Montagem de uma casa modular pré-fabricada no terreno do comprador

A subida do preço das casas em Portugal não tem dado tréguas. Os valores continuam a aumentar, mês após mês, e a compra de uma habitação tradicional está cada vez mais fora do alcance de muitas famílias. Neste cenário, as casas pré-fabricadas e modulares surgem como alternativa. Prometem rapidez, eficiência energética e custos, à partida, mais acessíveis.

Mas será que são mesmo mais baratas? Quais as regras a cumprir? E que riscos deve ter em conta antes de avançar? Este artigo mostra-lhe tudo: os custos reais, as diferenças entre casas pré-fabricadas e modulares, os documentos necessários, as vantagens e desvantagens e até as dificuldades no financiamento.

Casas pré-fabricadas e modulares: O que as distingue de outras habitações?

As casas pré-fabricadas e modulares deixaram de ser soluções provisórias para se afirmarem como uma opção moderna e sustentável no mercado português. Muitos anúncios tratam as duas opções como se fossem sinónimos. Mas não são.

Uma casa pré-fabricada é construída quase na totalidade em fábrica. Chega ao terreno em grandes blocos ou até em peça única, pronta a ser instalada e ligada às redes de água, saneamento e eletricidade. É como receber uma casa pronta, colocada no local definitivo.

Já uma casa modular também é fabricada em ambiente controlado, mas em módulos independentes. Cada peça corresponde a uma divisão: sala, quarto, cozinha, casa de banho, etc. No terreno, esses módulos são montados como peças de LEGO. Esta montagem permite maior flexibilidade: é possível acrescentar novos módulos no futuro, adaptar espaços ou criar projetos mais personalizados.

Em resumo, a diferença está na forma de transporte e montagem. As pré-fabricadas chegam quase prontas. As modulares são montadas por fases no local.

Licenciamento: Não há atalhos na burocracia

Um dos mitos mais comuns é pensar que, por serem construções rápidas, dispensam burocracia. Não é verdade.

Segundo o Regime Jurídico da Urbanização e Edificação (RJUE), atualizado em 2024, qualquer estrutura ligada ao solo para fins de habitação é considerada uma edificação. Mesmo que tenha rodas, fundações leves ou seja desmontável, precisa sempre de licenciamento.

Quem optar por casas pré-fabricadas e modulares tem de seguir os mesmos passos de uma construção tradicional:

  • Submissão do projeto de arquitetura à Câmara Municipal.
  • Entrega dos projetos de especialidades (esgotos, eletricidade, gás, água).
  • Pedido de licença de construção antes do início da obra.
  • Obtenção da licença de habitação após vistoria final da autarquia.
  • Registo do imóvel na Conservatória do Registo Predial e comunicação à Autoridade Tributária.

Além disso, o terreno deve estar apto para construção. Precisa de respeitar o Plano Diretor Municipal, não pode estar em áreas protegidas como RAN ou REN, e deve ter acesso a infraestruturas básicas, como água, eletricidade e acessos rodoviários.

Ou seja: mesmo que a casa chegue pronta de fábrica, o processo legal não tem atalhos.

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Quanto custa realmente viver numa casa pré-fabricada?

O preço é o grande atrativo. Mas, tal como acontece numa casa tradicional, o valor final depende de vários fatores: tipo de material, acabamentos, empresa responsável e localização do terreno.

Em Portugal, os preços médios por metro quadrado rondam:

  • Madeira: entre 600 e 1.000 euros.
  • Aço leve (light steel frame): entre 800 e 1.200 euros.
  • Betão: entre 1.000 e 1.500 euros.
  • Projetos premium: acima dos 2.000 euros.

Assim, uma casa com 100 m² pode custar entre 60.000 e 200.000 euros.

Custos escondidos que não pode ignorar

Ao valor do metro quadrado, é preciso somar várias despesas adicionais.

  • Terreno: em zonas afastadas das grandes cidades, pode encontrar preços a partir de 20.000 euros. Já nas periferias, os valores podem ultrapassar os 80.000 euros.
  • Licenciamento e projetos: entre 3.000 e 7.000 euros.
  • Fundações e preparação do terreno: variam entre 5.000 e 15.000 euros.
  • Ligações às redes públicas: rondam entre 2.000 e 8.000 euros.
  • Transporte dos módulos: pode começar nos 2.000 euros, mas em alguns casos chega aos 6.000 euros.
  • Montagem no local: em média, 7.500 euros, mas pode oscilar entre 5.000 e 10.000 euros.

