em todo o mundo, concorrendo com o ouro neste estatuto. É por isso que estes dois ativos têm, habitualmente, uma correlação inversa. Ou seja, quando o dólar valoriza, o ouro tende a seguir o movimento contrário. Se a moeda norte-americana desvaloriza, a atratividade do ouro sai reforçada. Em momentos de forte turbulência, o dólar e o metal até podem seguir caminhos idênticos, mas é mais habitual que as variações sejam de sinal diferente. Sendo cotado em dólares, para os investidores europeus com ouro nas carteiras, a queda da cotação deste metal precioso pode ser compensada pela valorização cambial.
  • Taxas de juro. Além do dólar, as obrigações também são um “concorrente à altura” do ouro. Daí que a matéria-prima seja penalizada por uma política monetária agressiva, pois as taxas de juro mais elevadas reforçam a atratividade dos títulos de dívida (pública e de empresas). Se as yields estiverem altas, os investidores reforçam o interesse nas obrigações à procura de rendibilidades atrativas com risco mais reduzido. Taxas de juro baixas reforçam o apetite pelo ouro.
  • Dados económicos. Por influenciarem a cotação das moedas e as decisões dos bancos centrais, os dados económicos são também muito importantes na dinâmica da cotação da matéria-prima. Períodos de abrandamento económico ou recessão são favoráveis ao ouro. Já a alta da inflação, apesar de pressionar a subida das taxas de juro, é também habitualmente favorável para o metal amarelo, que é visto como uma boa opção para proteger uma carteira de investimento da alta persistente dos preços dos produtos e serviços.
  • Geopolítica. Quando ocorre um atentado terrorista, um conflito militar ou qualquer outro evento de tensão na geopolítica mundial, o ouro é habitualmente um dos primeiros ativos a reagir em alta. O metal é visto como um dos principais ativos de refúgio por parte dos investidores, pelo que tende a beneficiar em tempos de turbulência e incerteza.

Sendo o ouro uma matéria-prima, é obviamente influenciado também pelo equilíbrio de forças entre a procura e a oferta. A Índia destaca-se como o maior consumidor, devido sobretudo ao culto religioso, sendo frequente a cotação valorizar quando acontece a época de casamentos neste que é o segundo país mais populoso do mundo.

Os bancos centrais são também um poderoso “cliente” do ouro, com o metal precioso a representar uma parte considerável das reservas de muitas autoridades monetárias em todo o mundo. O Banco de Portugal, por exemplo, detém 382,6 toneladas, que em abril estavam avaliadas em perto de 20 mil milhões de euros. É a 14.ª maior reserva de ouro em todo o mundo e equivale a quase 10% do PIB português.

No que à oferta diz respeito, China, Austrália, Rússia e Estados Unidos são os maiores produtores mundiais, sendo que diversos países da América Latina e África têm também um papel relevante na indústria.

Na análise da evolução da cotação do ouro, nenhum dos fatores pode ser visto de forma isolada ou como uma regra simples. Sobretudo porque, muitas vezes, são divergentes. Teoricamente, o abrandamento da economia é positivo para o ouro, mas também terá um reflexo negativo na procura do metal amarelo, pelo que pode pressionar o preço em baixa. A subida da inflação favorece o ouro, mas também pressiona os bancos centrais a subir os juros, o que beneficia igualmente o dólar e as obrigações.

Leia ainda: Venda de ouro: 5 cuidados a ter antes de fechar negócio

Ouro desvaloriza após início da guerra

Numa perspetiva de longo prazo, o ouro tem registado um desempenho notável. Este metal precioso registou uma espetacular valorização desde o início do século até 2012, acumulando 12 anos seguidos de ganhos. Neste período, a cotação aumentou mais de seis vezes, passando de menos de 300 dólares por onça no final de 2000, para mais de 1.600 dólares no final de 2012.

O ouro beneficiou nessa altura do estatuto de ativo de refúgio, tirando partido da ressaca da crise das “dotcom” no início do século, da crise financeira global em 2008 e da crise das dívidas em 2011.

Seguiu-se um período de correção durante três anos e, depois, uma fase de altos e baixos, que culminou com um máximo histórico acima dos 2.000 dólares por onça em março de 2020, nos primeiros tempos da pandemia da covid-19. O metal amarelo regressou a recordes em março deste ano, impulsionado pela incerteza e turbulência gerada com a invasão da Ucrânia por parte da Rússia.

A tendência positiva durou pouco tempo, com a matéria-prima a entrar depois num período de quedas acentuadas, chegando a acumular uma desvalorização de 17% face a máximos, para atingir a cotação mais baixa em 15 meses.

Tendo com conta os fatores listados em cima que influenciam o ouro, este comportamento negativo pode gerar perplexidade. Falhou claramente o estatuto de ativo de refúgio em período de turbulência nos mercados e na geopolítica mundial, não tendo também servido de cobertura de risco face à forte subida da inflação.

Outros fatores tiveram maior peso na direção das cotações. Logo à partida a movimentação do dólar e das taxas de juro das obrigações e dos bancos centrais. A escalada rápida da inflação e a queda das ações provocou fortes ganhos no dólar e levou os bancos centrais a acelerarem o aperto da política monetária, o que motivou uma escalada das yields dos títulos de dívida.

O mercado está agora numa nova fase, que pode ser benigna para o ouro tendo em conta as perspetivas cada vez mais acentuadas de que a economia global caminha para uma recessão, o que vai limitar a agressividade dos bancos centrais na subida de juros. Reflexo destes fatores, o ouro tem recuperado algum terreno nas últimas semanas, à medida que o dólar perde força e as yields das obrigações aliviam de máximos. O episódio da contestação da visita de Nancy Pelosi a Taiwan, por parte da China, também impulsionou as cotações.

