Muito se tem falado sobre a crise habitacional e as novas medidas propostas pelo Estado, sendo que estas últimas carecem de análise detalhada muitas vezes pela falta de clareza.

Da minha parte, não me canso de falar sobre arrendamento e de como esta pode ser a grande solução para equilibrar o mercado em ciclos de subida de preços dos imóveis, eventual subida futura de juros da habitação, ou de ambas os cenários ao mesmo tempo.

Todas as medidas que incentivem esta solução de habitação, seja para quem procura casa, ou para quem pretende investir para desenvolver oferta, serão sempre bem-vindas.

O Estado é provavelmente a entidade que detém o maior património habitacional em Portugal. É um património vasto, disperso e, na sua maioria, pouco cuidado pelos diversos órgãos que o gerem.

Quando pensamos em grandes proprietários imobiliários, imaginamos bancos, fundos internacionais ou grupos de investimento. Mas a verdade é outra: o maior senhorio de Portugal é o próprio Estado.

Entre ministérios, autarquias, forças armadas, empresas públicas e institutos, o Estado português detém dezenas de milhares de imóveis — muitos deles sem uso, fechados ou em ruína. São edifícios que poderiam gerar valor, habitação ou emprego, mas permanecem como memória parada no tempo.

A ironia é que, enquanto o país enfrenta uma crise de habitação sem precedentes, o Estado guarda em silêncio um património que, se gerido com visão e estratégia, poderia ser um motor de transformação social e económica.

O programa REVIVE é um passo, mas ainda tímido. Falta um plano nacional que veja este portefólio como um ativo vivo, e não um fardo administrativo.

Porque património sem propósito é desperdício — e o verdadeiro valor imobiliário nasce quando um espaço volta a ter vida.

Talvez o futuro da habitação em Portugal dependa menos, e não só, de construir mais… mas mais de reaprender a usar o que já temos.

Vamos construir um cenário para avaliar uma possível solução.

E se este património fosse inserido num mega fundo imobiliário a cargo de uma sociedade gestora que tivesse como objetivo rentabilizá-lo e, ao mesmo tempo, servir os segmentos mais fragilizados em relação à procura habitacional (segmento médio, médio-baixo e baixo).

Poderia ser um fundo apenas dedicado ao arrendamento urbano, sendo que, ao mesmo tempo, poderia ser subscrito por qualquer pessoa – tal como os certificados de aforro -, inclusive pelos próprios arrendatários que poderiam obter rentabilidade de forma indireta. Poderia ser, sem dúvida, um investimento atrativo.

Na minha opinião, os fundos podem ser a possível solução para gerar equilíbrio e estímulo ao mercado do arrendamento, até porque facilmente poderão gozar de vantagens fiscais para que a sua rentabilidade consiga ser ainda mais atrativa.

Obviamente a gestão dos ativos seria um dos grandes pontos críticos para que esta solução pudesse ser realmente viável.   

Nas últimas crises do subprime e divida soberana, os fundos tiveram um papel importante para gerir o impacto negativo, atuando para que os imóveis dos bancos pudessem sair dos balanços e colocados para venda ou arrendamento num mercado possível à altura.

Porque não pensar seriamente nos fundos como a possível solução?

A iniciativa e a solução está, maioritariamente, na mão do Estado, e não dos privados.

Citando o Gonçalo Nascimento Rodrigues: “O maior promotor imobiliário deveria ser sempre o Estado”.   

Leia ainda: Arrendamento, uma solução para todas as gerações

A informação que consta no artigo não é vinculativa e não invalida a leitura integral de documentos que suportem a matéria em causa.

Autores ConvidadosImobiliário