Sempre que vou deixar o meu filho mais pequeno na escola, passo por uma paragem de autocarro em que está colado um cartaz da Junta de Freguesia a anunciar “Consultas de nutrição e reeducação alimentar”. A primeira consulta custa 7,5 € e as consultas de acompanhamento baixam depois para 5 €.
Não faço ideia se são um sucesso ou não. Mas ao ver este cartaz lembrei-me de que milhares de portugueses beneficiariam de consultas de reeducação financeira.
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Reeducar para ganharmos consciência
Muitos de nós muito simplesmente não sabem alimentar-se porque nunca ninguém nos ensinou. No meu caso, foi preciso chegar quase aos 50 anos para, pela primeira vez, ir a uma consulta de nutrição (não foi a esta do cartaz, mas podia ter sido) e descobri que andei a comer mal todas estas décadas: coisas completamente desnecessárias e muito pouco saudáveis. Porquê? Sei lá! Porque me apetecia e porque achava que não fazia assim tanto mal.
Neste último ano, comi na mesma o que queria, na medida mais correta, mas com mais qualidade e com menos perigo para a minha saúde. Deixei de comer tantos bolos e deixei de usar açúcar no café. Perdi peso, sinto-me melhor e mais saudável. E, sim, quando me apetece vou ao McDonald's ou à Pizza Hut. Ou como uma feijoada ou um cozido à portuguesa. Mas passei a ter consciência do que como e de como posso compensar e corrigir os exageros.
E não é que com a nossa saúde financeira é a mesma coisa?
Infelizmente, usamos o nosso dinheiro da mesma forma como muitos de nós nos alimentamos: sem regras e de forma impulsiva. E porquê? Porque nunca ninguém nos ensinou como se faz de forma regrada e inteligente de forma a atingir os objetivos.
As famílias não ensinam a gerir bem o dinheiro e a Escola também não. Logo, é a receita perfeita para o desastre. Se deixarem uma criança alimentar-se só com o que lhe apetece, o que acham que ela vai escolher?
No caso das finanças pessoais, se nos deixarem gastar o dinheiro como nos apetecer (seja qual for a nossa idade) o que é que vai acontecer? A mesma coisa. Por vezes, precisamos de alguém que nos reeduque (a comer e, neste caso, a usar o dinheiro com eficiência).
Usar o dinheiro com eficiência significa rentabilizar ao máximo cada euro que recebemos. Da mesma forma como podemos rentabilizar ao máximo a nossa alimentação de forma a termos a energia que precisamos para tudo o que queremos fazer na nossa vida e sem prejudicar a nossa saúde com excessos completamente desnecessários. Muitas vezes esses exageros de alimentação servem apenas para disfarçar as nossas inseguranças e tristezas.
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Aprender a resistir apenas aos desejos
De igual forma, quantas vezes não gastamos dinheiro sem necessidade nenhuma só porque fazer uma compra nos faz sentir bem momentaneamente? Quantas coisas não comprámos já, e quando chegamos a casa verificamos que já a tínhamos em duplicado ou compramos roupa porque estava em SALDOS que depois nunca acabámos por vestir?
A comparação entre a alimentação saudável e finanças pessoais saudáveis é quase interminável. Infelizmente, em Portugal, não há nutricionistas financeiros. Há cursos aqui e ali de finanças pessoais, mas não são acessíveis a todas as pessoas e carteiras.
O que lhe sugiro é que comece por fazer pela sua saúde financeira. Comece a ler muito sobre o assunto em páginas como esta e outras e procure vídeos no YouTube sobre como gerir melhor as suas finanças pessoais. Atenção que vai encontrar de tudo, bom e mau. Tire as lições que se apliquem ao seu caso e adapte-as à sua situação específica. E depois comece a praticar.
Só precisa de força de vontade, como na alimentação. Passado algum tempo começa a ver resultados. Quem ganha é você.
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Pedro Andersson nasceu em 1973 e apaixonou-se pelo jornalismo ainda adolescente, na Rádio Clube da Covilhã. Licenciou-se em Comunicação Social, na Universidade da Beira Interior, e começou a carreira profissional na TSF. Em 2000, foi convidado para ser um dos jornalistas fundadores da SIC Notícias. Atualmente, continua na SIC, como jornalista coordenador, e é responsável desde 2011 pela rubrica "Contas-Poupança", dedicada às finanças pessoais. Tenta levar a realidade do dia a dia para as reportagens que realiza.
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