Finanças pessoais

Nudge e sistema de recompensas: Conceitos que podem ajudá-lo a poupar

Sabia que existem conceitos que o podem ajudar a poupar? Conheça o conceito de nudge e o sistema de recompensas, e saiba como os pode aplicar.

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Nudge e sistema de recompensas: Conceitos que podem ajudá-lo a poupar

Sabia que existem conceitos que o podem ajudar a poupar? Conheça o conceito de nudge e o sistema de recompensas, e saiba como os pode aplicar.

Tem dificuldades em poupar ou precisa de um incentivo adicional para o fazer? Então, saiba que existem conceitos que o podem ajudar a criar estratégias, que não só facilitam as suas decisões na hora de poupar, como também criam incentivos para atingir os objetivos que traçou. Neste artigo, vamos apresentar-lhe dois conceitos distintos, o "Nudge" e o sistema de recompensas, que podem ter um papel importante nas suas finanças pessoais, caso precise de uma ajuda adicional. Saiba ainda como é que pode aplicar estes dois conceitos na prática e conheça alguns exemplos de sucesso.

O que é o "Nudge"?

A palavra nudge significa em português empurrão, mas também pode ser considerada como uma espécie de gatilho para influenciar uma decisão. Este conceito, criado por Richard Thaler, vencedor do Prémio Nobel da Economia em 2017, e Cass R. Sunstein, baseia-se num modelo económico de incentivos subtis aplicado a comportamentos previsíveis do ser humano. Por detrás do conceito nudges está uma base sólida ligada à economia comportamental, que no fundo junta as ciências económicas à psicologia, para que seja possível compreender melhor os processos de decisão das pessoas.

Mas antes de explicarmos como é que este conceito funciona na prática e os resultados que têm sido alcançados através deste, é preciso compreender que a economia comportamental defende que o ser humano tem limitações de racionalidade na hora de tomar decisões. Isto não significa que todas as nossas decisões sejam realizadas com imprudência ou sem pensar um pouco no assunto. Contudo, existem duas formas para tomar uma decisão:

  • A primeira é feita de uma forma espontânea, rápida e intuitiva;
  • Já a segunda é feita de forma lenta, racional, lógica e deliberada.

E se pensarmos que por dia tomamos inúmeras decisões no nosso quotidiano, é fácil concluirmos que a maioria das nossas decisões é feita de forma intuitiva, espontânea e rápida. E é nestas tomadas de decisões que o conceito do nudge atua. A aplicação deste conceito é feita através de um pequeno empurrão que tem como objetivo influenciar as nossas escolhas através de detalhes que conduzem o ser humano a um caminho em detrimento de outro. Mas ao contrário do que pode pensar, o nudge não é aplicado de forma proibitiva ou agressiva, uma vez que este não força uma tomada de decisão nem um comportamento específico. Ele apenas torna um caminho mais cómodo ou convidativo do que outros que possam existir.

Mas afinal, como é que o nudge funciona na prática?

Nos últimos anos, o conceito de nudge tem sido aplicado um pouco por todo o mundo, seja através de políticas governamentais, por grandes empresas, campanhas solidárias ou até para melhorar as finanças pessoais e a vida das pessoas. Um dos exemplos da aplicação do nudge com maior sucesso está relacionado com a poupança para a reforma.

Em muitos países existe ainda alguns problemas no que diz respeito ao planos de poupança reforma, dado que é uma decisão voluntária e a maioria das pessoas não desconta o suficiente. Então, a solução encontrada na Dinamarca e nos Estados Unidos da América passou por implementar o conceito de nudge e direcionar a decisão das pessoas para esta poupança. E como é que isso foi feito? Simples. Estes países definiram como escolha-padrão a inscrição automática num plano de poupança. E esta simples alteração permitiu aumentar consideravelmente a poupança para a reforma dos cidadãos, tendo estes a escolha de sair facilmente, se assim o pretenderem. É ainda importante realçar que os trabalhadores podem não aceitar fazer o plano de poupança, precisando apenas de formalizar a sua decisão de como não pretendem fazer esse desconto.

