Encontrou a sua cara-metade e está a pensar sair de casa dos seus pais para iniciar uma vida a dois? Saiba que esta fase da vida pode ser desafiante. Afinal, além de conhecer melhor todos os hábitos da pessoa com quem vai morar, esta decisão implica que falem abertamente de dinheiro, da construção de um orçamento partilhado e dos objetivos individuais e de casal.
Através de um bom diálogo, certamente, é possível encontrar um equilíbrio e consenso sobre como gerir um orçamento a dois com sucesso.
A saída de casa dos pais e a criação/gestão de um orçamento partilhado
Antes de entrarmos nas dicas sobre como criar e gerir um orçamento partilhado, é importante ter noção que este depende muito dos objetivos que cada casal define com base nas suas crenças e objetivos financeiros.
Por exemplo, se vai morar com a sua cara-metade num apartamento que pertence à família, é provável que não tenha o mesmo nível de despesas de um casal que acabou de comprar a sua primeira casa ou vai viver numa casa alugada.
Neste cenário, existia a possibilidade de ter um orçamento familiar mais folgado. Ou seja, olhando para os rendimentos e para as despesas, sobraria mais dinheiro ao final de cada mês. E, neste ponto, o casal tem de pensar o que vai fazer a esse dinheiro. Idealmente, quando sobra uma quantia significativa todos os meses, devem ser traçadas metas de poupança e de investimento.
Já os casais que têm uma margem financeira mais pequena, precisam de otimizar ao máximo o seu orçamento. Aqui, é muito importante a forma como definem o orçamento partilhado, e como fazem o controlo regular do que está estabelecido.
Para perceber melhor como pode gerir um orçamento familiar, de seguida, conheça seis dicas para colocar em prática.
1 - Definam qual o valor máximo que podem pagar por uma renda ou prestação de crédito
Quando ambos os elementos saem de casa dos pais para morar juntos, têm duas opções: comprar casa ou arrendar uma habitação. Duas soluções que implicam custos distintos.
A compra de uma casa é um investimento elevado, embora esteja a investir no seu património. Além do montante que precisa para a "entrada" (valor não financiado pela instituição de crédito e pago, normalmente, na altura que celebra o CPCV, contrato promessa compra e venda), tem de pagar impostos (IMT, imposto do selo da aquisição e o imposto do selo do crédito habitação) comissões bancárias, custos notariais e escritura do imóvel. Ou seja, estamos perante um investimento inicial de milhares de euros, sem contar com as prestações mensais do crédito habitação.
Já numa casa alugada, não precisa de reunir uma poupança tão significativa. No entanto, vai estar condicionado nas obras que pode fazer e a pagar uma casa que nunca será sua. Contudo, em termos de custos, deve contar inicialmente com a possibilidade de ter de pagar o equivalente a três rendas, contando com a caução e o valor da última renda. No entanto, as condições variam muito de senhorio para senhorio.
Dito isto, é importante que analise estas duas possibilidades de acordo com as suas poupanças e veja quais são os custos que pode suportar mensalmente. Assim, para ter a certeza de qual é o peso de que a habitação vai ter no orçamento partilhado, calcule a taxa de esforço do agregado familiar. Esta taxa demonstra em percentagem o peso que os empréstimos têm nos seus rendimentos. Por norma, para conseguir a aprovação de um financiamento para comprar casa, esta taxa não pode ser superior a 30%, se este for o seu único empréstimo. Já se tiver mais créditos, a sua taxa de esforço não pode ultrapassar os 50%. Para o ajudar com estas contas, utilize o simulador da taxa de esforço.
Se tiver dúvidas se pode ou não comprar uma casa e suportar os encargos com esta aquisição, recorra à calculadora da prestação do crédito habitação.
