Quando um colaborador-chave sai: O que não dizem os manuais

Há muitas lições a tirar desta história. Sobre offboarding e onboarding. Sobre profissionalismo, mas também sobre humanidade.

"Olá, pessoa incrível que se vai aventurar nesta responsabilidade que é tomar conta do UX da Inovação". Foi assim que a Mariana iniciou a carta dirigida à sua sucessora. Acontece que a Mariana estava de saída do Doutor Finanças...

Dois meses antes, a Mariana comunicou-me que tinha aceitado um novo desafio profissional numa multinacional. Depois de três anos connosco, e no auge dos seus 23 anos, estava na altura de voar e conhecer mais mundo. Fiquei honestamente feliz por ela, mas preocupado por nós. A posição de Head of UX ia ficar em aberto, numa equipa que era muito embrionária.

E agora? Coloco-a a fechar projetos? A tentar "despachar fruta" o mais rapidamente possível? Estes foram os meus primeiros pensamentos. Se me focasse nos temas urgentes, tentando minimizar os danos, o principal problema continuaria por resolver: encontrar a substituta da Mariana e fazer o seu onboard.

Nesta altura, pensei: e se a Mariana estivesse focada em preparar o terreno para a sua sucessora? Documentar processos, organizar pontas soltas, no fundo, facilitar a sua entrada. E se, no meio de todo este processo, ainda a desafiasse a fazer uma carta à sua sucessora? E foi isso mesmo que fiz.

"Se estás a ler isto, deves ser uma pessoa muito fixe. O meu nome é Mariana e fui Head of UX no Doutor Finanças até meados de Dezembro de 2021. Estou aqui hoje para te ajudar neste teu período de transição".

Assim continuava a carta da Mariana. E ela tinha razão, a Patrícia, a sua sucessora, é realmente "uma pessoa muito fixe" (aliás, "muito fixe" é um eufemismo). Quando a Patrícia entrou no Doutor Finanças, esperava-a uma surpresa. Uma carta redigida pela pessoa que tinha ocupado a sua posição na organização onde ela acabava de entrar. Uma carta empática e humana, com tudo o que a Patrícia precisava para começar a trabalhar.

"Onde está o quê?", assim se chamava o capítulo seguinte da carta. A Mariana compilou os principais recursos e respetivos links que a Patrícia iria precisar para começar a sua função. Contudo, não se ficou por aí. Explicou cada um dos projetos que a Patrícia iria encontrar, com respetiva missão e desafios. Descreveu ainda como era trabalhar com as outras áreas e o quão importante era, na missão de UX, fomentar a relação com outros departamentos:

"Conto contigo para manteres e aumentares o contacto com os outros departamentos. [...]. É importante que apareças, que te vás sentar ao pé dos especialistas e os vejas a trabalhar, que te infiltres numa ou outra reunião das equipas comerciais. A chave do funcionamento da equipa de UX é a empatia e a empatia cultiva-se, cresce-se e estima-se".

Mariana (porque sei que vais ler este artigo), quero assegurar-te que foi exatamente isso que a Patrícia fez. Continuou e evoluiu tudo o que começaste. Entretanto, a Patrícia foi-nos ajudando a crescer e cresceu connosco. Ascendeu a Product Owner, e posteriormente a Subdiretora. Recentemente perguntei-lhe se se recordava da experiência de entrar numa organização e ser brindada com uma carta da pessoa que tinha saído. Disse que nunca tinha visto nada assim, que a ajudou a acelerar ao processo de onboarding e a "sentir-se rapidamente em casa".

Foi como uma visita guiada, mas feita por alguém que já cá não estava e que saiu deixando um sorriso para a pessoa que se seguiu.

Há muitas lições a tirar desta história. Sobre offboarding e onboarding. Sobre profissionalismo, mas também sobre humanidade. Não vou falar sobre elas (estão nas entrelinhas). Vou apenas despedir-me da forma como a Mariana se despediu:

"Está nas tuas mãos manter e fazer crescer este legado, para que possa também ser o teu bebé :). Não te assustes, porque tens ao teu lado uma equipa incrível e ansiosa por fazer o Doutor Finanças crescer (e, no processo, crescer também). Beijinhos e bom trabalho!".

Tecnológico de formação (Engenheiro de Telecomunicações e Informática pelo ISCTE), começou a empreender aos 18 anos. Criou várias empresas tecnológicas (onde errou muitas vezes) até se apaixonar pela criação de produtos e startups como o Airgile (onde errou), ou o premiado Boonzi (onde errou um bocadinho menos). Além da tecnologia, tem várias paixões como marketing, UX, liderança, cultura e estratégia empresarial. Andou pelo mundo da formação porque gosta de ensinar quase tanto como adora aprender. É um dos fundadores do Doutor Finanças, onde atualmente é CTO. Promete continuar a errar.

A informação que consta no artigo não é vinculativa e não invalida a leitura integral de documentos que suportem a matéria em causa.

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