As redes sociais, como as conhecemos, já não existem, e o futuro, afinal, chama-se televisão. Sim, a velha conhecida televisão.
Há uma frase que espelha bem a tendência: “Tudo aquilo que não é televisão, está a transformar-se em televisão.”
A frase é do Derek Thompson, jornalista norte-americano que nos apresenta uma estatística recente da Meta que refere que só 7% do tempo usado pelos utilizadores do Instagram é gasto em conteúdos de amigos ou familiares. O resto é gasto na visualização de vídeos de desconhecidos escolhidos pelo algoritmo.
Assim sendo, o Instagram já não é uma rede social de networking. É basicamente um streaming personalizado, muito similar a um programa de televisão.
Instagram, TikTok, Youtube, Facebook, entre outras…a base é sempre a mesma, uma televisão que rola com o scrolling de vídeos de pessoas e produtos que não conhecemos, e que, no limite, nem queremos conhecer. São fluxos infinitos.
O propósito das redes socias não era este. A ideia de conexão perdeu-se para ser substituída por injeções constantes de dopamina que criam dependência e levam, com naturalidade, à dependência.
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O “atractor”
Até a Inteligência Artificial quer ser uma televisão. Reparem os mais distraídos: a Meta lançou Vibes, a OpenAI lançou a Sora. Estamos a falar de feeds infinitos de vídeos gerados por IA que são autênticos mini-filmes sem autores. Por vezes cenas absurdas criadas por robôs, conteúdo que só serve para encher espaço e tempo do nosso dia a dia sem intervenção humana. Cada vez mais, é a máquina quem entretém.
Segundo Thompson, existe uma palavra que explica tudo isto: “atractor”. A matemática explica-a como um ponto onde um sistema se estende, como um berlinde que roda até não terminar no centro.
O conceito é o de que a “televisão” é o “atractor” de todas as redes socias, o fluxo – como alguns o chamam – e o que fica quando a cultura perde a capacidade de parar. O feed é hoje um novo rio sagrado de todos.
A única questão preocupante é que o fluxo não constrói nada, só consome.
A origem da palavra feed é nutriente. To feed quer dizer nutrir. Mas somos nós que nutrimos o feed, ou é o feed que nutre o nosso tempo, os nossos dados, a nossa atenção?
Robert Putman, cientista norte-americano, escreveu nos anos 90 que, entre 1965 e 1995, os americanos ganharam 6 horas de tempo livre por semana, mas entregaram-no à televisão. Em vez de criarem, aprenderem, disfrutarem ou conviverem, preferiram usar o tempo para visualizar.
A história parece repetir-se. Hoje, temos mais ligações do que nunca, e ao mesmo tempo nunca fomos tão sozinhos. Temos mais possibilidades de comunicar, mas menos capacidade de escutar. Temos mais ferramentas para criar, mas menos vontade de pensar.
Chama-se a este conceito, solidão interativa, onde estamos ligados com todos, mas sincronizados com quase ninguém.
A causa é a nova televisão. A sua lógica é relativamente simples: não explica, emociona; não argumenta, espanta; não pensa, reage.
E, claro, quando tudo é televisão, tudo é espetáculo: a política é teatro, a ciência é storytelling, a informação é desempenho.
Mais, quanto mais nos adaptamos, mais perdemos. Não só a inteligência crítica e criativa em si, mas o nosso interior, a capacidade de sentir dentro e não fora, a capacidade de parar e de nos aborrecermos, de termos um pensamento que não serve para nada.
Quando tudo se transforma em televisão, a verdadeira revolução é o espaço vazio, a lentidão.
Na minha opinião, não vai vencer aquele que produz mais vídeos, mas sim aquele que terá ainda a capacidade de criar espaços de criatividade, escuta e calma dentro do ruído. Não vai vencer aquele que está colado ao feed, mas quem conseguir estar novamente conectado consigo mesmo.
O mundo não está a ficar estúpido, está apenas a ficar televisivo, e aquele que neste “novo” mundo vai conseguir ainda pensar, provavelmente vai ficar invisível ao algoritmo, mas indispensável para a realidade.
De que lado vai estar?
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