Mesmo com a subida das taxas de juro, existem muitos casos em que uma prestação de crédito habitação continua a ser mais baixa do que a renda de uma casa alugada com as mesmas caraterísticas. Afinal, a oferta no mercado de arrendamento é reduzida, o que faz os preços dos alugueres manterem-se bastante elevados. E mesmo com os juros mais altos, num crédito habitação pode ter um prazo de contrato entre 30 a 35 anos, o que leva as prestações a serem mais acessíveis, embora no final do contrato pague um valor alto de juros.
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2 - Devem optar por uma conta bancária coletiva ou duas individuais?
Na verdade, esta é uma opção que depende muita da forma como o casal vai gerir o orçamento em conjunto. Muitos casais optam por criar uma conta bancária coletiva (conjunta, solidária ou mista). Se esta for composta pela totalidade dos rendimentos dos dois, pode facilitar o pagamento de contas sem atrasos e o controlo do orçamento familiar em tempo real.
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No entanto, esta não é a única solução que existe. E em alguns casos até pode não ser a opção mais adequada, se existirem objetivos financeiros individuais estipulados. Nestas circunstâncias, pode ser apropriado existirem duas contas pessoais e serem definidas as responsabilidades financeiras de cada elemento.
Além disso, ainda existe outra opção que pode ser colocada em cima da mesa. Por exemplo, pode ser criada uma conta conjunta para todas as despesas que dizem respeito ao casal e depois cada elemento ter a sua própria conta individual.
Ou seja, não existe nenhuma opção mais correta do que a outra. O que importa é que a gestão funcione da melhor forma e não crie atritos entre o casal. Contudo, ambos devem ter consciência que quantos mais contas bancárias possuírem, maiores serão os encargos com comissões bancárias, como é o caso da comissão de manutenção e anuidade. Assim, se decidirem ter duas ou mais contas bancárias, devem comparar as comissões aplicáveis nos vários bancos para encontrar as soluções mais vantajosas tendo em conta os objetivos.
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3 - Identifiquem os rendimentos e despesas para criarem um orçamento
Em primeiro lugar, é preciso identificar a totalidade dos rendimentos do casal. Isto engloba ordenados, rendimentos extra ou qualquer fonte de rendimento que exista.
Depois é preciso fazer um levantamento das despesas que vão ter mensalmente. E aqui é que podem surgir algumas dúvidas. Por isso, talvez seja melhor identificar os encargos fixos e essenciais.
Nestas duas categorias entram: o valor da renda ou da prestação de crédito habitação, prestações mensais de outros créditos (caso existam), as faturas mensais de telecomunicações (que por norma são fixas), os encargos com água, eletricidade e gás (gastos essenciais, mas variáveis), o valor que gasta mensalmente em alimentação, despesas de transporte (passe de transporte ou despesas relativas a veículos, como combustível, portagens, parquímetros, etc.), ginásio, medicações, entre outras.
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Não se esqueça ainda que existem encargos que podem não ser pagos mensalmente, mas que têm impacto no seu orçamento. Um exemplo simples são os seguros, que podem ser pagos mensalmente, trimestralmente, semestralmente ou anualmente. Contudo, existem outras despesas regulares que deve identificar. Caso tenha um carro, sabe que todos os anos precisa de fazer a revisão ao veículo e levá-lo à inspeção. Este é um custo que vai sempre existir, mas os valores podem variar.
Por fim, tenha em conta os gastos não essenciais, mas que acabam por ser uma despesa regular do casal. Aqui podem entrar gastos com lazer, subscrições de serviços, refeições fora, entre muitas outras despesas. Quando o orçamento está apertado ou não lhe permite alcançar as suas metas financeiras, é nestas despesas que deve cortar.
Após ter a noção de quanto dinheiro sobra ao fim do mês, consegue perceber se as finanças estão ou não saudáveis. Quando as finanças estão saudáveis, há uma margem para direcionar, pelo menos, 10% dos rendimentos, para poupanças. Mas sempre que seja possível, transfira este valor para uma conta à parte assim que os ordenados sejam pagos. Desta forma, garante que todos os meses consegue poupar esse valor.
