Imagem de um homem a usar um tablet para investir

A utilização de robo-advisor ainda é residual entre os portugueses. De acordo com o 2.º Barómetro Doutor Finanças, numa edição dedicada aos Hábitos de Investimento, realizado pela Universidade Católica, em parceria com o Doutor Finanças, 95% dos inquiridos nunca usou um robô de investimento e apenas 3% admite já ter recorrido a um robo-advisor. O retrato é claro: é um nicho. O interesse, contudo, cresce à boleia da digitalização e da procura por soluções simples.

Num mercado onde os portugueses privilegiam a segurança, entender o que é um robo-advisor, como funciona, quanto custa e quem o supervisiona é decisivo antes de avançar.

Nste artigo, fique a conhecer o que é um robo-advisor, como funciona e o que tem a ganhar e a perder. Descubra ainda a comparação dos robo-advisors da Revolut, Openbank e Finax — três soluções com presença em Portugal e enquadramento regulatório europeu.

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Robo-advisor: O que é e como funciona?

Um robo-advisor é um serviço de gestão de carteiras automatizado. O investidor responde a um questionário (objetivos, horizonte temporal e tolerância ao risco). A plataforma cria e gere uma carteira, geralmente com ETF e/ou fundos, e faz ajustes periódicos para manter o risco dentro do perfil definido.

A CMVM recorda que a utilização de Inteligência Artificial nos investimentos exige prudência: perguntar, comparar e compreender os riscos continua a ser essencial. Afinal, num investimento com um robo-advisor continua a existir risco de mercado. Por exemplo, carteiras com produtos financeiros de risco elevado têm maior volatilidade e carteiras conservadoras podem perder face à inflação.

Na prática, serviços como os da Revolut e do Openbank prestam gestão discricionária com carteiras modelo diversificadas. O cliente delega as decisões num mandato, podendo consultar a composição, reforçar ou resgatar a qualquer momento. Contudo, fica sujeito às condições pré-contratuais do serviço.

Para quem está em dúvida em usar ou não um robo-advisor, deve primeiro confirmar quem é a entidade responsável e que licença tem.

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Antes de avançar: Como confirmar se a entidade é regulada?

Em Portugal, os serviços de investimento (ex.: receção/transmissão de ordens, gestão de carteiras, consultoria) estão no perímetro da CMVM. Antes de contratar, confirme sempre se a entidade consta dos registos públicos da CMVM (incluindo as que atuam em livre prestação de serviços a partir de outro Estado-membro). Entidades que não constem dos registos não estão autorizadas a prestar serviços de investimento.

No entanto, para ativos virtuais (criptomoedas), o enquadramento é distinto. Em Portugal, o Banco de Portugal mantém o registo de prestadores de serviços de ativos virtuais e informa sobre o âmbito e riscos associados.

Por fim, valide a presença local dos bancos. Para bancos estrangeiros a operar em Portugal (ex.: Openbank), consulte o registo do Banco de Portugal.

Três soluções com presença em Portugal: Uma comparação rápida

Revolut (Revolut Securities Europe UAB)

  • Serviço: gestão automatizada com carteiras modelo.
  • Comissão: 0,75%/ano (cobrada mensalmente; inclui IVA, se aplicável).
  • Proteção do intermediário: o intermediário lituânio assume a responsabilidade perante investidores, até 22.000 euros em caso de insolvência do intermediário e falha na restituição de ativos (não cobre perdas de mercado).

Openbank (Grupo Santander)

  • Serviço: “Investimos por si”, com mínimo de 500 euros e contribuições a partir de 1 euro (execução quando o acumulado atinge 10 euros).
  • Comissão: desde 0,42%/ano (IVA incl.), com escalões que chegam a 1,03% para montantes mais baixos, segundo informação publicamente divulgada.
  • Registo: presença em Portugal registada no Banco de Portugal.

Finax (Finax, o.c.p., a.s. – Eslováquia)

  • Serviço: robo-advisor com carteiras de ETF e ajustes automáticos.
  • Comissão: 1%/ano + IVA (com degraus/descontos).
  • Supervisão e proteção: supervisionada pelo Banco Nacional da Eslováquia; proteção do Investment Guarantee Fund até 50.000 euros (não cobre risco de mercado).

Revolut vs. bancos: Diferenças que contam

Preço efetivo

A Revolut pratica uma taxa de 0,75%/ano. O Openbank adota escalões: 0,42%–1,03%/ano (IVA incluído), variando consoante o montante.