Somados todos os encargos, o custo final pode aproximar-se bastante de uma construção tradicional. A diferença está na rapidez e na previsibilidade do orçamento, já que muitas empresas fecham o preço antes de iniciar a obra.

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Módulo de casa pré-fabricada em construção na fábrica

O que ter em conta antes de escolher a sua casa

Optar por casas pré-fabricadas e modulares é muito mais do que escolher um design bonito. Existem critérios técnicos e práticos que podem fazer toda a diferença.

Fabricante

Deve escolher empresas com reputação sólida, experiência comprovada e boas referências. Marcas como Goodmood, KITUR, VanguardOption, Fábrica das Casas e Rusticasa são algumas das mais conhecidas em Portugal.

Projeto arquitetónico

Há opções clássicas, modernas, rústicas ou urbanas. No entanto, em muitas localizações terá de respeitar regras urbanísticas definidas pela Câmara Municipal.

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Manutenção

Casas em madeira exigem cuidados regulares de tratamento e proteção. Outras estruturas, como aço ou betão, requerem menos manutenção.

Certificação energética e térmica

A certificação energética e térmica é um ponto essencial para conforto, sustentabilidade e poupança. Por isso, deve certificar-se da mesma, antes de avançar com o contrato.

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Localização e terreno

Se não tem terreno, terá de comprar. E atenção: nem todos são legalmente aptos para construção. É essencial informar-se sobre as caraterísticas do terreno. Dê preferência aos terrenos urbanos. A seguir, avalie a documentação do terreno e certifique-se junto da Câmara Municipal sobre a viabilidade para construção e os limites da área para implementação da casa.

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Casa pré-fabricada em ambiente de fábrica

Casas modulares: Flexibilidade e modernidade

As casas modulares têm ganho destaque em Portugal pela rapidez de construção e versatilidade.

Produzidas em fábrica, chegam em módulos prontos e são montadas no terreno em poucas semanas. Este método reduz erros, aumenta a qualidade e permite grande flexibilidade no design. Se precisar de mais espaço no futuro, basta acrescentar novos módulos.

Outro ponto forte é a sustentabilidade. As casas modulares são concebidas com técnicas de baixo impacto ambiental, menor desperdício de materiais e maior eficiência energética. Isso traduz-se em conforto térmico e contas de energia mais baixas.

Mas também há limitações. O transporte e montagem dos módulos exigem maquinaria especializada e logística complexa. Além disso, o design pode ser limitado pelas dimensões dos módulos, o que exige planeamento cuidadoso.

Casas pré-fabricadas: Tradição e acessibilidade

As casas pré-fabricadas têm uma longa história em Portugal. Foram usadas em habitação social, em zonas de catástrofe e até em projetos turísticos.

São construídas com componentes preparados em fábrica e montados no local. Podem ser em painéis estruturais, kits pré-cortados ou estruturas de madeira.

A grande vantagem está no custo inicial, muitas vezes mais baixo do que o das casas tradicionais. A rapidez de execução é outro fator decisivo: em poucos meses, pode ter a casa pronta.

Ainda assim, há limitações. Muitas opções são menos personalizáveis e, em alguns casos, apresentam menor durabilidade ou isolamento térmico. É essencial analisar com atenção os materiais e técnicas utilizadas.

Casas pré-fabricadas vs. modulares: Qual a melhor escolha?

A decisão depende do que valoriza mais: rapidez, flexibilidade, personalização ou custo.

  • Custo: pré-fabricadas tendem a ser mais baratas no arranque. As modulares podem ser mais caras, mas compensam na eficiência energética e manutenção a longo prazo.
  • Tempo de construção: modulares ficam prontas em poucas semanas. Pré-fabricadas e tradicionais podem levar meses.
  • Sustentabilidade: ambas são mais ecológicas do que a construção tradicional.
  • Personalização: modulares permitem maior flexibilidade. Pré-fabricadas oferecem soluções mais padronizadas.

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Financiamento: Os bancos ainda levantam barreiras?

O acesso a crédito continua a ser uma das maiores dificuldades. Nem todas as instituições bancárias aceitam financiar este tipo de habitação.

