Jovens a jogar videojogo

Desenvolvido por uma marca de cartões bancários para o seu website Practical Money Skills, o videojogo The Payoff permite uma experiência enquanto professor, estudante ou simples jogador. Escolhida a personagem, Alex ou Jess, entra-se rapidamente na dinâmica do jogo, essencialmente construído em redor de mensagens de texto pré-formatadas. O cenário inicial é de crise: os dois amigos, ambos videobloggers, acabam de ficar sem sítio onde viver. O amigo que partilhava o apartamento com eles não conseguiu pagar a parte que lhe cabia e acabaram todos despejados. Agora, além de terem de encontrar uma nova morada, Alex e Jess têm apenas três dias para filmar e editar um vídeo para um importante concurso. O videoclip, em si mesmo, já parece uma tarefa demasiado estranha e complexa, pois tem de incluir um telefone vintage, uma prancha de skate e um fato de coelho… Mas eles não estão dispostos a desistir, pois, se ganharem o concurso, a carreira deles pode catapultar-se para outro nível.

Fundos de emergência, seguros, investimentos… ufa!

Para navegar neste mundo de afazeres adultos, terão a preciosa ajuda do assistente de IA. O simpático robô encontra-lhes logo um agente imobiliário, mas basta uma chamada telefónica para os jovens concluírem que não têm condições para comprar uma casa. Enfim, resta-lhes pedir ajuda ao pai de Alex, à irmã de Jess, mas, em ambas as hipóteses, terão de ser sempre eles a assumir as rédeas das suas vidas. Quando a irmã de Jess aceita alugar aos jovens a sua casa de hóspedes, evidencia-lhes logo a importância de fazerem um seguro e de pagarem a renda a horas. Esta necessidade de assumir responsabilidades, aliás, será uma das principais mensagens do jogo.

Payoff consiste num percurso de crescente autonomia. O desenvolvimento da narrativa vai sendo mostrado por mensagens de texto, emails, chamadas telefónicas e pequenos vídeos. Muitos são como pequenos guias. Logo no início, por exemplo, mostra-se como gerir os fluxos entre a conta corrente e a conta poupança. E, conforme a personagem escolhida, o pai ou a irmã continuarão a desempenhar o papel de grilo falante, explicando aos jovens algumas noções de literacia financeira. Vem deles a lição de que um fundo de emergência deve ter um valor equivalente a 3 a 6 meses do dinheiro gasto nas despesas habituais. Também há páginas com informações sobre poupanças, planos de reforma, prémios de seguros, etc. Um dos links propostos leva-nos até às “10 Melhores Dicas de Investimento”, nas quais se incluem “A emoção é o teu inimigo de investimento” ou o habitual “Não ponhas os ovos todos no mesmo cesto”.

The Payoff

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A rapidez com que se esvazia uma conta

Convém decorar estes conceitos, pois volta e meia surgem ataques dos hackers que se resolvem através de respostas acertadas. Se errarmos, lá se vão mais 20 dólares… O dinheiro, diga-se, está sempre a sair da conta, neste jogo concebido sob o princípio de pior-cenário-possível. Imaginem que prescindem de fazer o seguro quando se mudam para a casa da irmã de Jess. Ou que até fazem um seguro, mas de teor errado, ou com cláusulas pouco adequadas às vossas posses e necessidades. Pois esperem pelo assalto, em que vos roubam câmara de vídeo e computador portátil, para verem como ficaram irremediavelmente encrencados. O mesmo se passa com o aviso de ataque iminente por hackers; se não agirmos atempadamente, eles vão entrar na nossa conta e, depois, a fatura vai ser bem mais pesada do que o dinheiro que se poupou ao prescindir do antivírus.

Mesmo sem estes eventos extraordinários, é impressionante como o dinheiro se esvai nas coisas mais simples. Gastam-se dólares numa saída noturna imprevista, no táxi para ir ter com o jornalista que nos vai entrevistar, no pagamento do local das filmagens. Junte-se a renda da casa, o telemóvel novo para substituir o velho e disfuncional aparelho, as mensalidades dos serviços de música, televisão e filmes, a conta da eletricidade… Com tanta fatura para pagar, The Payoff chega a ser sufocante. Certa vez, até nos cobraram uma taxa por termos ficado com a conta corrente a zeros, o que nos atirou ainda mais para números negativos.

The Payoff 2

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Um retrato sobre o nosso comportamento financeiro

No final, se tudo correr bem, o esforço compensará. Os jovens lá submetem o vídeo com alguém metido num fato de coelho e ganham o concurso. Após essa lufada de ar fresco, recebe-se um email que analisa de forma profunda os resultados alcançados, fruto das nossas decisões. Como nos comportámos na área do consumo? Comprámos o telemóvel mais caro ou o intermédio? «É importante perceber os nossos requisitos mínimos e quanto estamos dispostos a pagar acima disso para termos recursos e luxos adicionais», avisa-se. «Os vendedores costumam apelar ao orgulho e ao medo para nos levarem a gastar mais dinheiro». Esta avaliação das nossas escolhas, sempre com indicação de quais seriam as mais adequadas, estende-se aos Empréstimos («Não fizeste um empréstimo sobre um adiantamento do teu ordenado. Foi uma decisão inteligente»), aos Investimentos (onde se avaliam diferentes tipos de risco e rendimento e se relembra a importância de começar a preparar o mais cedo possível a altura da reforma), aos Seguros e até à importância de se escolher uma carreira que não corra o risco de ser substituída pela automação. Se tivermos dado passos certeiros, então teremos assegurado parte do nosso bem-estar futuro.

Aprendida a mecânica e os truques deste The Payoff, vale bem a pena repetir a experiência mais do que uma vez, afinando as nossas escolhas. É que, se melhorarmos o nosso desempenho no jogo, existe a hipótese de termos mesmo aprendido algo de útil para a nossa vida real.

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