A verdade é que esta simples mudança não só aumentou consideravelmente o número de pessoas que agora descontam para a reforma, como também revelou que a maioria dos trabalhadores não desistiu dos planos de poupança que começaram a constituir. E isto era previsível no conceito de nudge, pois ao saber exatamente como se comporta o ser humano a tomar decisões, é expetável que perante processos mais complexos ou burocracias, o ser humano não altere a sua tomada de decisão.

Outro exemplo de sucesso praticado em Portugal é o caso da doação de órgãos. Segundo o site do SNS, podem ser dadores de órgãos todos os cidadãos que não se inscrevam no Registo Nacional de Não Dadores. Isto quer dizer que todas as pessoas em Portugal são dadoras de órgãos de forma automática. Contudo, todas as pessoas têm a liberdade de escolha para deixarem de ser dadoras, apenas têm que se inscrever para tal. Ou seja, estamos perante de outra aplicação do nudge, que encaminha a tomada de decisão num sentido simples, mas dá sempre a oportunidade de seguir outra direção.

Na prática o conceito de nudge pode ser aplicado a quase tudo, desde às escolhas na alimentação, às suas poupanças pessoais ou à forma como apresentamos a informação.

É possível aplicar este conceito às minhas finanças pessoais?

Sim, é possível. Embora o conceito de nudge, por norma, seja utilizado por entidades para guiar as tomadas de decisões dos consumidores ou da população no geral, ele pode ser implementado na vida pessoal de cada um. Em relação às finanças pessoais, é possível através de um sistema nudge facilitar algumas decisões. Por exemplo, ao optarmos por uma poupança automática estamos a utilizar o conceito de nudge, uma vez que este permite pouparmos mensalmente um valor definido, de forma automática, através de um mecanismo mais simples, que não requer decisões constantes. O mesmo se aplica para fazer um PPR, aumentado o valor da poupança na sua reforma.

E se pensar um pouco sobre o assunto a aplicação deste conceito pode chegar a outras áreas da sua vida que têm um impacto direto nas suas finanças. Ao optar por tomar decisões que o levam por um caminho mais simples para investir o seu dinheiro ou evitar desperdícios, estará a aplicar este conceito e a ajudar as suas finanças pessoais.

Caso sinta a necessidade de aprofundar este conceito, uma vez que esta é apenas uma visão resumida do mesmo, pode ler o livro "Nudge", de Richard H. Thaler e Cass R. Sunstein, ou alguns artigos que já foram publicados em jornais portugueses, como é o caso do Expresso.

Sistema de recompensas: Outro conceito que vale a pena conhecer

Tal como acontece com o nudge, o sistema de recompensas está ligado à psicologia, mas a sua base primária está ligada aos recursos humanos e à gestão de colaboradores. No entanto, o seu conceito pode ser facilmente aplicado a outras áreas, e as poupanças pessoais são uma ótima opção, caso sinta que precisa de uma motivação adicional para aumentar a sua poupança. Mas em primeiro lugar é preciso perceber como é que este sistema funciona para depois conseguir aplicá-lo.

O sistema de recompensas não é nada mais que um conjunto de instrumentos aliados a uma estratégia de natureza material e imaterial, que ajudam a aumentar a motivação e produtividade. No caso dos recursos humanos, o conceito é bastante simples. A empresa define uma estratégia, onde os colaboradores têm objetivos claros, exigentes, mas sempre alcançáveis, de forma a aumentar o nível de desempenho organizacional. Esta estratégia, quando bem aplicada, envolve os seus colaboradores e valoriza sempre o trabalho de equipa, criando um sistema justo e transparente. E sempre que os objetivos são cumpridos, existem recompensas consoante os resultados individuais, coletivos e organizacionais.

Este sistema tem tido bastante sucesso em diversas empresas, uma vez que atrai, motiva e retém os colaboradores. Já para as empresas os resultados também são bastante satisfatórios, uma vez que aumenta os índices de produtividade e desempenho, e ao mesmo tempo permite estabelecer e atingir novos níveis de eficiência.

Em termos práticos, as recompensas dos trabalhadores estão ligadas ao salário, incentivos, prémios e benefícios monetários. No entanto, muitas empresas complementam estas com recompensas imateriais, como oportunidades de formação, aumento de responsabilidades, progressão na empresa e carreira, entre outros novos desafios.