Atualmente, a Caixa Geral de Depósitos (CGD) é o único banco com um produto específico: o Crédito Habitação – Casas Pré-Fabricadas. As condições são as seguintes:

  • Prazo máximo: 25 anos, desde que os titulares não ultrapassem 75 anos no final do contrato.
  • Montante mínimo: 5.000 euros.
  • Montante máximo:
    • Habitação própria permanente: até 80% do valor de avaliação (ou 90% do investimento, se inferior).
    • Habitação secundária: até 80% do valor de avaliação e investimento.

Nota: Na prática, a regra dos 90% raramente se aplica. O mais comum é o limite de 80%, tal como acontece em créditos habitação para uma segunda habitação.

A CGD exige ainda a hipoteca da casa e pode reduzir o spread se o cliente subscrever outros produtos do banco.

Em outros bancos, pode haver a possibilidade conseguir um financiamento através de um crédito habitação. Porém, as condições não serão tão vantajosas. Nos restantes bancos, o financiamento é possível, mas o comprador é remetido para um crédito pessoal, com prazos mais curtos e taxas de juro mais altas. Isto pode encarecer muito o custo final.

Casa pré-fabricada num terreno rural

Seguros: Nem sempre são simples de contratar

Outra barreira são os seguros. Nem todas as seguradoras oferecem seguro multirriscos ou de vida para este tipo de casas, sobretudo quando são construídas em madeira ou outros materiais considerados menos duráveis.

Na prática, os prémios podem ser mais altos ou as condições mais restritivas do que numa habitação tradicional.

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Vantagens que pesam na decisão

As casas pré-fabricadas e modulares têm várias vantagens que ajudam a explicar o seu crescimento em Portugal.

  • Tempo de construção reduzido: podem ficar prontas em três a seis meses;
  • Maior eficiência energética: muitas já incluem isolamento avançado ou soluções de energias renováveis;
  • Sustentabilidade: menos desperdício e menor impacto ambiental;
  • Flexibilidade: possibilidade de acrescentar módulos no futuro;
  • Orçamento controlado: preço mais previsível, definido antes da obra;
  • Qualidade de fábrica: produzidas em ambiente controlado, com menor margem de erro.

Os riscos que não pode ignorar

Nem tudo são vantagens. Há riscos que devem ser analisados com atenção.

  • Financiamento mais difícil: poucas soluções bancárias dedicadas e limites de financiamento mais baixos.
  • Adiantamentos elevados: muitas empresas exigem pagamentos antecipados antes da entrega.
  • Custos extra ocultos: transporte, fundações e ligações podem não estar incluídos no orçamento inicial.
  • Licenciamento demorado: o processo camarário demora tanto como numa casa tradicional.
  • Menor liberdade criativa: nos modelos mais económicos, a personalização é limitada.
  • Seguro mais caro ou restrito: algumas seguradoras recusam coberturas para este tipo de construção.

Quem avança sem verificar estes pontos pode transformar uma solução prática num pesadelo financeiro.

Casas pré-fabricadas vs. tradicionais: Qual compensa mais?

À primeira vista, as pré-fabricadas parecem muito mais baratas. Mas quando se somam terreno, licenciamento e custos adicionais, a diferença encolhe.

As casas tradicionais continuam a ter maior aceitação nos bancos, seguros mais acessíveis e maior valorização no mercado imobiliário.

Ainda assim, para quem valoriza rapidez, sustentabilidade e um orçamento previsível, as casas pré-fabricadas e modulares podem ser a escolha certa. Especialmente para famílias com capital próprio, que não dependem tanto do crédito bancário.

Vale a pena apostar nestes “novos” modelos de habitação?

A resposta depende do seu perfil, necessidades e no estado das finanças pessoais.

  • Se procura rapidez, sustentabilidade e não quer surpresas nos custos, as casas pré-fabricadas e modulares são uma solução moderna e viável.
  • Se precisa de crédito habitação, flexibilidade total no design e segurança na valorização, a casa tradicional continua a ser mais segura.

Em qualquer dos casos, o essencial é comparar propostas, avaliar a reputação da empresa e analisar com atenção o contrato antes de assinar. Afinal, trata-se do maior investimento da vida de muitas famílias.

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A informação que consta no artigo não é vinculativa e não invalida a leitura integral de documentos que suportem a matéria em causa.

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