Tradicionalmente, as bolsas são associadas a uma imagem de forte turbulência, mas as criptomoedas deram-lhe nova escala.
No mundo digital, os altos e baixos das montanhas-cripto não têm precedentes, dando à imagem acrescida imprevisibilidade e instabilidade, que é o mesmo que dizer, maior volatilidade.
Um exemplo recente: entre 2021 e 2022, a bitcoin desvalorizou 77% para os 15 mil dólares. À data deste artigo (dezembro 2025), vale cerca de 90 mil dólares.
E há poucos meses, em julho, atingiu um máximo histórico de cerca de 120 mil dólares. Já se sente indisposto? Espere um pouco porque o que vem a seguir é diferente: é uma criptomoeda, também está sujeita aos altos e baixos dos mercados, mas ganha nome por ser estável. É uma criptomoeda estável, ou em inglês, uma stablecoin.
Voltando à montanha-russa…. Imagine-a com subidas e descidas de cortar a respiração: compra o bilhete, ocupa o seu lugar, põe o cinto de segurança e pensa: “O que há de correr mal?”. A seguir, bom, a seguir já não há muito a fazer, se não confiar que a viagem vai ter um desfecho feliz.
De facto, é o trilho que dá à experiência fiabilidade. Na instabilidade, ele mantém-nos seguros e na direção certa.
À partida, garante-nos uma viagem emocionante, divertida e segura.
É assim também com as stablecoins, mas, neste caso, o trilho é um ativo real e fixo (normalmente, moedas tradicionais como o dólar ou o euro, ou até mesmo ativos como ouro).
Mas vamos por partes…
Primeiro, o que é uma stablecoin?
É uma criptomoeda criada para manter valor estável, geralmente atrelada a moedas, como dólar ou euro, ou a ativos como o ouro.
Uma outra clarificação ainda: a stablecoin também é diferente de uma criptomoeda original, como a bitcoin. Porque é, na realidade, um token, um ativo digital, neste caso, estável. Não é uma criptomoeda porque ela funciona “em cima” de uma blockchain já existente, a bitcoin, por exemplo.
Acontece que este token dá às criptomoedas um valor de troca estável, porque é baseado em ativos reais.
Num parque de diversões, é a ficha que trocamos por dinheiro na caixa. Enquanto estivermos no parque, ela vale tanto quanto o dinheiro.
Por exemplo, se uma stablecoin estiver ligada ao dólar, 1 unidade valerá 1 dólar, ainda que a bitcoin tenha subido ou caído naquele dia.
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Como funcionam?
As stablecoins mantêm o valor estável utilizando mecanismos como reservas de ativos ou algoritmos automáticos que ajustam a oferta.
A maioria é garantida por ativos reais (moeda, obrigações, matérias-primas), que as empresas emissoras detêm.
Por cada stablecoin emitida, há um valor equivalente em reservas, de forma a garantir a sua convertibilidade.
Tipos de stablecoins
As stablecoins usam diferentes estratégias para manter o preço estável. As mais comuns são:
- Baseadas em dinheiro real
Uma empresa guarda dólares num banco e emite uma stablecoin por cada dólar guardado.
Exemplo: USDT (Tether) e USDC (USD Coin) - Garantidas por outras criptos
Usam outras criptomoedas como garantia. O sistema tem regras automáticas para manter o equilíbrio e manter o valor.
Exemplo: DAI - Algorítmicas
Sem garantia em dinheiro. Um programa controla a quantidade de moedas em circulação, tentando manter o valor estável. Este modelo é o mais arriscado. Já houve casos em que falhou (como a UST/LUNA, que perdeu todo o valor).
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Vantagens das stablecoins
– São usadas como uma “porta de entrada e saída” no mundo das criptomoedas.
– É possível converter os ativos voláteis em stablecoins para proteger o valor e depois voltar para outras criptomoedas quando se quiser.
– Facilitam transações: Permitem pagamentos e transferências rápidas, globais e de baixo custo.
– Instrumento de proteção: em ambientes de elevada inflação, podem preservar valor, funcionando como refúgio financeiro.
– Podem evitar grandes perdas: se investe em criptomoedas, pode usar stablecoins para “parar” a montanha-russa quando quiser fazer uma pausa.
– Transferência rápida e barata: pode enviar dinheiro para qualquer lugar do mundo em segundos, sem depender dos bancos tradicionais e das suas taxas.
Exemplos:
Imagine alguém na Argentina, onde a moeda local perde valor rápido: se comprar uma stablecoin atrelada ao dólar pode proteger o dinheiro da inflação.
Por outro lado, alguém que quer mandar dinheiro para um familiar no estrangeiro: se usar uma stablecoin, a transferência pode ser feita em poucos minutos — sem pagar comissões bancárias altas.
Riscos das stablecoins
- Falta de transparência: nem todas as empresas mostram claramente se têm o dinheiro que dizem ter em reserva.
- Risco regulatório: Autoridades globais ainda discutem como supervisionar e garantir a transparência dessas moedas.
- Problemas de solvabilidade: Se o emissor não mantiver reservas suficientes, a stablecoin pode perder o valor prometido.
- Risco tecnológico: as stablecoins algorítmicas podem falhar se o algoritmo for manipulado ou o mercado sofrer choques extremos.
Ah… mas nunca se esqueça da montanha-russa
Mesmo que as stablecoins funcionem como o trilho seguro e certo na montanha-russa do mercado das criptomoedas, é necessária muita cautela.
O risco está lá e as empresas que as emitem são credíveis até deixarem de o ser. Sabemos bem quantos gigantes bancários tinham, afinal, pés de barro.
Sim, dão estabilidade, mas tudo depende dos altos e baixos… há movimentos repentinos que podem não ser travados nem corrigidos.
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