Em carteiras pequenas, o custo do Openbank pode ser mais alto. Mas em carteiras elevadas, tende a descer. Assim, compare a comissão do serviço e os custos internos dos fundos/ETF usados.

Montantes e simplicidade

O Openbank exige 500 euros de entrada e permite reforços mínimos muito baixos. A Revolut publicita adesão e gestão integral na app, com cobrança mensal da comissão, facilitando a experiência para quem já usa a plataforma.

Composição das carteiras

Em ambos os casos a base prende-se a fundos/ETFs com diversificação global. O Openbank destaca seleção com apoio de gestoras (Santander AM/BlackRock). A Revolut cobra a mesma taxa a todos os perfis e detalha custos.

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Enquadramento e proteção

A Revolut Securities Europe UAB opera sob o passaporte MiFID e integra uma proteção até 22.000 euros para falhas do intermediário. O Openbank é um banco do Grupo Santander, com registo no Banco de Portugal, oferecendo o serviço de investimento sob supervisão espanhola (CNMV) e enquadramento europeu.

FINAX também é uma opção regulada na UE

A Finax é uma empresa de investimento eslovaca (Finax, o.c.p., a.s.), supervisionada pelo Banco Nacional da Eslováquia e com atuação transfronteiriça na UE. O serviço assenta em carteiras de ETF globais e oferece planos por objetivo. A comissão-padrão comunicada é 1%/ano (+ IVA), com descontos para patrimónios mais elevados.

Como referido, existe a indicação de proteção até 50.000 euros pelo fundo de garantia de investidores local. Contudo, tal como nas soluções anteriores, este fundo não cobre o risco de mercado. Para perceber se esta solução é vantajosa, deve comparar os custos efetivos do seu investimento.

Prós: Quando o robo-advisor pode fazer sentido

Simplicidade

A entrada é intuitiva. Já o processo é rápido, digital e com regras de gestão claras. O questionário de adequação define metas e perfil e a plataforma executa e ajusta. Em alguns casos, a gestão é automatizada por equipas qualificadas e/ou comitês de investimento, sendo o principal apoio tecnológico.

Para quem não tem tempo e/ou está a dar os primeiros passos no mundo dos investimentos, é um atalho útil para diversificar sem complexidade.

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Diversificação automática

As carteiras usam ETF/fundos para obter exposição global a ações e obrigações em diferentes geografias e setores, reduzindo o risco específico de um único ativo.

Ajustes periódicos, sem esforço do cliente

A manutenção do risco alvo implica ajustes automáticos da carteira quando necessário, sem que o cliente tenha de decidir o momento certo. Em linguagem simples, a carteira é “afinada” para não se desviar do perfil definido.

Custos previsíveis

Modelos de comissão simples ajudam a antecipar o encargo anual. A Revolut aplica 0,75%/ano (mais IVA aplicável), enquanto o Openbank pratica escalões entre 0,42% e 1,03%/ano (IVA incluído), consoante o montante investido. Também pode contar com 1% + IVA na Finax, com eventuais descontos por patamares.

Acessibilidade

Para quem não tem milhares de euros para começar uma carteira de investimentos, os robo-advirsors permitem começar um investimento com um mínimo mais moderado. Além disso, tem a possibilidade de fazer reforços com um valor simbólico.

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Contras: o que deve ponderar com cuidado

Custo total tem duas camadas

Além da comissão do robo-advisor, cada ETF/fundo cobra despesas internas. Em Portugal, a CMVM designa-as por Taxa de Encargos Correntes (TEC/TER) — a percentagem anual que o fundo retém para pagar gestão, auditoria, custódia, entre outros. Não é debitada à parte. Ou seja, impacta a rentabilidade do fundo. Compare sempre a comissão do serviço com a TEC/TER dos fundos usados.

Exemplo: uma TEC/TER de 0,20% significa que, por cada 1.000 euros investidos no fundo, cerca de 2 €/ano são consumidos em encargos correntes do próprio fundo.

Menor personalização

Embora exista a personalização por perfil, a flexibilidade é limitada face à construção manual de carteiras. Isto significa que não há liberdade de construir posição a posição. Certas preferências (ex.: excluir setores específicos) podem não estar disponíveis em todos os serviços.

