Mulher segura em várias notas de euro

Os portugueses investem pouco, têm uma forte aversão ao risco, assumem-se conservadores ou moderados e preferem a segurança dos produtos com capital garantido na hora de aplicar o seu dinheiro. A conclusão é do 2º Barómetro Doutor Finanças, numa edição dedicada aos Hábitos de Investimento, que traça um retrato detalhado dos comportamentos, perfis e motivações dos investidores portugueses, bem como das barreiras sentidas por quem não investe. Realizado pela Universidade Católica-Lisbon, em parceria com o Doutor Finanças, o estudo baseia-se numa amostra representativa da população adulta residente em Portugal, ponderada por sexo, idade, escolaridade e região.

6 em cada 10 portugueses não investem

O estudo demonstra que a população portuguesa tem uma baixa propensão para investir: a maioria dos inquiridos (61%) não aplica o seu dinheiro em produtos de investimento, apontando como principais motivos a falta de poupança (37%), a preferência por poupar sem investir (27%) e a falta de conhecimento (10%). Entre os que gostariam de investir, a falta de dinheiro (33%) e de conhecimento (15%) são os principais obstáculos.

Assim, apenas uma minoria (39%) assume-se como investidora ativa, uma distribuição que “pode sugerir ou falta de capacidade de investimento, uma considerável aversão ao risco ou um desconhecimento dos mercados financeiros entre a maioria dos portugueses inquiridos”, como se lê no relatório.

As mulheres e os maiores de 65 anos são os que tendem a investir menos, assim como os agregados familiares com rendimentos mais baixos.

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Produtos tradicionais e de baixo risco no topo das preferências

Os resultados do barómetro mostram que o investidor português típico tem um perfil conservador ou moderado: opta por produtos com baixa rendibilidade, mas também menor risco, e aplica uma percentagem baixa do seu rendimento a esses investimentos. Quase metade dos inquiridos (47%) investe até 10% do rendimento, e apenas 1 em cada 5 diz investir mais de 20%.

Quanto aos produtos em que já investiram, 49% aponta os depósitos a prazo, 38% os Planos Poupança Reforma (38%) e 35% os certificados de aforro ou do Tesouro.

O ouro/prata (39%), as ações (29%) e os fundos de investimento (22%) também surgem como opções populares, enquanto os ETF (14%) e criptomoedas (10%) têm pouca expressão, denunciando pouca abertura dos portugueses a ativos de maior risco. Isto porque a tolerância às perdas é muito reduzida: quase metade (48%) dos inquiridos admite não ter nenhuma tolerância, escolhendo, por isso, apenas produtos de capital garantido. E mesmo para quem assume risco, a tolerância é baixa: 15% só suporta perdas até 5%, e 13% aceita entre 6% e 10%. Apenas uma minoria (3%) tolera quedas entre 21 e 30%.

As tendências e comportamentos identificados estão alinhados com a auto-avaliação relativamente ao perfil de investimento, com 49% a assumir-se conservador, 41% a considerar-se moderado e apenas 6% a reconhecer um perfil agressivo na hora de investir.

Maioria diz ter conhecimento intermédio, mas um quarto não sabe o que é diversificação

Mais de três quartos dos inquiridos no barómetro dizem conhecer ou conhecer bem os produtos em que investem, enquanto 14% admite investir com base em recomendações de profissionais, amigos ou familiares.

No geral, a maioria dos participantes (66%) considera que o seu conhecimento sobre finanças pessoais se situa no nível 3 e 4 (numa escala de 1 a 5), mas um quarto desconhece o conceito de diversificação, um pilar fundamental de qualquer estratégia de investimento.

“A percentagem que desconhece totalmente o conceito (25%) sugere uma necessidade premente de educação financeira básica. Esta situação pode levar a carteiras excessivamente concentradas, aumentando a vulnerabilidade dos investidores a flutuações do mercado”, lê-se no relatório.

Ainda que 71% diga saber o que é, apenas uma fração aplica ativamente este princípio na sua carteira (40%).

Banca tradicional é a mais procurada para investir

O barómetro revela também que os bancos são a principal fonte de informação (52%), seguidos de sites especializados (31%) e amigos/família (21%). O recurso a consultores financeiros (14%) e influencers digitais (10%) é ainda residual.

“A forma como os inquiridos investem está diretamente alinhada com as suas fontes de informação preferenciais. A predominância da banca tradicional (50%) como canal principal reforça a confiança em intermediários tradicionais e especializados, tal como se verificava na preferência por bancos para obter informação”, refere o estudo.

O uso de aplicações (20%) e plataformas (17%) já reflete uma tendência digital, mas ainda pouco expressiva em comparação com os canais tradicionais. Da mesma forma, o investimento através de banca de investimento (8%) mantém-se residual, confirmando que a maioria prefere canais institucionais comerciais e formais.

Disciplinados e pacientes, portugueses investem para o futuro

Mais de 4 em cada 10 portugueses (45%) que investem referem que o seu principal objetivo é ter ganhos para o futuro, como por exemplo a reforma, “o que está perfeitamente alinhado com o perfil conservador dos investidores e reforça a abordagem cautelosa e a paciência financeira”, aponta o barómetro, acrescentando que estas características são reforçadas por 23% dos investidores que referem o objetivo de preservar o capital.

Os objetivos de curto prazo e fins específicos são a prioridade para apenas 14% e 11% dos inquiridos, respetivamente, confirmando a primazia da segurança e preservação do capital sobre a procura de ganhos mais rápidos ou especulativos.

Quanto à frequência dos investimentos, a maioria dos investidores reforça as suas aplicações mensalmente (36%) ou ocasionalmente (24%), demonstrando hábitos disciplinados, mas não excessivamente ativos. Já a consulta do desempenho dos investimentos é pouco frequente: 39% verifica as aplicações ocasionalmente e 25% mensalmente.

Por fim, a adoção de critérios ESG (Ambientais, Sociais e de Governação) é ainda minoritária: 65% não considera estes fatores nas decisões de investimento e, mesmo entre quem os considera, a exposição é geralmente inferior a 50% da carteira.

Conheça as principais conclusões do barómetro aqui.

Ficha técnica: Este inquérito foi realizado pelo Centro de Estudos Aplicados (CEA) da Católica-Lisbon em colaboração com o Doutor Finanças, entre os dias 31 de julho e 28 de agosto de 2025. O universo-alvo é composto por indivíduos com 18 ou mais anos residentes em Portugal. Os inquiridos foram selecionados aleatoriamente a partir de uma lista de números de telemóvel, também ela gerada de forma aleatória. A margem de erro máximo associado a uma amostra aleatória de 701 inquiridos é de 4%, com um nível de confiança de 95%.

A informação que consta no artigo não é vinculativa e não invalida a leitura integral de documentos que suportem a matéria em causa.

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