Embora os depósitos bancários e os certificados de Aforro continuem claramente no topo das preferências dos portugueses para aplicarem as suas poupanças, o primeiro semestre de 2025 fica marcado por um reforço da aposta nos fundos de investimento. Apesar desta evolução benigna, estes produtos financeiros continuam com um peso pouco substancial no total das poupanças e, dentro do universo dos fundos, os portugueses estão a apostar sobretudo nas alternativas de baixo risco.

As subscrições líquidas (entradas menos saídas) de fundos de investimento mobiliário atingiram 1.768 milhões de euros no primeiro semestre, um volume substancial que foi particularmente forte em junho (442 milhões de euros) e dá seguimento à tendência dos últimos meses (saldos positivos todos os meses desde fevereiro de 2024). Tendo em conta os últimos 12 meses, as entradas nos fundos atingiram 2.690 milhões de euros.

Apesar de ser notória uma aposta mais firme nos fundos, a análise às categorias que estão a beneficiar com subscrições mais elevadas mostra que os portugueses continuam bastante conservadores na aplicação das poupanças. Os fundos de curto prazo euro (486 milhões), obrigações euro (427 milhões de euros) e mercado monetário euro (426 milhões de euros) angariaram a grande fatia do total. São opções de risco muito baixo e que representam alternativas aos depósitos e produtos de poupança do Estado.

Os 201 fundos de investimento mobiliário que existiam no mercado português em junho geriam um total de 22.242 milhões de euros no final do primeiro semestre, o nível mais elevado desde 2007 e que representa um aumento de 8,9% face ao final de 2024 e 15,8% contra junho do ano passado.

Os fundos de obrigações geriam 4.821 milhões de euros, o que representa 22% do total, acima dos 19% de há um ano. O peso dos fundos do mercado monetário saltou três pontos para 8%. Em sentido inverso, o peso dos fundos de ações (3.713 milhões de euros) baixou dois pontos percentuais para 17% e o dos fundos de poupança reforma desceu para 21% (22% em junho de 2024).

Leia ainda: Fundos de investimento brilharam em 2024. Conheça os melhores

A narrativa de que o aforrador português é muito conservador fica confirmada pela evolução das opções de risco baixo (ou nulo). Os montantes aplicados em depósitos bancários saltaram mais de 9 mil milhões de euros (4,9%) desde junho do ano passado, atingindo recordes mês após mês e aproximando-se a passos largos da fasquia dos 200 mil milhões de euros.

Os montantes aplicados em certificados de Aforro aumentaram quase 4 mil milhões de euros (11,4%) em 12 meses, atingindo um total (37.817 milhões de euros) que fica próximo dos valores geridos em conjunto pelos fundos de investimento mobiliário (22.242 milhões de euros) e fundos de investimento imobiliário (17.309 milhões de euros). E já supera o valor das carteiras na gestão individual de ativos (35.620 milhões de euros).

Leia ainda: Onde investir o seu dinheiro: Certificados de Aforro ou há alternativas mais rentáveis?

Fundos de baixo risco batem depósitos

A aposta nos fundos de investimento de baixo risco acabou por revelar-se uma estratégia acertada tendo em conta a comparação com os retornos das aplicações de risco similar. As rendibilidades efetivas dos primeiros sete meses do ano estão próximas dos 2%, em linha com o retorno anual (bruto) dos depósitos bancários.

Ainda assim, os retornos são muito magros e, descontando a inflação, serão mesmo nulos ou arriscam rendibilidades negativas. Acresce que, no horizonte temporal a cinco anos, os fundos de investimento de risco reduzido apresentam uma rendibilidade anualizada em torno de 1%, o que compara muito desfavoravelmente com outras categorias de risco mais elevado.

Ações nacionais brilham

Depois dos fundos de baixo risco, os fundos PPR foram os que receberam o maior volume de subscrições no primeiro semestre. Angariaram 229,6 milhões de euros nos primeiros seis meses de 2025, elevando os volumes geridos por esta categoria para 4.660 milhões de euros, o que reforça a liderança no universo dos fundos de investimento mobiliário.

Contudo, ao nível dos retornos o desempenho não é nada favorável. Os fundos PPR, opção de eleição para muitos aforradores, registam uma rendibilidade efetiva média de 1,6% entre janeiro e julho de 2025, o que está em linha com o retorno dos fundos de risco bem mais reduzidos. Nos últimos cinco anos os resultados também deixam a desejar, com uma rendibilidade anualizada de 2,5%.

Nos desempenhos em 2025, os fundos de ações destacam-se claramente pela positiva. Os fundos de ações nacionais geraram um retorno de 23,8% entre janeiro e julho, conseguindo um desempenho superior ao registado pelo índice português PSI (+20% no mesmo período). Apesar do retorno muito atrativo, os fundos que apostam em ações portuguesas acumulam subscrições líquidas inferiores a 45 milhões de euros em 2025, com ativos sob gestão ainda abaixo de 500 milhões de euros.    

Os fundos de ações ibéricas (18,8%) e ações setoriais (13,9%) também apresentam resultados muito interessantes, enquanto os fundos de ações europeias estão à porta dos dois dígitos e os fundos de ações da América do Norte estão surpreendentemente em terreno negativo (o índice norte-americano S&P500 valoriza 7% nos primeiros sete meses do ano).

Ações europeias batem norte-americanas

A análise ao desempenho dos fundos deve incidir sobretudo nos prazos acima de três anos, em especial nas opções de risco mais elevado. Os retornos das diversas categorias confirmam que as ações são o ativo de eleição nas estratégias de longo prazo, com várias categorias que apostam nestes ativos a apresentarem rendibilidades anualizadas de dois dígitos.

Destaque novamente para os fundos de ações nacionais, que apresentam um retorno anual de 16,7% nos últimos cinco anos, um desempenho que contrasta com a narrativa de que as ações portuguesas não merecem estar no radar dos investidores. Os retornos gerados na década passada, na sequência do pedido de assistência internacional em 2011, foram de facto dececionantes, mas as ações portuguesas geraram um desempenho muito favorável desde os mínimos fixados no início da pandemia em 2020. Desde então, o índice português PSI duplicou de valor.

Os fundos de ações ibéricas, europeias, globais e setoriais também ficam bem na fotografia, com rendibilidades anualizadas médias acima de 10% nos últimos cinco anos. Salta à vista o facto de superarem o desempenho dos fundos de ações da América do Norte (9,9%), desafiando a tendência de domínio da bolsa norte-americana nos últimos anos.

2025 está a ser marcado por um desempenho muito favorável das ações europeias, com os investidores a reduzirem a exposição aos ativos norte-americanos devido à incerteza com a política implementada por Donald Trump. Contudo, as ações norte-americanas geraram retornos muito superiores às ações europeias em 2023 e 2024, pelo que não deixa de surpreender que a performance superior nos primeiros sete meses deste ano seja suficiente para que o saldo a cinco anos já seja favorável às ações europeias.

Leia ainda: Cinco questões para as bolsas continuarem a brilhar em 2025

A informação que consta no artigo não é vinculativa e não invalida a leitura integral de documentos que suportem a matéria em causa.

Autores ConvidadosInvestimentos