Como é que o sistema de recompensas pode ser útil para poupar?

O sistema de recompensas pode ser muito útil para as pessoas que têm alguma dificuldade em poupar a longo prazo, por sentirem que estão demasiado condicionadas. Afinal, para muitas pessoas, poupar não é uma tarefa fácil, quanto mais terem de fazer esse esforço a longo prazo, sem nunca cometer deslizes. Por isso, se for criado um sistema de recompensas, pode existir uma motivação extra, cada vez que os objetivos são cumpridos.

Mas como é que este conceito se aplica na prática? Em primeiro lugar vai precisar de criar uma estratégia para implementar o seu sistema de recompensas. Imagine que precisa de juntar 3.000 euros. Se poupar 250 euros por mês, em 12 meses vai conseguir juntar esse valor. No entanto, para muitas pessoas este objetivo é irrealista ou requer uma contenção de custos extremamente elevada. O mais provável é que em alguns meses não se consiga poupar essa quantia, o que aumenta a desmotivação e, na pior das hipóteses, pode levar à desistência do objetivo.

E para evitar que tal aconteça, pode traçar uma estratégia de um sistema de recompensas com um plano aplicado num período de tempo mais elevado. Por exemplo, imagine que o objetivo mantêm-se nos 3.000 euros, mas desta vez tem dois anos para concluir a sua poupança. Por mês deve colocar de parte 150 euros. Se fizer as contas, vai reparar que o valor excede os 3.000 euros, uma vez que se multiplicar 150 x 24 meses, dá o total de 3.600 euros. E é aqui que entra o seu sistema de recompensas com base nos 600 euros que sobram.

Ao juntar 150 euros todos os meses, sobram-lhe 25 euros todos os meses. Estes 25 euros podem servir de recompensa mensal, ainda que este não seja o objetivo deste sistema. O grande objetivo passa apenas por ser recompensado por atingir patamares mais elevados, de forma a compensar o seu esforço. E quanto mais elevado for o seu esforço, maior deve ser a recompensa.

Como é que eu aplico um sistema de recompensas?

Para o ajudar a aplicar um sistema de recompensas, vamos usar o exemplo anterior. Pretende atingir o valor de 3.000 euros em dois anos, e ao juntar 150 euros por mês, no final vão sobrar 600 euros. Então, pode criar uma estratégia simples de um sistema de recompensas dividido por três patamares. Deixamos aqui um exemplo que pode aplicar:

  • 1.ª meta - Juntar 1.500 euros em 12 meses = Recompensa de 150 euros (pode usá-la no que pretender, num jantar, numa ida ao spa ou num fim de semana fora)
  • 2.ª meta - Juntar o montante total de 2.250 euros em 18 meses = Recompensa de 200 euros a aplicar no que quiser.
  • 3.ª meta - Chegar ao montante total de 3.000 euros em 24 meses = Recompensa de 250 euros para comemorar a conclusão do seu objetivo.

Este é apenas um exemplo, pode adaptar a estratégia que quiser ou diminuir o valor das recompensas, criando mais um ou dois patamares. O que importa é que se mantenha focado no objetivo final, e o sistema de recompensas apenas sirva de um incentivo adicional para o fazer.

Um dos maiores perigos do sistema de recompensas para ajudar numa poupança pessoal é utilizar o dinheiro que não está contemplado nesta estratégia para compensar o seu esforço, ou não definir um montante da recompensa e acabar a gastar mais do que deve. Lembre-se que neste exemplo o objetivo é sempre o mesmo, juntar 3.000 euros em dois anos, o que pode variar é a forma como aplica o montante que sobra para as suas recompensas. Por isso, se for usar este conceito planeie bem, e faça as suas contas com calma, para beneficiar do sucesso do sistema de recompensas.

Ler mais: Desafios de poupança: Descubra quais são os mais populares e se são boas soluções para aumentar a sua poupança

A informação que consta no artigo não é vinculativa e não invalida a leitura integral de documentos que suportem a matéria em causa.

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