Em Age of Steam (2002), somos colocados no papel de donos de uma companhia de caminhos de ferro, na era das locomotivas a vapor. A nossa missão será colocar os trilhos no mapa, de forma a ligar cidades e vilas e poder transportar mercadorias. Dividido em turnos e fases, a primeira tarefa passa por angariar dinheiro. Cada jogador decide se quer emitir ações, que geram dinheiro fresco para investir, mas acarretam custos tanto na fase das despesas como no final do jogo. É possível emitir várias ações por turno, mas existe um limite máximo para este tipo de capitalização.
Se queres ser o primeiro a jogar, paga
Neste tabuleiro, a princípio despido de linhas, a competição é tão feroz que até existe um leilão para ver quem é o primeiro a jogar. A ordem é importante, pois em cada ronda apenas um jogador pode escolher as várias ações disponíveis. Face ao território por desbravar, é preciso pensar estrategicamente sobre o mais necessário em cada momento. Movimentar mercadorias ou construir linhas ferroviárias? Usar o engenheiro para poder aplicar mais linhas? Escolher a locomotiva para ser mais eficaz no transporte dos produtos? Optar pela urbanização para poder colocar no mapa uma nova cidade?
Aos poucos, os hexágonos vão sendo preenchidos pelos carris dos vários empresários. Construir a ferrovia tem regras específicas, e custos monetários, decorrentes da complexidade e da localização dos trilhos. Quando se consegue ligar duas localidades, fica-se detentor dessa via. Mas, caso a linha fique incompleta, então outra companhia poderá aproveitar as linhas já postas no chão, adicionando-lhes carris que levam a outra localidade, assumindo dessa forma a posse dessa ligação. O melhor é não deixar nada ao abandono…

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Bancarrota = morte súbita
Será pelas nossas vias que se vão movimentar as mercadorias, a maneira de aumentar o nosso rendimento. Também podemos expedir pelas vias dos concorrentes, mas nesse caso eles também sobem na escala do rendimento. Feitas estas movimentações, recebe-se o precioso dinheiro da receita, tão necessário para voltar a investir no mapa. Antes disso, é preciso pagar as despesas, que representam a soma das ações emitidas, do valor associado ao transporte de mercadorias e das linhas colocadas no terreno. Se assim quisermos, são os custos da operação e da manutenção. É será preciso fazer bem as contas. Se um jogador não conseguir pagar as suas despesas, em Age of Steam a bancarrota não tem salvação: a companhia abre imediatamente falência e o jogador é eliminado do jogo.
A cada ronda, as cidades produzem novas mercadorias. Depois, repete-se o esquema de fases até se chegar às contas finais, que têm em conta o nível de rendimento atingido e as linhas férreas que se formaram entre localidades. A esse valor, subtrai-se o valor das ações emitidas e fica encontrado o vencedor.
Mapas diferentes, experiências diferentes
A edição “deluxe” inclui seis mapas, alguns com regras específicas. Por exemplo, no mapa do Oeste dos Estados Unidos, que nos leva a viajar entre cidades como St. Louis, Nova Orleães, São Francisco ou Los Angeles, os jogadores começam com o dobro do dinheiro, pois ao valor das ações inicialmente emitidas adicionam dinheiro da sua fortuna pessoal. Ou seja, neste cenário, somos Barões da Ferrovia. Já no mapa do Sul dos Estados Unidos, aterramos num contexto histórico em que a principal mercadoria transportada era o algodão. Atlanta funcionava como o ponto central deste comércio sustentado pela escravatura, orientando o algodão para os portos de Savannah, Charleston ou Nova Orleães.
Para simular os efeitos da Guerra Civil, especificamente a tomada de Atlanta pelas tropas do general Sherman e a destruição da capacidade industrial da cidade, há uma redução de rendimento acrescida durante o turno 4. Existem ainda mapas da Alemanha, onde o foco está nos terminais estrangeiros que só aceitam um tipo de mercadoria e na produção constante da cidade de Berlim, de Barbados, de Santa Lucia e da região conhecida por Cinturão de Ferrugem, que engloba os estados norte-americanos do Ohio, Indiana, Ilinóis, Pensilvânia, Nova Iorque e Michigan.
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Um portefólio de ações de companhias ferroviárias
No caso do jogo Ride the Rails (2020), o tabuleiro original engloba todo o território dos Estados Unidos; no entanto, já foram também lançados mapas de França e Alemanha, Austrália e Canadá, Países Baixos e Inglaterra/País de Gales. A divisão do território faz-se novamente em hexágonos e os jogadores assumem o papel de investidores na ferrovia. O esquema começa, novamente, pela fase de ações, mas desta vez através da compra, sendo possível escolher entre seis empresas diferentes, cada qual com a sua cor, a sua dimensão e o seu prestígio. Ao longo da partida, podemos diversificar o portefólio ou tentar acumular ações da mesma companhia de caminhos-de-ferro. Porém, apenas se conseguirá financiar a construção de novas vias das empresas em que se é acionista. Na colocação dos carris no mapa, atravessar montanhas implica um maior esforço, e chegar a certas cidades garante bónus financeiros. Quem criar uma ligação entre as costas este e oeste também obtém uma choruda maquia.

Na última fase de cada ronda, movimentam-se passageiros entre cidades, através das linhas já concluídas. Quando o passageiro chega ao seu destino, é retirado do tabuleiro e todos os investidores recebem dinheiro das companhias utilizadas na respetiva viagem, desde que tenham ações nas mesmas. Cada jogador tem de mexer obrigatoriamente um passageiro, mas é livre de escolher qual deles e até a distância do trajeto. Por exemplo, pode não interessar que o cavalheiro vá umas cidades mais além, usando uma companhia em que não se detém ações, pois isso só daria dinheiro aos competidores. O dinheiro vai-se somando numa escala à volta do tabuleiro. No final, quem tiver amealhado mais, é coroado o rei dos caminhos-de-ferro.
E talvez fosse boa ideia aos nossos governos contratá-lo para consultor, a ver se sempre conseguíamos concretizar o plano de termos uma linha de alta velocidade. Uma só que seja, para amostra.
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