Investir nos mercados financeiros acarreta uma série de riscos que devem ser devidamente avaliados antes de adotada a decisão sobre em que ativos vai ser aplicado o capital. Existem uns mais relevantes do que outros, mas todos merecem atenção cuidada pelos investidores, para que a opção seja a mais acertada e alinhada com as expectativas.
- Risco de capital. Risco de perda total ou parcial do capital investido.
- Risco de crédito. Risco de insolvência da entidade (empresa, país, etc.) onde é aplicado o capital.
- Risco de mercado. Risco de perda de valor de uma aplicação devido a alterações nos preços de mercado.
- Risco de remuneração. Incerteza sobre a evolução do retorno do ativo.
- Risco de liquidez. Risco associado à capacidade de o investidor não conseguir aceder ao capital antes do final do prazo do produto, ou incorrer em custos elevados para o fazer.
- Risco de inflação. Risco de retorno da aplicação ser inferior à evolução dos preços no consumidor, o que implica uma perda do poder de compra.
- Risco cambial. Risco de variação desfavorável da divisa do ativo onde é investido o capital.
O nível de tolerância a estes diferentes riscos (pode consultar aqui com maior detalhe) é fundamental para o investidor encontrar o seu perfil. Se forem avaliados corretamente, a probabilidade de a decisão de investimento ser adequada aumenta substancialmente.
Sendo todos estes riscos relevantes, há uns que são mais descurados do que outros. Os riscos de capital e de mercado são seguidos de perto, enquanto o risco cambial é dos mais negligenciados pelos investidores. Mas como vamos mostrar neste artigo, pode ser determinante no resultado final de uma aplicação financeira.
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Força do euro penaliza
A importância de avaliar o risco cambial é particularmente evidente este ano, pois 2025 está a ser marcado por uma valorização muito acentuada do euro face às principais divisas mundiais. Uma variação que diminui o retorno dos investimentos efetuados pelos europeus em ativos que estão cotados em moeda estrangeira.
O euro acumula uma valorização de 13% face ao dólar em 2025, também marca ganhos de dois dígitos face à moeda japonesa e valorizações um pouco mais contidas no câmbio com a libra esterlina (+6%) e a moeda chinesa (+9%). Variações expressivas que são pouco habituais no mercado cambial e realçam a importância de ter em conta as flutuações das divisas estrangeiras quando se pensa em investir em ativos cotados em divisas que não o euro.
Existe risco cambial no investimento nas várias classes de ativos, sendo que a importância das variações cambiais é ainda mais relevante nas que apresentam um risco geral mais reduzido. Um investidor português (ou outro país da Zona Euro) que comprou obrigações dos Estados Unidos no início do ano perde dinheiro se as vender agora, apesar de os títulos norte-americanos oferecerem uma atrativa rendibilidade em torno de 4%.
No caso das ações, o corte da remuneração também é muito substancial. É necessário um ganho de dois dígitos na cotação de empresas norte-americanas e japonesas em 2025 para compensar o efeito negativo da desvalorização das moedas em que essas empresas são cotadas.
Moedas “comem” retorno
A simulação de uma carteira de investimento em ações internacionais, construída no início de 2025, ajuda a evidenciar como o risco cambial pode ter um papel decisivo no retorno do investimento no mercado de capitais.
Na carteira detalhada na tabela em cima, no início do ano um investidor aplicou em torno de 1.200 euros em cada uma de quatro empresas cotadas nos Estados Unidos, Japão, Reino Unido e China. Analisando as cotações no início de dezembro, o desempenho foi muito favorável, com apenas uma delas a apresentar um saldo negativo. O retorno médio foi de 23%, pelo que o investimento de 5.147 euros gerou um ganho bruto (sem ter em conta comissões, impostos e flutuações cambiais) de quase 1.200 euros, o que corresponde à recuperação do investimento efetuado apenas numa das ações.
Contudo, se esta carteira for alienada nesta altura, o ganho será consideravelmente mais reduzido, refletindo a valorização do euro face às outras moedas. O resultado global é de apenas 700 euros, cerca de 500 euros abaixo do saldo antes de contabilizar o efeito cambial. O retorno da carteira baixa para 14%, o que corresponde a uma diferença de quase 10 pontos percentuais apenas devido à valorização do euro.
A Nvidia valorizou 34% em dólares, mas menos de 20% em euros. A Nissan desvalorizou 21% em ienes, mas a queda é bem mais intensa quando efetuada a conversão para euros (-29%). A queda da libra e do yuan também comeram uma fatia considerável da valorização das ações dos bancos do Reino Unido (Barclays) e China (ICBC).
A simulação em cima foi efetuada com ações, mas também se adequa a todos os outros ativos. Os investidores europeus que subscreveram um fundo de investimento de ações norte-americanas, compraram obrigações japonesas ou efetuaram um depósito bancário no Reino Unido, também estão a ser penalizados pelo efeito cambial em 2025.
Ações europeias mais atrativas
O risco está a ser negativo para os investidores europeus, mas no passado já foi favorável. É por isso que muitos investidores com objetivos de longo prazo ignoram o efeito cambial nas suas carteiras. O que não deixa de ser sempre um risco, mas que o fator tempo ajuda a mitigar.
Para os investidores internacionais que apostaram nas ações europeias, a decisão revelou-se muito acertada. Não só a valorização das cotações foi muito expressiva, como a alta do euro contra as principais divisas tornou o retorno ainda mais substancial. Com uma valorização de 117% em 2025, o Santander é uma das estrelas das bolsas europeias este ano, mas o retorno medido em dólares é ainda mais substancial (145%). O índice espanhol IBEX valoriza 44% este ano, sendo que o retorno em dólares está próximo dos 60%.
A perspetiva de que o dólar ia perder terreno face ao euro devido à incerteza com as políticas de Donald Trump foi um dos trunfos das ações europeias este ano, com os investidores internacionais a verem no efeito cambial uma vantagem para as bolsas da região. De facto, quando o retorno é medido em dólares, no ranking dos 20 índices acionistas com melhor desempenho este ano, metade são europeus.
É por isso que o efeito cambial dos investimentos é um risco, mas também pode representar uma oportunidade. Um investidor que pretende comprar ações e tem uma convicção forte sobre a força de uma determinada moeda, pode optar por aplicar o dinheiro numa empresa cotada desse país, confiando que a variação cambial contribuirá para melhorar o resultado.
Quem estima que uma moeda vai perder valor, também pode tirar partido da tendência. Se contrair um empréstimo nessa divisa, que prevê que vai enfraquecer, pode ganhar quando reembolsar o capital. São opções especulativas que devem ser adotadas com muita cautela. Existem outras formas de mitigar o risco cambial do investimento nos mercados, mas também não são aconselháveis aos investidores de retalho, pois implicam operações complexas.
O mais importante é que quando compra ações internacionais ou outros ativos fora da Zona Euro, o investidor tenha consciência de que a variação da moeda vai ter influência no resultado final e o impacto pode ser substancial. Por isso, além de analisar o ativo em que pretende investir, deve avaliar também quais são as perspetivas para a evolução da moeda em que estão cotados.
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