Porque deve optar por um fundo para investir nos mercados

É mais simples, menos arriscado, tem menos custos, permite diversificação e tem mais vantagens. Saiba como funcionam os fundos.

Numa altura em que a inflação está em máximos de várias décadas e a taxa de juro dos depósitos continua praticamente nula (e sem perspetivas de subida no curto prazo), deixar o dinheiro das suas poupanças parado numa conta bancária significa perder poder de compra.

É garantido que o retorno real de um depósito (à ordem ou a prazo) será negativo nos próximos meses.

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Pandemia faz disparar taxa de poupança

A pandemia aumentou o nível de poupança dos portugueses, conjugando a maior precaução das famílias perante a incerteza com a menor oportunidade para consumir devido ao encerramento de muitas atividades. A taxa de poupança atingiu máximos deste século, acima de 10% do rendimento disponível.

Cerca de dois terços deste aforro ficaram em depósitos bancários, que atingiram um nível recorde, confirmando  que os portugueses continuam muito conservadores na altura de aplicar as suas poupanças.

Ainda assim, também é notória uma maior apetência das famílias portuguesas por ativos de maior risco. As subscrições líquidas de fundos de investimento mobiliários superaram os 4 mil milhões de euros em 2021, o que representa o valor mais elevado de sempre.

A “aposta” deu resultados, com o desempenho muito positivo dos mercados financeiros no ano passado a gerar retornos de dois dígitos (acima de 10%) numa grande parte dos fundos de investimento das gestoras de ativos portuguesas.

Rendibilidades passadas não são garantia de rendibilidades futuras. Esta “velha máxima” é uma das regras mais importantes dos mercados, mas olhar para o desempenho histórico dos títulos cotados mostra que aplicar parte das poupanças em ativos de risco deve ser uma opção, sobretudo numa lógica de longo prazo.

Fazê-lo através de fundos de investimento é uma das melhores escolhas, sobretudo em alternativa ao investimento direto na compra de títulos cotados nos mercados (ações e obrigações).

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As vantagens de optar por um fundo

Os fundos de investimento são geridos por profissionais, que estão mais bem capacitados para gerir uma carteira de ativos face a um investidor particular, mesmo que este tenha conhecimentos de mercados e disponibilidade diária para gerir o investimento.

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É possível seguir de perto a rendibilidade da aplicação, uma vez que as cotações são publicadas diariamente. A generalidade dos fundos tem uma elevada liquidez, pois podem ser resgatados a qualquer altura. Estão facilmente acessíveis, sendo uma forma simples de investir, possibilitando o acesso a mercados e ativos de outra forma inacessíveis, com uma redução dos custos de transação.

Há mais vantagens em optar por investir através de fundos, sendo que as próximas duas serão até as mais relevantes:

  1. A diversificação da carteira (“não colocar todos os ovos no mesmo cesto”) é uma das regras de ouro do investimento e os fundos oferecem essa possibilidade através de um só produto, sendo que essa diversificação pode ser obtida em termos de ativos e geografias.
  2. A segunda vantagem diz respeito ao nível de risco. Investir diretamente numa ação acarreta um elevado nível de risco. Fica dependente do desempenho de um só título. Se investir num fundo de ações está a arriscar menos, já que a carteira desse fundo é composta por várias ações, que podem ser de empresas de diversos setores, características e países.

Depois há uma série de outro tipo de fundos que permitem uma exposição maior ou menor a ações, que é a classe de ativos que à partida permite retornos mais elevados, embora à custa de riscos mais altos.

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Fundos não garantem capital

Algo que deve ter sempre presente é que os fundos de investimento não garantem o capital, pelo que se é totalmente avesso ao risco de perder dinheiro, estes instrumentos não são para si.

Se está disponível para assumir riscos em parte das suas poupanças, então os fundos são, sem dúvida, uma opção que deve considerar. Sobretudo numa lógica de longo prazo. Investir em fundos deve ser feito com um horizonte temporal nunca inferior a três anos e, idealmente, acima de cinco. Só assim conseguirá atenuar os efeitos da volatilidade dos mercados na sua aplicação.

Se optar por este investimento, existe uma série de informações que tem de saber antes de tomar uma decisão sobre que produto(s) escolher. Desde logo perceber como funcionam. Existem os fundos de investimento mobiliários (FIM, que investem em valores mobiliários transacionáveis, cotados ou não cotados) e os fundos de investimento imobiliários (FII, que investem em imóveis ou títulos emitidos por empresas ligadas ao setor imobiliário).

Existem centenas de fundos disponíveis em Portugal, que são geridos por dezenas de entidades gestoras, que por sua vez são representadas no país pela APFIPP - Associação Portuguesa de Fundos de Investimento, Pensões e Patrimónios. O site da entidade é um bom ponto de partida para obter mais informação sobre esta indústria, que alternativas existem e todas as estatísticas sobre fundos e gestão de patrimónios em Portugal.

Quando investe num fundo, na verdade, está a adquirir uma unidade de participação (UP) desse produto financeiro, que tem uma cotação. A variação do valor da UP vai refletir a variação da cotação dos ativos onde os gestores do fundo aplicaram o dinheiro dos seus clientes. O valor do património de um fundo corresponde à soma das UP de cada investidor.

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O nível de risco e as várias categorias de fundos

Na altura de escolher um fundo, é muito importante que primeiro olhe para o seu nível de risco. A APFIPP divide os fundos em sete níveis, numa escala em que o 1 corresponde a uma volatilidade inferior a 0,5% (risco muito baixo) e o 7 a uma volatilidade acima de 25% (risco muito elevado).

Fundos com um nível de risco de 7 são para investidores classificados como agressivos (muito propensos a risco) e de 1 para muito conservadores (muito avessos ao risco). Para os investidores moderados, os fundos mais adequados são os que têm um nível de risco entre 3 e 4.