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4 - Reflitam como vão ser partilhadas as despesas
Num orçamento partilhado, grande parte dos gastos diz respeito ao casal. No entanto, há também despesas individuais que podem ou não fazer parte desse orçamento. Por isso, é preciso conversar e chegar a um acordo sobre como vão ser partilhadas as despesas.
Vamos supor que opta por criar um orçamento familiar onde todos os rendimentos e despesas dizem respeito a ambos os elementos. Neste caso, a gestão é bastante simples, uma vez que os rendimentos dos dois vão cobrir a totalidade das despesas que existem, tanto as do casal como as despesas pessoais.
No entanto, a partilha das despesas não tem de seguir esta lógica. São muitos os casais que optam por fazer um levantamento de todas as despesas que dizem respeito a ambos (renda da casa, gastos mensais de serviços essenciais, alimentação e outros encargos definidos) e dividir estas despesas a meio.
Depois, cada um, fica responsável pelo pagamento das suas despesas individuais, que podem ser relativas a um automóvel, seguro de saúde, um crédito, uma formação ou outro tipo de encargos com um valor menos significativo.
5 - Quando existe um orçamento partilhado é preciso criar metas de poupança
Fora o pagamento das despesas mensais, um casal deve preocupar-se em criar metas de poupança a dois e individuais. Por exemplo, já foi referido que para ter uma situação financeira estável, deve estar contemplado no orçamento uma poupança mínima de 10% dos rendimentos.
Uma das metas principais de poupança é o casal ter um fundo de emergência. Um fundo de emergência serve para cobrir despesas imprevistas ou perdas de rendimentos. Por isso, os especialistas aconselham a ter um fundo de emergência que cubra todas as suas despesas essenciais entre seis e 12 meses.
Contudo, existem outras metas de poupança que um casal pode ter interesse em criar quando tem um orçamento partilhado. Por exemplo, uma poupança para comprar uma casa, para comprar um carro novo, casar, ir de férias, investir numa formação, em produtos financeiros a pensar na reforma, como PPR, entre outros objetivos. Independentemente das metas estipuladas, o mais importante é que defina quais são as prioritárias, o valor que vai alocar a cada uma destas e o prazo para alcançar o valor que pretende.
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6 - Pense antecipadamente em como otimizar o reembolso de IRS
Por fim, para quem começa uma vida a dois, receber um reembolso de IRS atrativo pode ser uma ótima forma de melhorar a vida financeira. Afinal, pode reforçar o fundo de emergência e até aumentar o rendimento disponível através da liquidação ou amortização de um crédito. Se estas não forem uma prioridade para já, o reembolso do IRS pode ajudar a mobilar a casa nova, a fazer pequenas obras ou até alcançar algumas das metas de poupança que exigem um menor esforço financeiro.
Agora, é normal que esteja a pensar como é que pode otimizar o orçamento partilhado para ter impacto no reembolso de IRS? Na verdade, a possibilidade que tem é ter uma atenção redobrada às deduções à coleta que constam no portal e-fatura.
Ou seja, existem sete categorias de deduções à coleta com valores máximos definidos que permitem aos contribuintes aumentarem o seu reembolso de IRS ou diminuírem o imposto a pagar ao Estado. Para isso, cada um dos elementos deve pedir sempre fatura com contribuinte e, depois, verificar no portal se todas estas despesas estão na categoria correta, se existem despesas pendentes ou despesas que precisam de ser inseridas manualmente por não se encontrarem no portal.
Ao ter este cuidado, consegue verificar se está perto de atingir os tetos máximos, se compensa antecipar compras, arranjos ou investimentos que precisa de fazer brevemente, podendo assim maximizar o valor do seu reembolso todos os anos.
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A informação que consta no artigo não é vinculativa e não invalida a leitura integral de documentos que suportem a matéria em causa.
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