No dia 10 de outubro, celebra-se o Dia Mundial da Saúde Mental. Mais do que uma data simbólica, é um convite à reflexão sobre o papel das organizações na promoção do bem-estar emocional das suas pessoas e, por consequência direta, sobre o papel da liderança.

A segurança psicológica, esse espaço invisível onde cada pessoa sente que pode ser autêntica, expressar dúvidas, admitir erros ou propor ideias sem medo de julgamento, é hoje reconhecida como um dos principais fatores de proteção da saúde mental no trabalho. Mas não surge por acaso. Constrói-se (ou destrói-se) todos os dias, através das atitudes, das palavras e da presença dos líderes.

É aqui que a liderança servidora faz toda a diferença. Esta forma de liderar coloca o líder ao serviço da equipa, e não acima dela. Um líder servidor escuta antes de falar, apoia antes de exigir e reconhece que o seu papel é criar as condições para que cada pessoa floresça.

Num mundo onde o burnout deixou de ser exceção para se tornar uma preocupação transversal, os líderes têm de ser mais do que gestores de tarefas, têm de ser guardiões da saúde emocional das suas equipas.

E os números falam por si: Portugal é o país da União Europeia com maior risco de burnout, segundo um estudo que cruza indicadores como horas de trabalho, salário médio e índice de felicidade. Além disso, 80% dos trabalhadores portugueses apresentam pelo menos um sintoma de burnout, e 63% têm três sintomas simultâneos, de acordo com o Laboratório Português dos Ambientes de Trabalho Saudáveis (2023). Os setores mais afetados incluem saúde, educação, administração pública, transportes e comércio.

Quando olhamos para os Millennials, a urgência torna-se ainda mais evidente: 14% já sofreram burnout, 82% estão em risco, e mais de metade já faltou ao trabalho por exaustão emocional. Estes dados são mais do que estatísticas, são sinais de alerta sobre o impacto humano das culturas organizacionais que ainda normalizam a sobrecarga e o desequilíbrio.

Criar segurança psicológica exige coragem. Exige líderes dispostos a ter conversas difíceis, a mostrar vulnerabilidade e a promover uma cultura de confiança. Iniciativas como apoio psicológico gratuito, espaços de escuta e momentos de partilha são importantes, mas só têm impacto real quando os líderes as vivem, e não apenas as comunicam.

É preciso que os líderes sejam os primeiros a falar sobre saúde mental, a pedir ajuda quando necessário, e a valorizar o equilíbrio emocional como parte do desempenho.

O impacto é real e mensurável. A segurança psicológica não é apenas uma questão de bem-estar: é uma alavanca de inovação, colaboração e produtividade. Equipas que se sentem seguras são mais criativas, mais resilientes e mais eficazes na resolução de problemas.

E é aqui que a liderança servidora revela todo o seu potencial. Quando o bem-estar da equipa está no centro das decisões, criam-se espaços onde as pessoas se sentem valorizadas, ouvidas e protegidas. Esta abordagem não só reduz o risco de burnout, como potencia o desempenho sustentável.

Na prática, líderes formados em primeiros socorros psicológicos e comprometidos com uma liderança servidora intervêm com mais empatia em momentos de crise, acolhem vulnerabilidades sem julgamento e transformam a pressão em confiança.

São estes líderes que, mesmo em contextos exigentes, mantêm viva a saúde emocional das suas equipas e com ela, a capacidade de inovar, aprender e prosperar.

A informação que consta no artigo não é vinculativa e não invalida a leitura integral de documentos que suportem a matéria em causa.

Autores ConvidadosEmpresasLiderança