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Quanto maior for o nível de risco de um fundo, maior o potencial de valorização dos ativos desse fundo. Mas a probabilidade de perder dinheiro também é mais elevada. É este equilíbrio entre risco e rendibilidade potencial que tem de medir quando escolher onde vai investir.

Além do nível de risco, os fundos são divididos por diversas classes e categorias, que mostram desde logo em que tipo de ativos investe. Tendo em conta apenas os fundos de investimento mobiliários, existem 24 categorias, que podem ser agrupadas num número mais reduzido:

  • Fundos do Mercado Monetário e de Curto Prazo
  • Fundos de Obrigações (Taxa Indexada Euro; Euro; Internacional)
  • Fundos de  Ações (Nacionais; Ibéricas; Europeias; Ações da América do Norte; Ações Sectoriais, Ações Globais; Ações Internacionais
  • Fundos Multi-Activos (Defensivos; Moderados; Equilibrados; Agressivos)
  • Fundos  Flexíveis
  • Fundos de Investimento Alternativo (Obrigações; Retorno Absoluto; Flexíveis; Outros
  • Fundos de Poupança Ações
  • Fundos  de Poupança Reforma

Informe-se antes de investir

No site da APFIPP pode consultar as rendibilidades efetivas e anualizadas (até cinco anos) de todos os FIM geridos em Portugal, bem como o nível de risco de cada um, tudo agrupado por categorias. Para os FII a mesma informação está disponível da associação. As cotações diárias das UP estão disponíveis no site da CMVM e também nas instituições financeiras que as comercializam.  

Além das centenas de fundos geridos em Portugal, tem disponível milhares de fundos estrangeiros, sendo que muitos também estão acessíveis nos intermediários financeiros portugueses (sobretudo online).

Outra das vantagens do investimento em fundos está na transparência destes produtos. Qualquer pessoa tem acesso ao detalhe da estratégia e política de investimento de cada fundo, o perfil dos investidores a que o produto se destina, a composição mensal das carteiras, relatórios mensais, semestrais e anuais com o desempenho do fundo e os comentários do gestor responsável pelo fundo.

Está tudo reunido no prospeto obrigatório, mas basta consultar um documento mais sucinto. Denominado de “Informações Fundamentais ao Investidor”,  o folheto tem lá a informação que necessita para conhecer o fundo. Com a vantagem de estar normalizado, pelo que será fácil de comparar entre os fundos disponíveis.

Há mais uma informação relevante que tem de analisar antes de tomar a decisão definitiva sobre o melhor fundo para si. Atenção às comissões, que podem ser várias: subscrição, resgate, gestão e de depositário.

Habitualmente os fundos não cobram todas elas, mas o melhor é olhar para a “taxa efetiva anualizada de custos e encargos”, que permite uma melhor comparação entre custos de todos os fundos. Pode ser fundamental na decisão final de escolher entre o fundo x ou y.

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A importância de investir a longo prazo

Frisando que rendibilidades passadas não garantem rendibilidades futuras, no final deste artigo deixamos-lhe as rendibilidades médias de algumas categorias de fundos (até ao final de março de 2022) ao longo de vários períodos. Constatará que as obrigações, apesar de serem um ativo de risco mais reduzido, têm um retorno negativo na maioria dos prazos (devido à expectativa de subida de juros por parte dos bancos centrais).

E que o desempenho negativo das ações em 2022 não tem grande impacto na rendibilidade anualizada dos fundos de ações (na categoria Ações Globais, a rendibilidade anualizada é superior a 10% nos últimos cinco anos e próxima de 25% nos últimos dois anos).

Daí a importância de investir sempre numa lógica de longo prazo e não entrar em pânico em períodos de retornos negativos como o que marcou os primeiros meses deste ano. É a melhor forma de reduzir o risco e ficar mais tranquilo com a aplicação das suas poupanças.

Rendibilidades médias mais elevadas nos fundos mobiliários com exposição a ações

Categoria de fundos em Portugal

Rendibilidade efetiva

Rendibilidade anualizada

Últimos

6 Meses

2022

Último Ano

Últimos

2 Anos

Últimos

3 Anos

Últimos

5 Anos

Fundos de Obrigações Euro

-4,22

-3,50

-3,95

0,87

-0,24

0,28

Fundos de Obrigações Internacional

-3,30

-2,97

-2,98

2,79

-0,24

-0,38

Fundos de Acções Nacionais

9,95

7,50

25,92

26,27

5,93

5,63

Fundos de Acções Globais

3,89

-6,26

12,93

24,49

13,78

10,47

Fundos Multi-Activos Moderados

-3,33

-4,17

-1,69

5,14

1,63

1,31

Fundos Multi-Activos Agressivos

-3,28

-6,57

0,53

17,23

4,85

3,04

Fundos de Poupança Acções

9,32

8,01

24,86

25,37

7,85

5,68

Fundos de Poupança Reforma

-2,75

-4,10

-0,97

6,16

1,65

0,99

Valores das rendibilidades em %

Fonte: APFIPP 

Fonte: APFIPP     Valores das rendibilidades em %

Nasceu em 1977, sendo jornalista desde 1999. Iniciou a carreira no Jornal de Negócios, onde esteve mais de 20 anos, ocupando várias funções, sempre com foco no online. Atualmente é jornalista independente, assina a newsletter diária de mercados Morning Call e colabora de forma regular com o ECO. Formado em Gestão no ISEG, tem especial interesse por tudo o que está relacionado com os mercados financeiros.

A informação que consta no artigo não é vinculativa e não invalida a leitura integral de documentos que suportem a matéria em causa.

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