A mobilidade laboral dentro da União Europeia e em países terceiros tornou-se uma realidade cada vez mais frequente. Empresas de vários setores recorrem ao destacamento de trabalhadores como forma de responder a necessidades específicas de projetos, missões temporárias ou mesmo para expandir as suas atividades além-fronteiras.
Conheça, neste artigo, o que significa ser um trabalhador destacado, quais os seus direitos e deveres e quais as responsabilidades das empresas que promovem este regime.
O que é um trabalhador destacado?
Um trabalhador destacado é aquele que, estando vinculado a uma empresa num determinado país, é enviado temporariamente para outro país para prestar serviços. Importa sublinhar que o vínculo laboral se mantém com a empresa de origem, e não com a entidade que recebe os serviços.
O destacamento pode ocorrer em várias situações, como:
- Prestar serviços num contrato celebrado entre a empresa de origem e uma entidade no país de destino;
- Transferência de trabalhadores entre estabelecimentos da mesma empresa ou grupo empresarial;
- Colocação através de uma empresa de trabalho temporário.
Quadro legal em Portugal e na União Europeia
Na União Europeia, o regime dos trabalhadores destacados está regulado por diretivas comunitárias, nomeadamente a Diretiva 96/71/CE e as suas alterações mais recentes, que visam garantir a proteção mínima dos trabalhadores deslocados e assegurar condições de concorrência leal entre empresas. Em Portugal, a transposição destas normas encontra-se prevista no Código do Trabalho e em legislação complementar.
Quais os direitos dos trabalhadores destacados?
Ser destacado para outro país não significa perder direitos laborais. Pelo contrário, a legislação procura garantir que estes trabalhadores não sejam prejudicados. Entre os principais direitos, destacam-se:
Remuneração e condições de trabalho
O trabalhador destacado tem direito a receber a remuneração mínima aplicável no país de destino, incluindo subsídios, complementos e outras prestações obrigatórias, desde que mais favoráveis que as do país de origem. Isto assegura que não exista exploração através de salários mais baixos.
Jornada de trabalho e descanso
Aplicam-se as regras do país de destino no que toca a horários de trabalho, períodos de descanso e férias. Isto significa que, mesmo estando vinculado à empresa do país de origem, o trabalhador beneficia das condições locais, sempre que mais favoráveis.
Segurança, higiene e saúde no trabalho
O trabalhador destacado tem direito às mesmas condições de segurança e saúde aplicáveis aos trabalhadores locais. A entidade recetora deve garantir um ambiente de trabalho seguro, respeitando normas de prevenção de riscos profissionais.
Leia ainda: Higiene e Segurança no Trabalho: O que precisa de saber
Igualdade de tratamento
O princípio da não discriminação aplica-se integralmente. O trabalhador destacado não pode ser tratado de forma menos favorável do que os trabalhadores locais em situação comparável.
Segurança Social
Durante o destacamento, o trabalhador pode manter-se sujeito ao regime de Segurança Social do país de origem, desde que o destacamento seja temporário e devidamente autorizado através do formulário A1 (no caso da União Europeia).
Informação transparente
O trabalhador deve ser devidamente informado, por escrito, sobre as condições do destacamento, incluindo duração, local de trabalho, remuneração aplicável e direitos sociais.
Quais os deveres dos trabalhadores destacados?
Tal como têm direitos, os trabalhadores destacados também estão sujeitos a deveres durante o período de deslocação:
Cumprimento das normas locais
O trabalhador deve respeitar as leis laborais e regulamentações do país de destino, no que respeita a horários, regras de segurança e procedimentos internos da empresa recetora.
Cooperação com a entidade empregadora
Durante o destacamento, espera-se que o trabalhador mantenha o mesmo nível de profissionalismo, empenho e dedicação que teria no país de origem.
Respeito pelas normas de segurança
O trabalhador é responsável por cumprir as normas de segurança e utilizar os equipamentos de proteção individual fornecidos.
Comunicação de ocorrências
Qualquer incidente, acidente ou problema relacionado com as condições de trabalho deve ser comunicado de imediato à entidade empregadora ou ao responsável local.
Responsabilidades das empresas
As empresas que destacam trabalhadores têm um conjunto de responsabilidades que não podem ser descuradas:
1. Garantir condições adequadas
É obrigação da empresa assegurar que o trabalhador destacado usufrui das condições laborais mínimas previstas no país de destino.
2. Regularização legal
Antes do destacamento, a empresa deve cumprir todas as formalidades legais, incluindo a comunicação às autoridades competentes do país de destino, sempre que exigido.
3. Continuidade da relação laboral
Durante todo o período de destacamento, a relação laboral mantém-se inalterada com a empresa de origem. Isto significa que continuam a vigorar os direitos associados à antiguidade, progressões e vínculo contratual.
Responsabilidade solidária
Em algumas situações, tanto a empresa de origem como a entidade recetora podem ser responsabilizadas solidariamente pelo cumprimento das obrigações laborais.
Quais os desafios práticos?
Apesar de o regime estar devidamente regulamentado, existem desafios práticos na sua aplicação:
- Diferenças culturais e linguísticas que podem dificultar a integração do trabalhador;
- Divergências entre o quadro legal do país de origem e o do país de destino;
- Dificuldades no acesso à informação por parte dos trabalhadores.
Para garantir uma experiência positiva para todas as partes envolvidas, algumas boas práticas podem ser seguidas:
- Informar detalhadamente o trabalhador sobre os seus direitos e deveres antes do destacamento;
- Prestar apoio logístico, como alojamento e transporte, sempre que possível;
- Promover ações de formação sobre segurança e cultura local;
- Garantir acompanhamento contínuo durante todo o período de destacamento.
Considerações finais
O regime de trabalhadores destacados é uma ferramenta valiosa para empresas que atuam em mercados internacionais e uma oportunidade para trabalhadores adquirirem novas experiências profissionais. Contudo, para que este processo decorra de forma justa e equilibrada, é fundamental que sejam respeitados os direitos dos trabalhadores, bem como cumpridos os seus deveres. A transparência, a comunicação eficaz e o cumprimento rigoroso da legislação são elementos-chave para o sucesso deste modelo de mobilidade laboral.
