Nas férias, dê descanso ao seu dinheiro

Vai dar férias ao seu dinheiro, neste período de descanso? Perceba até que ponto as "contas mentais" ditam as suas escolhas.

Com tudo, ou quase tudo, planeado, a maioria das famílias portuguesas continua a gozar as suas férias durante o mês de agosto. Fizeram-se contas e mais contas ao longo do ano e, no caso das famílias mais previdentes fizeram-se poupanças com este fim. Agora, os dias que se seguem são, desejavelmente, de desafogo mental e físico. Mas também financeiro. 

No caso das famílias com filhos, a ginástica dos últimos dias vai muito além das malas que teimam sempre em levar, mais qualquer coisa que vai fazer muita falta. Isto porque as despesas que se seguem, à partida, já estão todas contempladas nos orçamentos prévios que foram feitos. 

Mas, será que estes orçamentos foram mesmo feitos? O valor estipulado para as despesas vai ser, efetivamente, respeitado? Lembre-se que o ambiente descontraído das férias aumenta a dificuldade em resistir às compras por impulso. “Estamos de férias”, “É uma vez por ano”, “Também nos podemos mimar”… 

Sabendo nós que a emoção tem um grande papel nas nossas decisões, sempre que possível, faça o seguinte exercício: perceba se a sua decisão é mais cabeça ou coração.  

Desembocamos, portanto, na vital importância de perceber o quão as finanças pessoais são, sobretudo, uma questão comportamental.  

Leia ainda: Concentre-se no comportamento, não no resultado 

O que pode explicar o mental accounting

A gestão das finanças pessoais persiste em ser entendida como uma verdadeira “dor de cabeça”. Para a maioria das pessoas, este assunto remete para a matemática e finanças, que sabemos ser um desafio para muitos de nós; bem como para a necessidade de fazer todo o tipo de sacrifícios se queremos chegar ao final do mês com a cabeça acima da linha de água. 

O modelo de comportamento do consumidor (mental accounting), introduzido pelo economista Richard Thaler (Prémio Nobel da Economia em 2017), descreve o processo pelo qual as pessoas codificam e categorizam o seu dinheiro em “contas mentais”, de acordo por exemplo com a sua origem ou propósito, em vez de o considerarem como uma reserva única. Muitas vezes, esta forma de organização pode resultar em comportamentos de consumo que não são os mais racionais e eficientes. 

Imagine que, para as suas férias, alocou, na sua “conta mental” um orçamento de 500 euros. A 2 dias de concluir o seu período de descanso, percebe que ainda não utilizou 200 euros do montante definido inicialmente. Como definiu o montante no princípio, o mental accounting, funciona praticamente como uma autorização para usar esse dinheiro, simplesmente porque definiu que o podia usar

Da mesma forma, imagine que quando está a preparar as suas férias, é proposto um pacote com um elevado desconto, mas precisa de pagar antecipadamente. Se nas suas “contas mentais” ainda não tiver esse montante na “conta das férias”, mesmo que, por exemplo, tenha na conta “carro novo”, vai pensar duas vezes antes de utilizar esse montante, quando na realidade, o dinheiro é todo seu. Com isso, pode desperdiçar uma boa oportunidade financeira.

Leia ainda: Já ouviu falar de Património Geracional?

Decisões financeiras saudáveis  

Se por um lado é possível oferecer resistência à falsa leveza do mental accounting, reforçando a organização das suas finanças pessoais através do planeamento e de um orçamento detalhado, é fundamental lidar com o dinheiro da forma mais racional possível

Assim, se parte para férias com as contas feitas, e sabe bem até onde pode ir, podemos dizer que metade do caminho está feito. E bem feito. No restante, importa, sobretudo, impedir que a descontração inerente às férias transforme o dinheiro em matéria não palpável. Esta dita transformação acontece, muitas vezes, na gestão dos cartões de crédito. O plafond disponível e a possibilidade de pagar mais tarde, em diferentes percentagens, confere um "perigoso" facilitismo à tomada de decisão.  

Diria mesmo que quem tiver mais dificuldades neste processo deve ponderar levar o seu dinheiro num envelope. Questões de segurança à parte, à medida que for retirando dinheiro de um envelope bem "recheado" e se se aperceber do quão vai ficando vazio, será bem mais difícil ter leituras subjetivas. Pelo contrário, vai ser forçado a repensar os gastos e a gestão que está a fazer. 

No final, não se martirize. Se colocar a fasquia muito alta, pode desmoralizar e transformar as férias num ringue onde luta diariamente com as decisões. Tente ser razoável, uma boa decisão por dia, são 15 boas decisões ao longo das férias.  

Com sorte, essas 15 decisões podem resultar em gastos inferiores ao previsto. A recompensa pode passar por investir num PPR, num fim de semana prolongado, ou até, servir para as férias do próximo ano. Se marcar com mais antecedência, de certeza que consegue melhores condições. 

Boas férias!

Leia ainda: Quer uma reforma tranquila? Comece já a prepará-la 

Sérgio Cardoso nasceu em Matosinhos, em 1979. Licenciado em Gestão pela Faculdade de Economia do Porto, frequentou The Lisbon MBA, que concluiu em UCLA. Fez grande parte da carreira profissional em media e entretenimento. Atualmente, é Chief Academic Officer no Doutor Finanças, sendo responsável pela Academia do especialista em finanças pessoais, dinamizando toda a área de formação. É ainda consultor, dedicando-se a ajudar empresas nas várias áreas da gestão, o que lhe permite acumular experiências que transmite aos alunos da licenciatura de Gestão, da UCP, onde é professor assistente.

A informação que consta no artigo não é vinculativa e não invalida a leitura integral de documentos que suportem a matéria em causa.

Partilhe este artigo
Tem dúvidas sobre o assunto deste artigo?

No Fórum Finanças Pessoais irá encontrar uma grande comunidade que discute temas ligados à Poupança e Investimentos.
Visite o fórum e coloque a sua questão. A sua pergunta pode ajudar outras pessoas.

Ir para o Fórum Finanças Pessoais
Deixe o seu comentário

Indique o seu nome

Insira um e-mail válido

Fique a par das novidades

Receba uma seleção de artigos que escolhemos para si.

Ative as notificações do browser para receber a seleção de artigos que escolhemos para si.

Ative as notificações do browser
Obrigado pela subscrição

Queremos ajudá-lo a gerir melhor a saúde da sua carteira.

Não fique de fora

Esta seleção de artigos vai ajudá-lo a gerir melhor a sua saúde financeira.