Sem garantias de rendibilidade

Ao utilizar um robo-advisor para os seus investimentos não há garantias de rendibilidade. Quem investe pode ganhar ou perder dinheiro, inclusive no final de um ano. É crucial validar o horizonte temporal e o perfil de risco. Por isso, tenha em consideração que a tecnologia não elimina o risco de mercado.

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Dependência das regras da entidade e do país de origem

A proteção do investidor varia conforme a jurisdição e o tipo de entidade.

Na Revolut Securities Europe UAB (Lituânia), existe um regime de seguro de responsabilidades perante investidores até 22.000 euros em caso de insolvência da intermediária e falha na restituição de ativos (não cobre perdas de mercado). Na Finax (Eslováquia), a proteção indicada é até 50.000 euros pelo fundo de garantia local.

É fundamental verificar as condições contratuais de cada serviço para assegurar os seus direitos.

Alertas de entidades reguladoras sobre os riscos

A Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM) e a Autoridade Europeia dos Valores Mobiliários e dos Mercados (ESMA) publicaram um comunicado sobre os riscos de investir através de IA. Na nota divulgada é possível ler “não obstante o seu potencial inovador, estas ferramentas podem gerar aconselhamento impreciso ou enganador, conduzindo a decisões de investimento inadequadas e a perdas financeiras significativas“.

As duas entidades sublinham ainda: “a imprecisão das previsões geradas por IA pode ser significativa, pelo que a dependência exclusiva destas ferramentas pode conduzir a perdas financeiras substanciais“.

O que considerar antes de usar um robo-advisor

  • Adequação. Esclareça para quê investe (fundo de emergência, médio prazo, reforma) e por quanto tempo. Confirme que o perfil atribuído corresponde à sua tolerância a perdas e à volatilidade esperada. A legislação MiFID exige que o intermediário avalie a adequação. (Valide os resultados do teste e peça esclarecimentos se algo não “bater certo”).
  • Custos em euros. Peça a simulação anual da comissão do serviço e some a TEC/TER estimada dos fundos/ETF usados. Veja se a comissão do serviço inclui IVA e com que taxa.
  • Montantes, reforços e liquidez. Há mínimo inicial? Pode reforçar com quantias pequenas? Existem custos de saída?
  • Quem guarda os seus ativos e qual a proteção. Peça por escrito: quem é o custodiante, sob que jurisdição e qual o mecanismo de proteção aplicável ao intermediário (e limites), mas não confunda esta com a proteção de mercado.
  • O que entra na carteira e como é ajustada. São ETF ou fundos? Há preferência ESG? Com que frequência são feitos ajustes? Há derivados? Existem documentos sobre custos e riscos?
  • Documentação e suporte. Confirme contratos, preçários, políticas de conflito de interesses e canais de reclamação. Verifique também se a entidade consta das listas públicas, tanto no Portal do Investidor da CMVM como no Banco de Portugal (VASP).

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Para quem faz sentido usar um robo-advisor?

Os investidores iniciantes são o público-alvo mais óbvio. Quem não tem tempo ou conhecimentos técnicos pode delegar a gestão e ainda assim manter o dinheiro aplicado de forma diversificada. Também é útil para pessoas ocupadas que não querem acompanhar diariamente os mercados, mas pretendem investir a médio e longo prazo. Porém, é preciso ter em conta os riscos associados.

Já para investidores com património elevado ou necessidades complexas – como planeamento fiscal detalhado ou sucessório – um robo-advisor pode revelar-se insuficiente. Nestes casos, o acompanhamento de um consultor humano continua a ser essencial.

Uma ferramenta útil, mas com limites claros

Os robo-advisors trouxeram para Portugal uma forma mais acessível e digital de investir. Permitem diversificar carteiras, automatizar decisões e reduzir custos, sendo uma alternativa interessante aos consultores tradicionais.

Contudo, não são uma solução milagrosa. A falta de flexibilidade, as taxas implícitas e o risco inerente aos mercados devem ser ponderados. Um robo-advisor pode ser um aliado na construção de poupanças de longo prazo, mas apenas se o investidor tiver consciência de que não há garantias de retorno.

No final, a escolha deve ser feita de forma informada: comparar plataformas, avaliar taxas e confirmar a regulação são passos fundamentais antes de confiar o seu dinheiro a um algoritmo.

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A informação que consta no artigo não é vinculativa e não invalida a leitura integral de documentos que suportem a matéria em causa.

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