É através de uma dupla portuguesa de designers de jogos de tabuleiro que propomos uma viagem ao Japão do período Meiji, que começou em 1868 e se estendeu até 1912. Na apresentação deste tema escolhido por Paulo Soledade e Nuno Bizarro Sentieiro, descreve-se como o Império nipónico enviou os seus emissários até às nações ocidentais, com vista a trazer de volta académicos e engenheiros que pudessem acelerar o processo de industrialização do país. Aos jogadores cabe o papel de representar um dos quatro conglomerados que, com o apoio do Imperador, dominaram a economia japonesa daquele tempo. Zaibatsu, assim se chamavam esses gigantes industriais.
Começar pela seda, acabar nas lâmpadas e relógios
Em “Nippon” (2015), o empresário-jogador terá de fazer crescer a sua companhia, inicialmente alicerçada nas tradicionais oficinas de seda, até se transformar num potentado de conhecimento tecnológico, de comércio interno e externo, de produção em variados setores. Os componentes que povoam o tabuleiro, no qual as ilhas japonesas são divididas em regiões, não podiam ser mais “industriais”: temos trabalhadores, comboios, navios, fábricas, maquinaria, contratos, desenhos técnicos, cidades e notas de yen. Há tabelas para a produção de carvão, para o rendimento em dinheiro e para o nível de conhecimento. E, claro, existe uma pista para se ir somando os pontos de vitória.
A mecânica do jogo passa por colocar trabalhadores a desempenhar uma determinada tarefa. Entre as ações disponíveis, podemos adquirir novos conhecimentos, produzir, exportar, investir, minerar, ou adquirir máquinas, navios ou comboios. A imersão é grande. As fábricas em que os zaibatsu investem, de acordo com o nível tecnológico alcançado, podem produzir seda, papel, lentes, relógios ou lâmpadas. Também há a hipótese de fabricar as típicas caixas “bento”, recipientes esteticamente atraentes com vários compartimentos que se usam para organizar e transportar comida. Nesta diversificação, será importante aproveitar as eventuais sinergias que tornarão o conglomerado ainda mais poderoso.

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Um olho no mercado interno, outro no externo
Aqui, o progresso não se limita a erguer as paredes de uma fábrica. A modernização da indústria, e consequentemente do país, passa obrigatoriamente pela maquinaria, pelo que o empresário-jogador terá de efetuar constantes melhorias nos seus equipamentos a vapor. E, porque tudo está ligado, as exigências desta industrialização irão certamente obrigar a fortes investimentos em minas, de modo a aumentar a extração do insubstituível carvão. Quando tudo estiver em sincronia, os produtos e o dinheiro aparecerão, não por magia, mas como fruto de uma estratégia devidamente delineada. Nesse momento, as apostas feitas no transporte ferroviário e marítimo terão especial importância nas diferentes regiões do tabuleiro.
Em escassas décadas, o Japão transformava-se num país importador de matérias-primas e exportador de produtos acabados. Ao colocarem os seus trabalhadores no espaço da exportação, as zaibatzu podem cumprir vários contratos de venda de um ou mais produtos. Mas convirá não esquecer o mercado interno. Os habitantes das cidades japonesas também estão desejosos de aceder aos novos produtos. Cada localidade, aliás, desenvolve um gosto por itens específicos, e será essa necessidade que os empresários-jogadores podem suprir, através da ação do mercado local. Quem fornecer seda a uma cidade que precisa de seda ganha influência local e, em troca, recebe dinheiro, carvão, pontos de vitória… Mas, como o mercado é livre, os concorrentes podem sempre tentar superar a influência que vai sendo adquirida pelos adversários.
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Em busca dos favores do poderoso imperador
Quando não é possível colocar mais trabalhadores, chega a hora de consolidar. Recebe-se então o novo orçamento (de acordo com o nível alcançado na pista do dinheiro), extrai-se carvão das minas e recebem-se recompensas do imperador pelo trabalho realizado. No terceiro ato da consolidação pagam-se os salários da força de trabalho, preparando-a para uma nova fase. Após oito rondas, faz-se a última contagem de pontos, que leva sempre em conta a influência que os diferentes zaibatsu alcançaram no mapa japonês.
Quem ganhou? Se os jogadores olharem para os seus mini tabuleiros e os encararem como parte de uma nação, talvez todos se possam achar vitoriosos. Afinal, foram um dos zabaitsu que contribuíram para a incrivelmente rápida revolução industrial do Japão. E isso de formar uma nova potência económica à escala mundial, mesmo que seja num jogo de tabuleiro, é obra de monta.
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