Habitação: Preços, rendas, juros e rendimentos

Preços, rendas, juros e rendimentos. Como se comparam estas variáveis em Portugal, e o que nos dizem sobre o acesso à habitação?

Aqui há dias, escrevi um artigo no Out of the Box sobre acessibilidade na habitação, fazendo referência a um relatório do Banco de Portugal.

Há diferentes formas de aferir sobre a acessibilidade na habitação num dado mercado. Tanto os rendimentos das pessoas, como as condições de crédito, contribuem para uma maior ou menor acessibilidade no momento de escolher uma casa.

Seja na ótica da compra, seja na do arrendamento, pode-se procurar fazer um exercício de colocar todas estas variáveis em perspetiva.

Preços e Rendas

Já não é novidade para ninguém que os preços e as rendas das casas em Portugal estão muito elevados. Se durante alguns anos, o elevado preço das casas foi, de alguma forma, mitigado pelo baixo nível das taxas de juro, já no caso do arrendamento, as rendas subiram bem além dos rendimentos das pessoas.

Entre 2009 e 2022, o índice de preços na habitação em Portugal, segundo dados do INE, subiu 83%. Já as rendas, cresceram 31%. E se olharmos apenas para as rendas dos novos contratos de arrendamento, a subida foi de 49%, apenas entre 2017 e 2022.

Leia ainda: Rendas: Quais os limites para os novos contratos?

Taxas de juro

Já as taxas de juro, depois de um longo período de queda, voltaram a subir de forma acentuada em 2022, colocando maior pressão junto das famílias com crédito habitação e dificultando ainda mais o acesso ao mercado, para aqueles que, pretendendo comprar, necessitam de crédito para o efeito.

Leia ainda: Pedir moratória ou renegociar condições do crédito?

Rendimentos

Por fim, os rendimentos. Segundo dados da Pordata, o rendimento médio disponível das famílias tem vindo a subir de forma gradual e consistente, com ligeira quebra no ano de 2022.

Colocando todos estes dados em perspectivas, no espaço temporal apontado (2009 a 2022), conclui-se que os rendimentos dos portugueses, de facto, não conseguiram acompanhar os preços na habitação, seja na componente de compra, seja na de arrendamento. Além disso, a subida dos rendimentos foi praticamente anulada pela inflação acumulada no mesmo período.

As taxas de juro apresentam uma variação de 30%, tendo subido de 2,08% para 2,72%, tornando o crédito mais caro, logo baixando o poder de compra das famílias portuguesas.

No espaço de 13 anos, a acessibilidade na habitação agravou-se. O poder de compra na habitação que se verificou ao longo de quase 10 anos foi, em grande parte, influenciado por uma conjuntura de taxas de juro historicamente baixas. Tendo esse período chegado ao fim, é natural esperar que este ciclo expansionista do mercado tenha também chegado à sua conclusão.

Bons negócios (imobiliários)!

Nota: Por questões de comparabilidade e disponibilidade de fontes, todos os dados presentes neste artigo respeitam à observação no final de cada período.

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Gonçalo Nascimento Rodrigues é Consultor em Finanças Imobiliárias, tendo trabalhado em empresas como Ernst & Young, Colliers International e Essentia. É Coordenador e Docente numa Pós-Graduação em Investimentos Imobiliários no ISCTE Executive Education. Adicionalmente, exerce atividade de consultoria, prestando serviços de assessoria ao investimento imobiliário. Detém um master em Gestão e Finanças Imobiliárias e um master em Finanças, ambos pelo ISCTE Business School, além de uma licenciatura em Gestão de Empresas na Universidade Católica Portuguesa. É autor do blogue Out of the Box.

A informação que consta no artigo não é vinculativa e não invalida a leitura integral de documentos que suportem a matéria em causa.

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