Apesar de estarem reunidas as condições para o ouro voltar a brilhar, a matéria-prima não está imune à volatilidade dos ativos cotados e comportamentos nem sempre consonantes com os fundamentais da economia, do setor e do mercado.

Como investir?

São várias as possibilidades de investir em ouro, sendo que primeiro deve ter em conta os seguintes fatores:

  • O ouro é cotado em dólares, pelo que quem investe nesta matéria-prima fica de imediato exposto ao risco cambial.
  • A onça troy é a unidade de medida. Corresponde a 31,1035 gramas.
  • O ouro é transacionado numa série de bolsas de valores, com destaque para a Comex (Estados Unidos), London Stock Exchange (Reino Unido) e Shanghai Futures Exchange (China).
  • A matéria-prima negoceia no mercado de futuros (para entrega numa data pré-determinada) e também no mercado à vista (spot, para entrada imediata). As cotações podem ser consultadas nos sites da especialidade e das bolsas onde é transacionado.
  • O site do World Gold Council é uma das melhores fontes para aprofundar os conhecimentos sobre o ouro.

Compra física

Se quer investir em petróleo, não vai comprar um barril de crude. O mesmo acontece com a maioria das “commodities”. Mas no caso do ouro não é bem assim, constituindo este mais um dos fatores distintivos deste metal precioso. Comprar barras, moedas, artigos de joalharia ou outros produtos com ouro é uma das formas de investir, mas não a mais convencional. Pode fazer sentido numa lógica de investimento de longo prazo e de preservação de valor, mas fica exposto a alguns riscos, como roubo, menor liquidez, depreciação potencial, etc. A febre das lojas de ouro já abrandou em Portugal, mas existem vários espaços para a compra física deste produto. Além, obviamente, das joalharias e ourivesarias. Se comprar uma joia, tenha em conta que vai pagar IVA, que não poderá reaver se vender. Aqui pode ler mais sobre este tema.  

Compra direta nas bolsas

Estando cotado em diversas bolsas de valores, é possível investir diretamente nesta matéria-prima. Pode comprar e vender no mercado à vista (spot), ou através de futuros sobre a matéria-prima. Note que este mercado é direcionado para investidores profissionais, pelo que tem de recorrer a um intermediário financeiro.

Investimento através de ETF

Os Exchange Traded Fund (ETF) são fundos de investimento de gestão passiva, ou seja, replicam o desempenho de um índice ou ativo. Por exemplo, se quer investir na bolsa dos EUA, é mais fácil comprar um ETF do Dow Jones ou do S&P500, face a comprar algumas ações destes índices. Para as matérias-primas é a mesma coisa. Se quer estar exposto a 100% à variação da cotação do ouro, existem muitos ETF no mercado que lhe garantem esta opção. Se pretende apostar na desvalorização do ouro, também existem ETF que valorizam com a descida dos preços. As comissões são habitualmente mais baixas, e como os ETF são cotados em bolsa, pode seguir o desempenho diário do produto.

Leia ainda: ETF: O que são e como funcionam como opção de investimento

Fundos de investimento são opção

Também existem fundos de investimento especializados, que podem investir diretamente na matéria-prima (mercado à vista ou futuros), empresas do setor e outras formas de exposição ao metal precioso. Também podem investir noutros metais preciosos, como prata e platina. Neste caso, a gestão é ativa, ou seja, os profissionais que gerem o fundo têm uma estratégia específica, que deve conhecer antes de investir. As comissões são habitualmente mais elevadas e os fundos estão expostos a variações que podem ser bem diferentes da cotação do ouro.

Leia ainda: Fundos de investimento: Conheça alguns conceitos antes de investir

Compra de ações

Uma forma indireta de extar exposto à cotação do ouro passa por comprar ações de empresas ligadas ao setor, como mineiras e traders da matéria-prima. As cotações dos títulos tendem a variar em função do preço do ouro, mas também ficará exposto a aspetos específicos de cada empresa, o que pode ser positivo ou negativo. Uma das vantagens passa pela possibilidade de receber dividendos ao longo do período do investimento, uma vez que, habitualmente, estas companhias remuneram os acionistas. Também existem índices de empresas que exploram ouro, pelo que pode investir através de um ETF.

Leia ainda: Análise fundamental a ações: Em que consiste e como ajuda a investir 

Alavancar com CFD

Tal como noutros ativos, também é possível alavancar o investimento no ouro. Uma estratégia muito arriscada e que pode resultar na perda total do capital, perdas muito elevadas ou ganhos acentuados. Os contracts for difference são dos mais populares, registando variações muito acima da oscilação do ativo subjacente. São produtos não aconselháveis para investidores de retalho e para quem pretende aplicar as poupanças numa lógica de longo prazo. Na gama de produtos financeiros complexos, também existem warrants e outros derivados.

Se pretende investir em ouro e não tem conhecimentos avançados, o mais fácil passa por comprar um ETF, ficando exposto à variação real do metal amarelo e com uma comissão mais reduzida. Fale primeiro com o seu banco para saber que opções tem à sua disposição.

Leia ainda: Produtos financeiros complexos: O que são e que cuidados deve ter

Nasceu em 1977, sendo jornalista desde 1999. Iniciou a carreira no Jornal de Negócios, onde esteve mais de 20 anos, ocupando várias funções, sempre com foco no online. Atualmente é jornalista independente, assina a newsletter diária de mercados Morning Call e colabora de forma regular com o ECO. Formado em Gestão no ISEG, tem especial interesse por tudo o que está relacionado com os mercados financeiros.

A informação que consta no artigo não é vinculativa e não invalida a leitura integral de documentos que suportem a matéria em causa.

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