Ao longo dos últimos meses temos alertado para um conjunto de pressupostos que nos permitem chegar a uma tomada de decisão relativamente à forma como pretendemos investir, como o devemos fazer e quais os ativos que fazem sentido para podermos atingir os nossos objetivos.
Sempre que decidimos investir em algo, existe um risco associado, risco esse que deve estar bem presente na tomada de decisão. Devemos igualmente perceber muito bem o ativo onde estamos a investir, de forma a podermos ter uma estratégia preparada, sobretudo, para o cenário mais adverso.
Sentimento de mercado
No último ano, o comportamento dos mercados financeiros, ações, obrigações ou mesmo investimentos alternativos como criptomoedas (se é que se pode chamar de investimento alternativo), globalmente, têm apresentado performances muito interessantes, fazendo com que comece a existir entre os investidores menos experientes uma crença de que os mercados financeiros só sobem. Esta perceção tem a ver com o facto de que ao longo deste ano, sempre que assistimos a quedas ligeiras dos índices de ações, estas são seguidas de recuperações rápidas, dando uma ideia de força e de “invencibilidade”.
Siglas que caracterizam comportamentos de investidores
Existem até algumas siglas que têm vindo a caracterizar o comportamento dos mercados financeiros, tais como BTP (buy the dip), TINA (There is no alternative) ou FOMO (Fear of missing out). Todas estas denominações refletem o sentimento por parte dos investidores e a forma como estão a abordar as suas poupanças ou o comportamento dos mercados financeiros.
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Exemplo da China
No primeiro e segundo parágrafo, reforçámos a importância de saber onde estamos a investir e qual o risco ou os riscos que podem condicionar a performance da nossa carteira. Durante o mês de julho tivemos um exemplo que explica bem o que é o mercado, com vários pressupostos interligados, risco político, sentimento e empresas que têm bons fundamentais.
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A China é comandada por um regime comunista, que se caracteriza por pretender ter um controlo apertado sobre a economia e sua evolução. Nos últimos anos, o plano económico previa uma progressiva abertura da economia ao exterior e a aposta no sector tecnológico, de forma a alcançar um lugar de destaque no mundo. Em termos económicos, a economia chinesa tem conseguido um crescimento considerável, sendo hoje a segunda maior economia do mundo (só ultrapassada pelos EUA). Esta evolução económica trouxe novos desafios para o governo chinês, nomeadamente a forma como pretende controlar a informação que empresas que estão a atingir uma dimensão considerável têm em seu poder e, como essa informação pode ou não chegar a outros Estados se estas empresas começarem a cotar em bolsas internacionais.
Dentro deste enquadramento, no mês de julho, o governo chinês anunciou nova regulamentação para as empresas do sector tecnológico, surgindo inclusivamente o rumor de que as empresas tecnológicas ligadas ao sector da educação iriam ser nacionalizadas. Em termos bolsistas, o impacto foi enorme. Em três dias os índices chineses caíram 15% e empresas com bons fundamentais e bons indicadores, caíram 20% em poucos dias.
Apresentamos este exemplo, porque quando investimos, devemos ter em conta não só as empresas ou os ativos onde vamos investir, mas também o contexto em que esses ativos se enquadram.
Outro ponto de análise importante é que assim que as notícias foram surgindo e os investidores perceberam que os ativos com ligação à China estavam a ser pressionados, começaram a vender de uma forma indiscriminada, seguindo-se uma onda de sentimento negativo que fez com que tivéssemos quedas consideráveis e anormais. Apesar disto, é importante percebermos que o risco político associado à China é um fator que deve ter uma importância fundamental na hora de tomar uma decisão de investimento, uma vez que uma decisão do governo chinês pode colocar em causa toda uma trajetória de crescimento de uma empresa, que aparentemente, tem um potencial de crescimento enorme.
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Lição a tirar
A forma como o risco político influenciou o sentimento de mercado foi concentrado na China, mas o importante é percebermos que os mercados financeiros não são lineares e que podem existir acontecimentos que têm uma influência forte na perceção dos investidores.
Este exemplo é importante, porque ao longo da história sucederam muitos episódios que tiveram impactos semelhantes no sentimento e na forma como os investidores analisam a evolução da economia, empresas e mercados financeiros. Ter um conhecimento aprofundado do portefólio é fundamental para, em situações de stress, manter a calma e tomar as melhores decisões. A diversificação e equilíbrio irão ser sempre “armas” fundamentais em todos os contextos que possamos atravessar.
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A informação que consta no artigo não é vinculativa e não invalida a leitura integral de documentos que suportem a matéria em causa.
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