Dá mesmo valor ao seu dinheiro?

Vai descobrir que anda a trabalhar para pagar a outros e que não sobra nada para si, ou que sobra muito menos do que deveria sobrar.

Todos falam em poupar e na importância da poupança. Duvido que não concorde que é importante poupar. É senso comum e bom senso. O problema é quando tentamos levar o conceito teórico à prática. A primeira pergunta mata logo a questão: com que dinheiro?

Pois. Com exceção das pessoas que ganham tanto que não sabem o que fazer ao dinheiro, a maior parte de nós chega ao fim do mês com o dinheiro contado, ou pelo menos bem distribuído e pouco sobra para a “célebre” poupança.

Ainda recentemente, em conversa com uma colega de trabalho, soube de casos de profissionais da saúde que são contratados por hospitais e que - por necessidade do SNS - são pagos a peso de ouro. Recebem centenas de euros por dia, quando não ultrapassa os mil euros. É certo que trabalham muito e que merecem ser pagos pelo seu trabalho, mas se eu ou você ganhasse 600 ou 800 euros por dia muito provavelmente não estaria a escrever esta crónica, nem você a lê-la. Se ganhasse 10 ou 15 mil euros por mês não estaria preocupado com baixar a conta de eletricidade, nem com a renegociação do seguro do carro. Alguém que se preocupasse com isso. 

Mais tarde falaremos destes casos. Estes médicos são só um exemplo, OK? Há dezenas de profissões igualmente bem pagas, como pilotos, artistas, empresários, etc. Alguns deles são pessoas que ganham muito bem, mas que são um desastre a cuidar das suas finanças pessoais. Acredite que há milhares de pessoas a ganhar rios de dinheiro e que vivem pior do que você e eu.

Como começar a poupar?

Voltando ao que nos interessa, ao longo das próximas crónicas (que serão quinzenais) tentarei partilhar consigo tudo o que aprendi ao longo dos últimos 10 anos durante os quais, como jornalista, tenho investigado como podemos ter mais dinheiro na nossa carteira, com dicas muito simples e práticas e que FUNCIONAM. Testo-as todas. Não são teoria. No meu caso, aprendi à minha custa que não podia viver salário a salário, “chapa ganha, chapa gasta”. 

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Só percebi que não sabia para onde ia o meu dinheiro quando, na crise de 2008, descobri que - com a subida da prestação da casa - só tinha dinheiro para pagar mais duas mensalidades do crédito à habitação. Fui ao banco, pedi ajuda e a carência de capital (mais ou menos o equivalente às moratórias atuais dos bancos) durante 2 anos permitiu-me respirar.

Foi com esse “bater com a cabeça na parede” que percebi que tinha de pôr as minhas contas em ordem. Hoje posso dizer que consegui. E é parte desse caminho que quero partilhar consigo.

Assim, o primeiro tema destas crónicas tem a ver com essa tomada de consciência: quanto vale para si o seu dinheiro?

O seu dinheiro (e o da sua família) merece que se sente a uma mesa e que passe a perder algum tempo para pensar nele e na forma como o está a gerir? Faço-lhe esta pergunta porque se não tiver essa atitude, não adianta estar a perder tempo a ler conselhos sobre poupança. Imagine que vai todas as semanas a um nutricionista, que lhe explica como uma dieta o pode pôr saudável e elegante e você diz que sim, mas não faz rigorosamente nada. Útil? Não. Seria um desperdício de tempo. Não é isso que espero de si.

Portanto, se quiser mudar alguma coisa na sua vida (financeira) vai ter de agir. O primeiro passo é sentar-se a uma mesa ou à secretária e, numa folha de papel, fazer uma lista de todas, mas mesmo todas, as suas despesas correntes e anuais. A forma mais simples de fazer isso é ir ao seu homebanking ou ao seu extrato bancário e ver linha a linha todos os seus gastos. Anote-os. Veja quais são recorrentes, os débitos diretos e quanto dinheiro levanta no multibanco todas as semanas ou todos os meses. A seguir reveja ao cêntimo em que é que gastou o dinheiro que levantou no multibanco. É aí que vai descobrir muitas surpresas: os pequenos-almoços, lanches, almoços, revistas, jornais, raspadinhas, Euromilhões, parquímetros, arrumadores, gorjetas, bijuterias e gadgets, etc. 

Depois passe às despesas anuais. Com o recurso aos extratos bancários veja quanto pagou de seguros do carro ou carros, de seguros de vida, de IMI e escreva em que meses é que tem de pagar essas despesas obrigatórias.

No final deste exercício vai descobrir (qual detetive) a quem é que tem entregado o seu salário todos os meses. Vai descobrir que anda a trabalhar para pagar a outros e que não sobra nada para si, ou que sobra muito menos do que deveria sobrar. Na prática, o seu salário não é seu. Assim que o recebe, entrega-o de mão beijada e sem refilar (muito), a dezenas de outras pessoas. E baixar o salário dessa gente (pago com o seu) é possível.

O segredo é fazer essa análise caso a caso. E baixar todas as suas despesas uma a uma. Vou ajudá-lo nesse percurso. Mas nesta primeira crónica, o meu objetivo é simplesmente que acorde para esta realidade: tem de ser você a mandar no seu dinheiro!

Vamos tomar as rédeas da sua vida financeira. E note que isto não tem nada a ver com o dinheiro que ganha. Tanto pode ganhar 500 como 5 mil euros. Para as nossas conversas isso é irrelevante. Cada um de nós pode melhorar a sua situação atual. Uns conseguirão melhorar muito, outros melhorar apenas um pouco. Mas é sempre possível melhorar.

Afinal de contas, estamos a falar do presente e do nosso futuro e no futuro da nossa família. Vamos a isso?

Pedro Andersson nasceu em 1973 e apaixonou-se pelo jornalismo ainda adolescente, na Rádio Clube da Covilhã. Licenciou-se em Comunicação Social, na Universidade da Beira Interior, e começou a carreira profissional na TSF. Em 2000, foi convidado para ser um dos jornalistas fundadores da SIC Notícias. Atualmente, continua na SIC, como jornalista coordenador, e é responsável desde 2011 pela rubrica "Contas-Poupança", dedicada às finanças pessoais. Tenta levar a realidade do dia a dia para as reportagens que realiza.

A informação que consta no artigo não é vinculativa e não invalida a leitura integral de documentos que suportem a matéria em causa.

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